Com Bruna Linzmeyer à frente do elenco, “Virtuosas” explora o conservadorismo e a liberdade com toque de brasilidade
“Virtuosas” explora o conservadorismo, a religião e o papel da mulher na sociedade com um toque único de brasilidade. O longa-metragem, roteirizado e dirigido por Cíntia Domit Bittar, usa de um humor ácido e do elemento do absurdo para comentar sobre os rastros deixados por um discurso opressor – e do perigo que uma minoria o assumindo pode gerar.
Dessa forma, o filme conta a história de um grupo de mulheres cristãs que buscam a evolução espiritual em um retiro de luxo. Essa imersão religiosa é comandada por Virgínia Heinzel, interpretada pela elétrica Bruna Linzmeyer. A partir daí, a experiência dessas personagens se torna cada vez mais intensa e descontrolada, atingindo um exagero que o filme conduz com precisão.
O roteiro sagaz e a direção precisa do longa acompanham o caminho até a loucura de um grupo de cinco mulheres – que talvez não compartilhem dos mesmos valores no fim do dia. Em resumo, o frenesi é desencadeado a partir da discussão sobre a lenda de uma bruxa local. Então, o que era sobrenatural começa a realçar as tensões entre o controle e a opressão.
Mulheres contando a história de mulheres
É interessante notar como essa história funciona, no seu melhor, por ser comandada por mulheres. Dessa forma, fica claro que o centro da narrativa não é necessariamente comentar sobre o gênero de forma geral, porque esse já é familiar. A proposta do longa é usar da perspectiva feminina, sempre atenta e honesta, para tratar de assuntos pertinentes à luta – a repressão religiosa e a omissão de liberdade.
Desde a construção da narrativa, até o desenvolvimento das atuações, parece existir uma ideia clara do que o filme busca falar – e essa obviedade por vezes atua como o calcanhar de Aquiles da obra, mas na maior parte funciona a seu favor.
Quando observados ao mesmo tempo, todos esses elementos atuam em colaboração para deixar o caráter absurdo de um culto feminino cristão tão escancarado que a comicidade do assunto vem fácil para o espectador.
Além disso, é interessante como o poder é abordado em “Virtuosas”. Enquanto algumas personagens forçam um empoderamento na submissão, outras explodem no primeiro momento conflituoso. Assim, a ideia de que existe um poder natural na mulher que aceita o seu papel denominado pela bíblia cai por terra ao longo da narrativa, que já começa em uma terreno instável.
No que “Virtuosas” acerta
Um dos grandes acertos do filme está na interpretação da protagonista, que carrega a narrativa com maestria. Acompanhada de atuações interessantes de Maria Galant e Brisa Marques, Linzmeyer serve como o coração do filme. Só ela sabe dizer tanto com o colocar do cabelo atrás das orelhas.
De uma frieza exemplar e um autocontrole impressionante, ela simboliza a luta entre a liberdade e a segurança de um discurso já estabelecido. Assim, a cadência da sua voz e a intensidade do seu olhar sobressaem qualquer tropeço ou exagero – que, de novo, agrega mais do que atrapalha.
Além disso, é importante destacar a equipe que cuida do som do filme, composta por Daniel Becker, Pedro Salles Santiago e Tiago Bello. Nesse sentido, o trio soube dosar a tensão musical na medida certa. Até se o roteiro é óbvio demais em alguma cena, a composição intensa te traz de volta para a narrativa.
Vale a pena assistir?
Com certeza. “Virtuosas” é um filme que busca aproximar o povo brasileiro do gênero do terror psicológico de uma maneira original e intrigante. Com odes à movimentos políticos e elementos culturais reconhecíveis, o longa inclui o Brasil no mapa do terror. E faz isso com humor e identidade.
Por fim, ”Virtuosas” está em exibição no Festival do Rio 2025. O filme fica em cartaz no dia 11/10, no Cine Odeon – CCLSR, e no dia 12/10, no Cinesystem Belas Artes.
Imagem da capa: Festival do Rio
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