O filme Homem com H estreia oficialmente nos cinemas brasileiros no dia 01/05. A obra narra a trajetória de Ney de Souza Pereira até se tornar o artista consagrado que o Brasil inteiro conhece como Ney Matogrosso.
Incrível, forte e emocionante: essas seriam as primeiras palavras para descrever esta cinebiografia. Muitos filmes já contaram a história de grandes artistas, mas apenas dois me vêm à memória como obras que não “passaram pano” ou foram “chapa-branca”: Rocketman, sobre Elton John, e Better Man, sobre Robbie Williams. Homem com H segue o mesmo caminho — apresenta uma narrativa profundamente humanizada, sem esconder defeitos, mas também sem deixar de exaltar a genialidade e a força de Ney.
PRODUÇÃO E DIREÇÃO
O diretor Esmir Filho teve um cuidado evidente ao retratar a vida de Ney Matogrosso. Em um podcast, ouvi que o diretor desenvolveu vários tratamentos de roteiro. Quando chegou a 12 versões, Ney leu todas — e aprovou cada uma. Esmir escreveu o roteiro com o aval do artista.
Durante as filmagens, Ney esteve presente em diversas ocasiões, mas sem interferir negativamente. Pelo contrário: Esmir frequentemente buscava suas opiniões, para tornar a história o mais autêntica possível.
A direção e o roteiro merecem muitos elogios. O filme tem duas horas de duração, que passam despercebidas graças ao ritmo fluido e envolvente da narrativa.
ATUAÇÕES E CARACTERIZAÇÃO
O elenco reúne nomes com sólida trajetória no cinema e na televisão.
Jesuíta Barbosa está brilhante como Ney Matogrosso. Seu jeito de andar, falar, os olhares… tudo convence. É difícil imaginar outro ator no papel.
Rômulo Braga interpreta o pai de Ney e entrega uma atuação impressionante, destacando-se logo após Jesuíta. Ele protagoniza algumas das cenas mais emocionantes do filme.
Hermila Guedes vive a mãe de Ney. Ela transmite bem a figura da mulher amorosa e submissa aos costumes da época (décadas de 1950 e 1960).
Outros atores também merecem destaque:
- Julio Reis, como Cazuza, está surpreendentemente parecido com o cantor.
- Bruno Montaleone dá vida a Marco de Maria, marido de Ney, com quem viveu por 13 anos.
A caracterização de época é outro ponto alto. Figurinos, objetos, cenários (estúdios, salas, palcos, carros etc.) — tudo é minuciosamente fiel. O trabalho da equipe de produção está impecável.
A MÚSICA CONTA A HISTÓRIA
Em uma cinebiografia de um cantor como Ney Matogrosso, a música é fundamental — e o filme a utiliza com maestria. Desde os tempos de Secos & Molhados até a carreira solo, o repertório do artista ajuda a contar não apenas sua vida, mas a história recente do Brasil e do mundo.
O filme mostra como, na época da ditadura militar, as letras das músicas precisavam ser cuidadosamente escritas para evitar a censura da DCDP (Divisão de Censura de Diversões Públicas). Na primeira apresentação do grupo na TV, por exemplo, houve proibições relacionadas a roupas e gestos. Mesmo assim, Ney manteve sua postura autêntica.
Durante sua carreira solo, várias de suas músicas foram censuradas — o filme cita três, mas sabe-se que foram muitas mais.
Além das canções, o filme revela detalhes da vida pessoal de Ney, sempre muito reservado. Costumes, amizades e amores são explorados de forma sensível.
A música também o aproxima de grandes nomes da MPB, como Gonzaguinha e até Raul Seixas, que demonstrou interesse em trabalhar com Ney. Já Cazuza é retratado como um dos grandes amores e amigos do artista.

LGBT+
A cinebiografia deixa claro que Ney nunca se encaixou nos padrões sociais da época. Suas atitudes e estilo sempre desafiaram o que era esperado de um homem.
É sabido que Ney Matogrosso faz parte da comunidade LGBT+ (na época, chamada de GLS). O filme mostra alguns de seus relacionamentos ao longo da vida — inclusive com um cantor famoso que, embora não citado diretamente, foi um grande amor.
Mas o grande amor da vida de Ney foi Marco de Maria, com quem viveu por 13 anos. A obra retrata com emoção o impacto da epidemia de AIDS nos anos 1980, que devastou a comunidade LGBT em todo o mundo. A falta de ação dos governos é duramente lembrada.
Essa é, sem dúvida, a parte mais comovente da cinebiografia. Diversos amigos e parceiros de Ney morreram para a AIDS. As cenas são fortes e emocionantes — certamente farão muitos espectadores chorarem. O próprio Ney, em entrevista, disse que há uma cena específica que o fez chorar. Eu tenho minhas suspeitas de qual seja.
Vale a pena assistir?
A vida de Ney Matogrosso foi — e continua sendo — um espetáculo à parte. Homem com H cumpre seu papel com excelência ao retratar essa jornada. Para quem deseja conhecer mais sobre sua trajetória — ou mesmo descobrir a origem de seu nome artístico — assistir ao filme é altamente recomendado.
Foto de capa: Marina Vancice
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