Gran Turismo foi um pioneiro no que se propôs, transformar uma paixão em um projeto, não um jogo, mas um simulador de corrida perfeito. Durante muitos anos o GT foi um dos simuladores mais importantes para os amantes de corridas, e isso claro, motivou o projeto do GT Academy.

O filme do Gran Turismo é inspirado na história de Jann Mardenborough (Archie Madekwe), um jovem inglês que se destacou ao vencer um torneio de Playstation promovido pela montadora Nissan em 2011, a antiga competição Nissan GT Academy.

Adaptações de jogos geralmente não vão tão bem no cinema, com algumas raras exceções, como Sonic e Super Mario, é muito complicado adaptar sensações de jogabilidade na tela. Porém, nesse caso específico, creio que não seja justo dizer que é uma adaptação do simulador, já que acompanhamos uma representação da história real de Jann em sua busca por se tornar um piloto profissional através do GT.

LEIA TAMBÉM: Crítica – Besouro Azul

Roteiro apressado no começo como uma arrancada de um carro

A introdução dos personagens e suas motivações ocorre de maneira muito rápida, porém, de maneira bem completa. Mesmo usando pouco tempo de tela pra isso, podemos entender quem é Jann Mardenborough, sua história de vida, sua motivação, a relação dele com a família, e temos um pequeno vislumbre sobre sua paixão por Gran Turismo. A partir desse ponto até ele entrar para o projeto do GT Academy, é um pulo.

Senti falta de explorarem melhor o treinamento dos jogadores, explorarem suas dificuldades na transição do mundo virtual para o mundo real. Tudo parecia muito fácil, muito orgânico, e sabemos que não é bem assim. Porém, o diretor Neill Blomkamp e o roteiro da dupla Jason Hall (Sniper Americano) e Zach Baylin (King Richard: Criando Campeãs) prioriza o pós academia. Sendo assim, o filme é basicamente um retrato de Jann tentando ganhar sua licença na FIA e tentando mostrar ao mundo que um piloto de simulador pode ser tão bom quanto um piloto profissional.

Apesar de pouco explorada, a relação de Jann com seu pai e o desdobramento das dúvidas quanto ao potencial do rapaz é um dos pontos altos no quesito drama, e é um excelente alento. Da mesma forma a relação de amizade e confiança entre Jann e Jack Salter (David Harbour), seu mentor e chefe de equipe. Aqui tem aquela velha premissa de um ex-piloto que precisa ajudar o novo piloto através dos seus erros do passado. Apesar de clichê, aqui funciona bem.

Para falar um pouco de atuação, o meu destaque é totalmente para David Harbour, que faz toda a diferença aqui. É um ator que consegue passar emoção com seu jeitão meio deslocado, mas que tem um carisma fora da curva. E com certeza sua experiência ajudou o jovem Archie Madekwe a entregar uma atuação bem consistente, apesar de morna e em alguns momentos sem sal. Só senti falta de Orlando Broom entregar mais, ficou a desejar.

gran turismo

Fotografia é tudo e mais um pouco

Agora, se tem uma coisa que funciona muito bem nesse filme é a parte visual. A mistura da fotografia real com os efeitos visuais é surreal. São cenas extremamente bem elaboradas, com um estilo “trailer de jogo” que é lindíssima.

O espectador que não conhece o jogo será transportado para dentro de uma corrida de verdade, com todos os elementos que existem. Mas para quem conhece o jogo, a sensação de estar dentro do video game é impressionante. A familiaridade com os carros, com as pistas, com os elementos visuais de montagem do carro, e da corrida em si, ficou muito bem-feito.

Assim como a trilha sonora e os efeitos sonoros dão toda a robustez necessária para que o filme seja grandioso, a altura de sua fama. Você consegue sentir o ronco do motor, consegue sentir o atrito dos pneus, consegue sentir até o vento batendo nos aerofólios dos carros. A equipe de efeitos foi muito cuidadosa nessas questões.

Filme vale a pena?

Preciso dizer que o filme não é exatamente uma obra de arte, ele tem alguns problemas de roteiro, exagera demais no marketing para a Playstation e para a Sony. Em alguns momentos fica muito nítido a intenção de vender produto e vender ideia. Mas a partir do momento que entregam um filme tão bem-feito quanto esse, me parece ser um custo aceitável.

As pessoas que conhecem o simulador e já viveram as experiências de pilotarem pelo console, terão uma emoção a mais ao assistir Gran Turismo, mas isso não significa que quem não conhece não poderá aproveitar. Muito pelo contrário, em se tratando de filme de corrida, esse é um dos melhores já lançados nos últimos anos.

Para finalizar, é importante dizer que o filme foi pensado para a telona, ou seja, assistir no cinema faz muita diferença. Creio que 50% da emoção que o filme passa é em função de ser em uma tela grande, então, se você puder, vá ao cinema assistir.

Apoie nosso trabalho: Apoia-se – https://apoia.se/geekpopnews