Estreia nos cinemas o filme “Fúria Primitiva”, que marca a estreia de Dev Patel como diretor de cinema. Dev ficou muito conhecido ao interpretar Jamal Malik no sucesso “Quem Quer Ser um Milionário” de 2008.
Sobre o filme
Em “Fúria Primitiva”, Dev Patel faz sua estreia como diretor, e também o estrela como o protagonista Kid, um jovem que ganha a vida em um clube de luta clandestino, onde, usando uma máscara de gorila, luta por dinheiro. Mas o que ninguém sabe é que Kid tem um propósito muito maior, e um desejo de vingança que ele guarda a sete chaves em seu coração, esperando ansiosamente pelo momento certo de agir.
A premissa aqui é bem simples, mas a execução é complexa e muito elaborada. Não é à toa que a produção ficou por conta de Jordan Peele, um dos cineastas mais inteligentes de Hollywood. Essa mistura de Patel e Peele deu muito certo, e mesmo sendo a primeira direção de Dev, o filme beira a perfeição. Ao trazer para a tela do cinema uma produção com foco na sociedade e na cultura da Índia, quebra as expectativas do público. O cinema indiano é comumente taxado de exagerado, com foco no absurdo e com uma qualidade duvidosa, e apesar desse filme não ser uma produção local, tem traços profundos da sua cultura e da sua realidade. Realidade essa que se mostra dura e cruel.
Uma questão interessante é que o filme foi gravado em Batam, na Indonésia. Em um primeiro momento isso me deixou pensativo, não seria um paradoxo? Querer mostrar a realidade indiana, mas decidir gravar o filme na Indonésia. Mas o próprio Patel disse que Batam é um lugar inspirador, e que ele queria essa localização para seu filme. E convenhamos, não tem nenhum problema em escolher uma locação diferente, desde que a história seja coerente.
Sobre a História de Fúria Primitiva
A cultura asiática é repleta de mitologias, e esse filme é sobre isso. Patel escolheu uma história pessoal, uma vivência espiritual e familiar, e essa mitologia escolhida é uma homenagem a seu pai, seu avô, que foram quem o apresentou o conto de Hanuman, o Deus Macaco. Inspirado na lenda hindu, em que um ser com cabeça de macaco e com superpoderes, é conhecido pela sua bondade e perseverança com os necessitados. Patel explora isso muito bem na trama, pegando uma lenda ancestral e transformando em um filme moderno, atualizado, preocupado com a realidade, não somente de seu povo, mas de todos os oprimidos.
E não se assuste se você em algum momento relacionar algumas cenas e situações a grandes clássicos do cinema de ação, tanto ocidental quanto oriental. O filme bebe da fonte de vários desses, inclusive, de John Wick. Patel assina o roteiro ao lado de Paul Angunawela e John Collee, e não esconde suas influências. As cenas de lutas muito bem coreografadas misturam artes marciais com outros elementos, como uso de facas, facões, artefatos e qualquer coisa no caminho que possa causar dano no oponente.
O uso da câmera em ângulos não tão comuns, como no plano baixo e no plano fechado, dão uma sensação de enclausuramento, aumentando ainda mais a adrenalina. E sim, esse talvez seja o caso de dizer que ao assistir o filme você pode realmente ficar “adrenalizado”. Desde perseguições com Tuk-Tuks nas ruas apertadas de Yatana (a cidade fictícia do filme), até as brigas dentro do clube fechado em cima do balcão do bar. O personagem de Patel age como um justiceiro noturno, que precisa encontrar a paz interior para se vingar e trazer justiça aos mais necessitados. É um herói improvável, em um lugar inesperado.
Elenco diverso ajuda o filme a ser mais do que ação por ação
Patel é o protagonista, e talvez para nossos olhos ocidentais um dos poucos que seja reconhecível. Ao seu lado, um elenco muito diverso, com atores e atrizes asiáticos, como Sobhita Dhulipala, uma atriz indiana de filmes Hindi e Sikandar Kher, galã do cinema indiano. Mas para mim o destaque fica mesmo com Makarand Deshpande, o grande vilão da trama e Vipin Sharma, que interpreta um dos personagens com maior carga emocional do filme.
Patel abraça a diversidade ao tratar de temas muito profundos como a pobreza, o capitalismo e até mesmo a descriminação por orientação sexual. Não à toa, repito, ele vende o filme como um “hino para os injustiçados”.
Vale a pena assistir?
Essa resposta é simples, esse filme foi feito para ser assistido no cinema, várias vezes se possível. Os fãs de ação irão se impressionar com o ritmo frenético e com uma história inspiradora e refrescante. Para quem reclama que o cinema de heróis não tem jeito, Dev Patel mostra que há espaço para novos super-heróis.