As emoções humanas são sempre algo que dão sentido às narrativas que absorvemos diariamente. É por elas que nós exploramos lugares dentro de cada uma dessas histórias que levam a uma reflexão. Em obras cinematográficas isso é evidente e é um elemento latente quando o assunto é falar sobre a vivência de um personagem.
O filme Norueguês “Ficaremos Bem”, baseado em um história real e que foi indicado para disputar uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2021, tem uma proposta bem profunda, que explora as emoções de personagens, em que a narrativa tinha tudo para ser o mais clichê possível, mas que conseguiu ir por caminhos mais intensos e que nos chamam a atenção, fazendo com que seja um filme diferente e até mesmo “difícil de engolir”.
Dirigido por Maria Sødahl, o longa tem lançamento previsto para amanhã, dia 1º de outubro, e estará disponível para compra ou aluguel nas plataformas digitais Amazon Prime, Claro Now, iTunes/Apple TV, Google Play, Vivo Play e YouTube Filmes.
Sinopse:
Juntos há 20 anos, um casal que se desconectou ao longo do tempo recebe uma difícil notícia que impactará toda a família. Enquanto tentam absorver as mudanças, eles acabam reencontrando o amor que sentem um pelo outro.
“Ficaremos Bem” é um drama que envolve questões familiares e um casal que está em grande crise. Mas a notícia de que Anja (vivida pela atriz norueguesa Andrea Bræin Hovig) está com um câncer cerebral terminal, faz com que algumas questões dentro do relacionamento sejam revisitadas e colocadas em questão diante do desgaste de 20 anos entre Anja e Tomas (interpretado por Stellan Skarsgård).
O filme é sincero e sensível em cada detalhe que aborda. Enquanto assistimos, temos a sensação de estar na pele da protagonista, pois os sons ambientes e a forma poética em que as imagens são passadas, transparecem diante de nós a dor de contar para a família o diagnóstico da doença, e como a vida de cada um que ela ama ficará. Em grande parte, o filme mostra o fato de que Anja compartilha e vive cada momento ao lado do marido, trazendo à tona questões até então não discutidas sobre o relacionamento dos dois. Desde o princípio, quando ele a acompanha ao médico, é o primeiro a saber sobre o diagnóstico junto a ela. Fica ainda mais intenso o fato de tudo acontecer durante a época do natal.
Apesar de parecer um clichê, o filme não tem um aspecto comum. Para deixar mais intenso não há trilha sonora, o que é um elemento que traz muito da proposta real da direção. O que nos guia são os sons das ações de cada cena e os diálogos, nos dando uma sensação de maior realidade, dialogando com a vida, especialmente nos detalhes de um casal que aparentemente ficou por tanto tempo junto por obrigação.
Os diálogos são feitos não com o objetivo de gerar emoções que colocamos como “belas”, mas sim com a sinceridade de alguém que está cansada e com o pensamento de estar prestes a morrer. As ações chegam a ser até mesmo cruas e rápidas. Muitas vezes esperamos uma atitude diferente, mas as situações acabam caminhando para um outro lado na construção da história, o que nos instiga e faz querer até um pouco mais de sensibilidade dos personagens, diante do senso que o ser humano tem de buscar detalhes belos das histórias que consumimos no entretenimento. O longa é honesto e explora os detalhes intensos de cansaço da vida que a protagonista teve, e a forma como ela se culpa pela doença e por ela acreditar que a vida acabará tão dura, vivendo um momento de cada vez.
Diferente de filmes que abordam a temática familiar com uma doença terminal envolvida, “Ficaremos Bem” fala muito mais sobre as formas que uma notícia de que a vida está por um fio e o impacto real que isso tem na ação das pessoas ao redor de quem adoece, do que o câncer em si e como é “mais fácil amar alguém assim”. O amor explicado de maneira oculta entre o casal protagonista, é o que faz o drama caminhar, trazendo uma reflexão intensa ao final do longa.
O comentário é claro e objetivo, da uma grande vontade de assistir o filme.