Entre Dois Mundos“, dirigido por Emmanuel Carrère e com Juliette Binoche no papel principal, é um filme que acerta em cheio no que se propõe. Ele nos joga de cabeça numa história que realmente mexe com a gente.

No filme acompanhamos Marianne Winckler, uma escritora que resolve fazer uma coisa bem diferente: ela se disfarça para trabalhar nos empregos mais barra-pesada e desgastantes. A ideia dela é sentir na pele como é a vida dura, o salário baixo e os perrengues que esses trabalhadores enfrentam no dia a dia, coisas que muita gente nem percebe. Só que a coisa vai além de só anotar informações. Quando Marianne entra de verdade nesse mundo, ela acaba se conectando com as pessoas, suas histórias, seus sofrimentos e sua força. Aí é que o filme ganha pontos, mostrando os conflitos da escritora, que vê aquelas pessoas não mais como simples pesquisa, mas como seres humanos de verdade.

‘Entre Dois Mundos’ (Le Quai De Ouistreham) de Emmanuel Carrère, com Juliette Binoche
Foto: Divulgação

A verdade do trabalho na tela?

Assim, “Entre Dois Mundos” escancara a realidade nua e crua da desigualdade social. Mesmo sendo na França, a gente reconhece isso em qualquer lugar onde existe essa divisão. O filme nos faz pensar sobre aqueles trabalhos que ninguém quer, mas que muita gente tem que pegar para sustentar a família. Ele também mostra como a falta de estudo ou de apoio da família piora a situação, e como as instituições parecem não ajudar muito. Pior, existe um mercado que se aproveita dessa mão de obra, mantendo as pessoas presas nessa vida.

A fotografia do filme é bem próxima, mais fechada. O diretor foca mais em mostrar o ambiente e as pessoas interagindo, em vez de mostrar paisagens ou dar muito close. Isso faz parecer um documentário, como se a gente estivesse espiando o dia a dia, mas com aquele toque do cinema francês característico.

Mas o roteiro dá umas escorregadas. Tem horas que ele joga umas informações na tela e que depois não desenvolve direito. Um exemplo é a relação da Marianne com o pai dela; ele morre no filme e pronto, a história não mostra mais nada sobre isso. É só um exemplo dessas pontas soltas que, mesmo sendo meio típicas desse cinema francês, incomodam um pouco quem gosta de ver as coisas mais amarradas.

Tirando esses detalhes, “Entre Dois Mundos” é um drama com um toque de comédia que manda bem na sua mensagem e faz a gente pensar. O filme cumpre o que promete, mostrando uma realidade que muita gente ignora. Ah, e eu curti bastante o final. Mesmo não sendo todo fechadinho, ele é bom e fecha bem a história.