Woody Allen retorna ao cinema com “Golpe de Sorte em Paris”, um romance com nuances de suspense e pitadas de comédia que se desenrola sob a marca característica do cineasta. Neste filme, o diretor explora uma narrativa aparentemente simples, mas repleta de camadas e surpresas. A trama acompanha Fanny, uma curadora de leilões, que, ao esbarrar com Alain, um antigo colega, vê sua vida se transformar. O encontro, que deveria ser trivial, reacende antigas emoções, desencadeando uma série de eventos que se entrelaçam com a vida secreta de seu marido, Jean.
O enredo do filme
Aviso! A partir desse momento o texto terá alguns spoillers sobre o enredo, mas não irei revelar o plot final, podem ficar despreocupados!
A decisão de Woody Allen de começar o filme sem preâmbulos, revelando de imediato o encontro entre Fanny e Alain, é ousada. Sem rodeios, ele joga o espectador diretamente na trama, deixando que as informações fluam de maneira gradual e controlada, sem diálogos expositivos ou cenas desnecessárias. Essa simplicidade, característica de sua filmografia, se reflete também na fotografia do filme. Close-ups capturam momentos de intimidade e vulnerabilidade, enquanto os planos abertos destacam a beleza das paisagens parisienses, criando uma atmosfera imersiva e romântica.
Lou de Laâge dá vida a Fanny, uma mulher bem-sucedida, mas insatisfeita com seu casamento. Melvil Poupaud interpreta Jean, seu marido, cuja fachada de homem de negócios bem-sucedido esconde segredos obscuros. Miels Schneider, no papel de Alain, traz um charme contido que contrasta com a seriedade de Jean, formando um triângulo amoroso intrigante.
Filme aborda romance, desconfianças e espionagem!?
Embora a trama inicial sugira um romance comum, “Golpe de Sorte em Paris” logo revela uma dinâmica mais complexa. Esse suspense começa a se insinuar, principalmente à medida que o passado de Jean é desvendado. O roteiro mistura habilmente momentos de tensão com toques de humor, criando uma experiência que, embora pareça leve à primeira vista, carrega uma profundidade inesperada.
O grande trunfo do filme, no entanto, é a sua capacidade de brincar com as expectativas do público. Allen constrói uma narrativa em que nada é o que parece. Quando o espectador começa a se acomodar com a ideia de um final feliz, o diretor subverte essa noção, introduzindo reviravoltas que mudam o rumo da história. O desfecho, em particular, é inesperado e provavelmente vai dividir opiniões – enquanto alguns o considerarão forçado, outros verão nele uma conclusão audaciosa e até divertida.
Por outro lado, a caracterização de Jean como vilão é problemática. Embora o personagem seja construído como um homem possessivo e machista, é apenas quando seu envolvimento em atividades criminosas vem à tona, que ele é definitivamente rotulado como antagonista. Isso minimiza uma crítica social que poderia ter sido mais aprofundada e significativa.
Em suma, “Golpe de Sorte em Paris” é um filme que, apesar de suas falhas, entrega o que promete: uma trama envolvente, com reviravoltas que mantêm o espectador atento e personagens complexos que desafiam expectativas. Não é uma obra-prima, tampouco pretende ser. Trata-se de uma experiência divertida, com momentos de tensão e um final que, para bem ou mal, será dificilmente esquecido.
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