Christophe Honoré, conhecido por seu olhar intimista e sensível, traz em Inverno em Paris um retrato poético e devastador da dor de perder alguém querido. O filme segue Lucas, interpretado por Paul Kircher, um jovem de 17 anos tentando encontrar seu lugar no mundo após a morte inesperada de seu pai. A partir dessa perda, a história se desdobra em uma jornada emocional, cheia de introspecção e complexidade.

Sobre o filme

O enredo, apesar de simples, toca em questões universais: luto, crescimento e a busca por identidade. A morte do pai é o catalisador que mergulha Lucas em um processo de autodescoberta. A relação com sua mãe, interpretada por Juliette Binoche, é tensa, marcada por uma distância emocional palpável. Binoche, sempre extraordinária, consegue transmitir a dor silenciosa de uma mãe que também sofre, mas é incapaz de oferecer o apoio que o filho precisa.

O ritmo do filme, no entanto, é uma faca de dois gumes. Honoré opta por uma narrativa lenta, quase contemplativa, que embora permita ao espectador mergulhar nas emoções de Lucas, às vezes esfria a intensidade dos momentos mais dramáticos. A transição entre cenas rápidas de conflitos internos e longas pausas nas quais a relação mãe e filho se desenrola pode desorientar. Contudo, é nesse vai e vem de sentimentos e silêncios que o filme encontra sua força.

Um dos aspectos mais marcantes é a exploração da sexualidade de Lucas. Ainda em meio ao turbilhão de emoções do luto, ele tenta compreender sua orientação sexual e suas relações interpessoais. Honoré trata isso de forma sutil, sem didatismo, permitindo que a confusão e a vulnerabilidade de Lucas emergem de forma genuína. Há uma beleza melancólica em sua jornada, que não é sobre descobertas definitivas, mas sim sobre abraçar as incertezas.

Inverno em Paris tem Juliette Binoche no elenco.
Foto: Jean Louis Fernandez

Visualmente frio e deslumbrante

Visualmente, Inverno em Paris é um retrato de uma França melancólica. A fotografia fria, quase desbotada, reforça o estado emocional do protagonista. Poucas cores vivas surgem na tela, e quando o fazem, são carregadas de significado, destacando momentos de epifania ou profundo desespero. Essa paleta desolada nos transporta diretamente para a mente de Lucas, onde a confusão e o caos reinam.

A trilha sonora é discreta, ecoando o silêncio interno dos personagens. Não há grandiosidade musical aqui, apenas um acompanhamento delicado que reforça a atmosfera intimista do filme. Os diálogos, muitas vezes interrompidos por silêncios desconfortáveis ou explosões emocionais, soam reais e dolorosos.

No entanto, Inverno em Paris não é um filme fácil. Sua abordagem lenta e sua simplicidade podem não ressoar com todos os públicos. Há uma crueza e uma lentidão que podem ser cansativas, especialmente quando algumas subtramas parecem se arrastar mais do que o necessário. Porém, para quem aprecia o cinema que se dedica ao estudo emocional de seus personagens, o filme oferece um retrato visceral e profundo do luto e da descoberta de si.

“Inverno em Paris”, novo longa-metragem do diretor francês Christophe Honoré

Vale a pena assistir?

Em última análise, o que ressoou profundamente em mim foi a familiaridade com a dor. Inverno em Paris nos lembra que o luto, mesmo em sua singularidade, é uma experiência que todos nós compartilhamos, de alguma forma. O filme não oferece respostas fáceis, mas sim um olhar honesto sobre o caos que surge quando perdemos quem amamos. É uma obra que, com suas imperfeições, nos convida a sentir, a refletir e a, talvez, nos encontrarmos.