Uma sequência de filmes sempre corre o risco de prejudicar a narrativa original, mas um filme de origem tem o potencial de corrigir falhas deixadas por seus sucessores. É com essa perspectiva que começo a ver “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”. O Presidente Snow, apesar de ter sido um vilão convincente nos quatro filmes principais da franquia, deixou um sentimento de incompletude.
Agora, com seu próprio filme de origem, temos a oportunidade de compreender como e por que ele se tornou a figura que conhecemos… ou, talvez, apenas revelou sua verdadeira face.
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Um filme longo, mas com um roteiro acertado
A história se passa 64 anos antes de Katniss Everdeen se voluntariar como tributo e décadas antes de Coriolanus Snow se tornar o tirânico Presidente de Panem. O filme segue um jovem Coriolanus (Tom Blyth), que é a última esperança para sua linhagem falida, a outrora orgulhosa família Snow que caiu em desgraça em um Capitólio pós-guerra.
Ao chegar quase as três horas de exibição, “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” surpreende a não ser cansativo. Ouso dizer que é menos cansativo do que alguns da franquia. O roteiro, separado por capítulos, dá ao expectador a possibilidade de conhecer a história de Coriolanus Snow por vários ângulos, em todas as suas facetas.
Acompanhamos a competição anual do Jogos vorazes, que está em sua versão mais primitiva, e tenho que dizer que ficou mais interessante do que a versão com drones, hologramas e cenários futuristas. Essa versão é mais violenta no sentido bruto da palavra. Como são pessoas lutando pelas suas vidas com praticamente somente as mãos, é quase como uma arena onde cada um está lutando pela sua vida.
O roteiro de Michael Lesslie e Michael Arndt é bem direto ao ponto, introduz de maneira brilhante a história de Presidente Snow, assim como Lucy Gray Baird, um dos tributos do distrito 12. Claro, é importante relembrar que esse filme também é baseado em um livro de Suzanne Collins.
Mas deixando de lado a adaptação em si, o filme consegue ser bem consistente, entrega a evolução da construção do casal, e evolui a cada capitulo dando ao expectador todas as chances de se encantar por eles separadamente, como casal, e como opositores.
Elenco de apoio supera protagonistas, mas sem tirar seu brilho
Não teria como começar a falar sobre atuação sem citar Viola Davis, que sem sombras de dúvidas entrega a melhor atuação do filme. Sua personagem, Dr. Volumnia Gaul, uma cientista que também atua como professora na universidade, não tem piedade nem empatia pelos tributos, e leva os jogos a outro patamar com suas criações bizarras. Não somente Viola, mas Peter Dinklage, no papel de Casca Highbottom, mostra que não é atoa que é um dos melhores atores de Hollywood. E é justamente por essas duas atuações que o casal de apoio rouba a cena do filme como um todo.
Por outro lado, Rachel Zegler, que vive a tributo Lucy Gray, está encantadora no filme, não somente pela sua capacidade de nos encantar nas cenas mais bonitas, mas por sua astucia nas cenas mais fortes. E nas cenas mais importantes impera uma sensação de chocolate com pimenta. Ao lado de Tom Blyth, entrega um improvável par romântico, que conquista nossa empatia, nossa torcida, e nossa aflição no terceiro ato.
Fotografia e Trilha sonora são pontos mais altos da parte técnica
A Fotografia Do longa é envolvente, com sequências de ação de suspense zero e paisagens urbanas padrão de CGI. O filme é ambientado em um Capitólio pós-guerra e retrata a pobreza pitoresca de Lucy Gray Baird com um vestido de estrela do country de design excêntrico. E essa escolha das cores para Lucy a faz se destacar completamente dos demais, algo importante para a trama.
Quanto à trilha sonora, o álbum do filme apresenta artistas como Olivia Rodrigo, Rachel Zegler e Flatland Cavalry. A música de Rachel Zegler, que interpreta Lucy Gray Baird, é destacada como um dos pontos altos do filme. As canções assumem a voz da resistência no filme. Agem como se fosse o momento em que os moradores do distrito 12 tivessem para esquecer dos problemas e se unir. Além disso, a música aqui tem um tom político, como forma de protesto. Isso é reforçado pela melodia e pelas letras fortes, que na voz de Zegler, ganha contornos de beleza e poder.
Filme se conecta com seus antecessores através de citações, easter eggs e referências
No filme, se menciona o nome de Katniss algumas vezes, mas obviamente não a citando diretamente, pois ela ainda não nasceu. Isso ocorre por meio de um detalhe interessante do roteiro. Além disso, a capital ainda está em construção, os distritos estão em desenvolvimento, e há poucos elementos dos outros quatro filmes que podem ser observados.
Com a promessa de uma narrativa envolvente e performances sólidas, “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” é um filme que promete cativar os fãs da franquia e atrair novos espectadores.