Um filme intenso, brilhante e perturbador, o “Intruso no Porão”, que chegou ao Brasil pela Synapse Distribuition, mostra o que de melhor tem no cinema francês.
Em tempos de informação globalizada, existem assuntos que ainda hoje chocam. Negacionismo, discurso fascista, antissemitismo, violação da memória de pessoas que morreram em genocídio. Dessa forma, todos esses temas estão dentro do escopo desse longa dirigido por Philippe Le Guay. Não por acaso, o título revela bem o cerne dessa história, “L’homme de la cave”, o homem no porão fala de um professor de história que é reconhecidamente um negacionista, que nega o Holocausto e contesta as mortes pelo nazismo.
Antes de entrar na analise do filme, é importante dizer que alugar ou vender porões na França é algo comum. Esses porões são como uma espécie de quarto no subsolo de prédios antigos que se usam para guardar coisas.
O filme aborda justamente a venda do porão do casal Hélène (Bérénice Brejo) e Simon (Jérémie Renier). Quem o compra, Jacques Fonzi, interpretado pelo ator Françoi Cluzet. Essa relação perturbadora se torna assustadora quando Fonzi decide morar no porão, algo proibido pelas regras do condomínio e passa a perturbar a todos em sua volta. As coisas se tornam ainda mais sérias quando o intruso faz amizade com a filha deles, Justine (Victoria Eber), e passa a exercer sobre ela uma influência perigosa e ameaçadora.
Trama Principal Revela o que significa Intruso
Quando esse homem, de aparência modesta é desmascarado, todos passam a saber que ele é um historiador negacionista e antissemita, a história ganha novos contornos. O cinema francês tem uma fotografia muito interessante. Principalmente quando o diretor decide mostrar uma França que vai além da Torre Eiffel e das luzes da Champs-Elysées. O subúrbio com suas histórias, com seus moradores, com sua maneira de ser. Esse olhar é encantador, ou seja, mesmo em um filme de suspense e drama, esse mesclar de ideias e figuras torna o filme mais atraente.
É preciso dizer, entretanto, que o roteiro poderia ser um pouco mais profundo nos temas em que toca. De qualquer forma, o roteiro de PhilippeLe Guay, Gilles Taurand e Marc Weitzmann, consegue acertar em cheio quando fala sobre o tema dentro do formato atual de comunicação. Como a internet é a fonte mais utilizada para difundir essas ideias. Faltou talvez um final mais adequado, em que as decisões de ambas as pessoas gerassem consequências. Apesar disso, várias questões são levantadas, liberdade de expressão, liberdade de pensamento, liberdade de imprensa, mas deixa a cargo do espectador fazer o papel de juiz.
É um filme reflexivo, em certa medida necessário por abordar o tema, após dois anos de pandemia e vários questionamentos conspiratórios.