Estreia essa semana “Em Um Lugar Bem Longe Daqui”, filme baseado no livro de Delia Owens e estrelado por Daisy Edgar-Jones. Um filme que nos faz repensar se a felicidade pode existir sem a liberdade. Com direção de Olivia Newman e roteiro de Lucy Alibar, o filme fala sobre amor, sobrevivência e esperança.
Uma garota abandonada pela própria família precisa descobrir como sobreviver em uma pequena casa no pântano da Carolina do Norte. Criada em um lar violento, com um pai alcoólatra e agressivo, a pequena Kaya (Jojo Regina) vê aos poucos sua vida esvaindo. Primeiro sua mãe, na tentativa de sobreviver decide ir embora, e após ela, um a um dos irmãos vão fugindo. No fim, a pequena Kaya se vê sozinha ao lado do pai, que acaba por ir embora também.
Kaya é uma amante da natureza e aprende desde cedo a tirar seu sustento do brejo e do pântano. O filme faz questão de diferenciar um do outro. Ela encontra consolo e apoio em um casal de comerciantes negros, Mabel e Jumpin, que ajudam ela a ter uma vida com um pouco mais de qualidade de conforto. Ela aprende a não confiar nas pessoas, mas acaba se apaixonando por um garoto local, Tate Walker, que se torna seu primeiro namorado e seu primeiro amor.
O filme acontece com duas histórias sendo contadas paralelamente, a vida de Kaya é contada lado a lado com a investigação de um assassinato ao qual ela é a principal suspeita. Enquanto podemos ver todos os desafios impostos pela vida a ela, do outro lado vemos que a sociedade local a despreza e a culpa pela morte de um jovem figurão da cidade. Esse jovem é Chase Andrews, um rapaz agressivo com quem Kaya acabou se relacionando após ser largada por Tate.
Roteiro fraco e desajeitado atrapalha a consistência da história
O roteiro de Lucy é bem complexo, e talvez por isso o filme, que tem mais de 2 horas de duração acaba por se tornar cansativo. Note, filmes baseados em livros costumam ter esse problema, afinal, adaptar uma obra literária sem perder os principais detalhes é complexo. O problema talvez aqui seja o fato das escolhas da diretora, sobre o que mostrar na tela. Até mesmo a inserção de Kaya é problemática, acompanhamos a infância dela sem entender muito bem o que está acontecendo, quando de repente já é apresentada a versão adulta.
Da mesma forma, há uma correria exagerada no final para entregar o que de fato aconteceu com ela e com seus amores.
A respeito das atuações, Daisy Edgar-Jones é muito boa atriz. Ela entrega uma atuação dentro do que se espera para o tipo de personagem que ela interpreta. Com poucos filmes em seu currículo, a garota mostra que sabe como trazer emoção para a tela. Claro, nada surpreendente. A sua versão criança, interpretada por Jojo Regina é tão boa quanto a versão adulta, e convence bem na tela. A decepção aqui fica para os pares amorosos. Taylor John Smith que interpreta Tate parece deslocado durante as principais cenas. Ora, se ele é o grande amor da vida de Kaya era de se esperar dele uma atuação muito mais imponente, mais convincente. Taylor não é um iniciante, ele trabalhou em grandes filmes como Agente das Sombras e Fúria em Alto Mar.
Da mesma forma Harris Dickinson, que diferente de Taylor, parece ser subutilizado. Ele é um ator experiente, atuou em King’s Man, Malévola e Mentes Sombrias. Mas nenhum dos dois se colocam como par amoroso convincente, que gere aquele sentimento de simpatia por parte de quem assiste. É inevitável não comparar com outros romances complexos como os de Nicholas Sparks, em que o espectador consegue se conectar com os casais.
Filme se atrapalha no Julgamento de Kaya
Ainda sobre a história, toda a parte do julgamento é descartável. Não tenho como comparar com o livro, mas pelo que se apresenta em tela, nada daquilo faz sentido. Os depoimentos não se sustentam, os flashbacks por si só elucidam o caso, ou no mínimo anulam a versão do crime premeditado. Fora que perderam a oportunidade de trazer mais emoção para o filme. Kaya simplesmente não está nem aí para o julgamento, ela não reage, ela não se defende. Considerando o final, simplesmente não faz sentido ela agir assim.
Agora, o ponto mais alto é a fotografia. Impecável. Basta essa palavra para descrever como foi brilhante as escolhas de lentes, de cores, dos cortes finais, das tomadas em planos abertos valorizando os pântanos, e os fechados valorizando os trabalhos de Kaya como pintora.
Por fim, o resultado é positivo. A somatórias dos fatores faz com que “Em Um Lugar Bem Longe Daqui” seja um filme agradável, com lições importantes sobre violência contra a mulher, sobre feminismo (mesmo sem abordar o tema de forma direta), e sobre liberdade.