A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Em Free Guy o jogo tende a imitar a vida como ela é, em seus aspectos mais nobres e ao mesmo tempo mais cruéis. Guy é um personagem NPC (em inglês: Non-player character), um personagem do jogo que não é jogável e está lá apenas para compor o cenário ou para atuar como coadjuvante nas aventuras.
Logo no início do filme Guy começa a desenvolver um senso crítico bem diferente de seus colegas de cenário, mas antes de entrar nesse mérito é importante contextualizar a situação. Free City é um jogo onde os jogadores podem conviver e cometer crimes e todo os tipos de infrações, um tipo de GTA ou Watch Dogs e até mesmo Sim City, porém ao longo dos filmes é explicado que esse jogo foi codificado com uma espécie de Inteligência Artificial e isso explica bastante coisa.
Ryan Reinalds é Guy, um atendente de banco que tem em sua rotina usar as mesmas roupas, ir trabalhar, ser assaltado e voltar pra casa, porém, diferente dos outros NPC’s Guy tem um sonho, encontrar o amor de sua vida. É justamente o amor que muda as atitudes de Guy e desencadeia uma série de ações inusitadas no filme. A atuação de Ryan é completa, como haveria de ser, com um toque muito sútil de Dead Pool, ele consegue ser engraçado, convincente e até mesmo heroico.
Ainda falando de atuação um ator que surpreende bastante é Joe Keery, para quem não sabe é o Steve em Stranger Things. Seu papel é muito sútil, e pouco explorado na minha visão, mas consegue entregar uma atuação bem divertida e consistente principalmente se considerar que ele é um novato nas grandes produções. Mesmo contracenando com “gente grande” como Taika Waititi, Channing Tatum e o próprio Ryan, ele consegue manter o nível dos grandões.
Jodie Comer, que vive a personagem parceira de Guy na cidade virtual, Molotov Girl, entrega uma atuação bem interessante, considerando que ela vive duas personagens diferentes dentro do filme, o avatar dentro do jogo e sua versão no mundo real.
Um dos pontos mais interessantes do filme é usar o mundo real para explicar as situações no jogo, e para isso decidiram usar influencers e streamings reais ao longo da trama. Além de trazer o filme para “dentro” da vida dos espectadores, já que o público-alvo consome exatamente esse conteúdo na realidade, ele consegue fazer uma crítica bem sútil aos dias atuais, onde o virtual, mesmo misturado a vida, tende a não aceitar as mesmas regras dela.
Free Guy é um filme divertido, com cenas de ação bem intensas e muitos, muitos easter eggs, alguns são surreais inclusive, vale a pena prestar atenção e tentar descobrir todos eles. A participação de atores de outras franquias, e uso de personagens de outras franquias mostra a força que Free Guy tem. É importante lembrar que o filme sofreu muito com a pandemia, foi adiado várias vezes e até mesmo o Dead Pool caçoou dessa situação dizendo que “achava que o filme já tinha sido lançado”. Mas assistindo ao filme deu pra entender por que era importante esperar um momento mais tranquilo aqui do lado de fora para que seu lançamento pudesse ser feito.
Vale a pena tirar um tempo, e com toda a segurança assistir no cinema, é uma experiência única.