Estreia esta semana o filme “Eu Sou Maria”, dirigido por Clara Linhart, que nos conduz a conhecer a história de Maria, uma jovem de 15 anos moradora de uma comunidade, que sonha em transformar seu destino por meio da educação. Esta envolvente narrativa, contemporânea e com um elenco de estrelas, revela que o Brasil ainda não investe no essencial: a educação.
A história de Maria
Maria, uma adolescente de 15 anos residente na comunidade de São Gonçalo e filha de uma mãe solo, nutre o desejo de estudar em um colégio de elite. Assim como diversas Marias espalhadas pelo país, esta jovem não planeja desistir, mas engana-se quem pensa que seu caminho será fácil. O roteiro enfatiza que Maria almeja para o seu futuro algo distinto do que ela vivencia diariamente em sua comunidade. Ela busca escapar do que alguns consideram ser o destino tradicional para uma jovem da favela.
“Eu Sou Maria” é inspirado nos resultados da plataforma “Almanaque da Rede”, criada pela roteirista Sonia Rodrigues para ensinar redação no ensino médio público do Rio de Janeiro. Apesar de não abordar explicitamente, o filme constitui uma crítica social contundente ao sistema educacional, que falha em proporcionar as mesmas oportunidades aos alunos quando comparados aos das escolas particulares.
Maria ingressa em um colégio particular graças à sua redação, utilizando conhecimento e coragem para expressar a verdade. Além do clichê de superar desafios, bullying e paixões adolescentes, o filme oferece muito mais. Ao abordar sem receios questões cruciais como a evasão escolar entre jovens e o futuro sombrio de crianças e adolescentes envolvidos no tráfico, o longa está longe de ser superficial, embora evite tocar nas feridas mais profundas.
As atuações surpreendem, não tanto pelas estrelas, mas pela jovem Núbia Maurício, que interpreta Maria.
Apesar de contar com um elenco estelar, composto por Cleo Pires, Daniel Dantas, Pablo Sanábio e Drico Alves, o roteiro não proporciona complexidade para suas atuações. Na verdade, é quase decepcionante observar as linhas de diálogo de Cleo e Dantas, por exemplo, que carecem de profundidade ou importância. Um desperdício.
Contudo, é importante ressaltar que, por outro lado, o tempo de tela dedicado aos atores menos conhecidos não é mal utilizado. Núbia entrega uma interpretação marcante de Maria, demonstrando consciência do que precisa transmitir na tela, convencendo-nos de suas amarguras, sonhos e frustrações. Esta é sua primeira oportunidade como protagonista, e ela não a desperdiça.
Roteiro deixa de lado grandes debates
Apesar de abordar um tema importante e profundo, o roteiro evita aprofundar-se. A sensação é que estabeleceram limites, uma linha que não desejavam ultrapassar. Ao criar tantas barreiras, o filme apresenta lacunas existenciais significativas. Personagens têm suas histórias apenas parcialmente contadas, e até mesmo a educação pública não é discutida com a profundidade que o filme se propõe. No final, a história se limita àquela de Maria, quando poderia ser, na verdade, a de diversas outras.
De toda forma, é preciso mencionar que é um belo filme, com uma fotografia moderna e uma boa execução técnica. Sim, vale a pena assistir, refletir, absorver o que é possível e desfrutar de um bom momento no cinema.