Sérgio Mallandro, figura icônica da televisão brasileira, volta às telas em “Mallandro – O Errado Que Deu Certo“, um filme que tece comédia e drama de forma leve e reflexiva. O filme, dirigido por Marco Antonio de Carvalho, acompanha Mallandro em um momento delicado de sua carreira, buscando se reinventar e encontrar seu lugar no mundo atual.

O filme e a história de Mallandro

Marco Antonio de Carvalho entrega em “Mallandro: O Errado Que Deu Certo” uma cinebiografia leve e bem-humorada, temperada com doses de drama e nostalgia. Para mim, o filme pode ser dividido em duas frentes bem distintas: a primeira é dedicada à comédia, com pitadas de nostalgia, relembrando os bordões marcantes, suas pegadinhas e os momentos mais engraçados de sua carreira e vida.

É nesse momento que vemos a explosão de energia do personagem e a leveza que marcou sua trajetória. Já a segunda metade assume um tom mais sério, abordando as dificuldades enfrentadas por Mallandro para se adaptar às novas mídias e ao humor contemporâneo, além de seus momentos de crise financeira. Essa mudança de tom é bem-sucedida e permite que o filme explore um lado mais humano do personagem, revelando suas inseguranças e medos.

O elenco entrega atuações ótimas, com destaque para o próprio Sérgio, que se entrega inteiramente ao papel, com um desempenho emocionante e autêntica (como haveria de ser, não é mesmo?!). As participações especiais de Zico e outros amigos do humorista também são marcantes e contribuem para a nostalgia do filme. Em um desses diversos momentos marcantes, o reencontro entre Xuxa e Mallandro, 34 anos após o sucesso “Lua de Cristal”, é bem legal. A cena é emocionante e nostálgica, e certamente trará lágrimas aos olhos dos fãs que acompanharam a carreira dos dois artistas.

“Mallandro, o errado que deu certo”, filme que marca o retorno de Sérgio Mallandro aos cinemas
Downtown Filmes  

É curioso e raro uma cinebiografia ter como protagonista o próprio “homenageado”

De fato, é curioso e raro observar uma cinebiografia que tenha como protagonista o próprio “homenageado”. Essa escolha inusitada traz consigo diversas nuances e reflexões interessantes.

Por um lado, permite que o público tenha um contato mais direto e autêntico com a história e a personalidade do biografado. Afinal, quem melhor do que o próprio Sérgio Mallandro para narrar suas vivências, seus desafios e suas conquistas? Essa perspectiva torna a experiência cinematográfica ainda mais envolvente e pessoal. Ainda mais nesse caso, em que seria muito difícil outra pessoa conseguir imitar com tamanha perfeição todos os bordões e trejeitos do Sérgio. Temos exemplos que deram muito errado.

Por outro lado, essa escolha também abre espaço para questionamentos sobre a veracidade e a imparcialidade da narrativa. Até que ponto um indivíduo é capaz de contar sua própria história de forma totalmente objetiva e livre de vieses? É natural que a visão de Mallandro sobre si e sobre os eventos que marcaram sua vida seja permeada por suas próprias experiências e crenças. De toda forma, a meu ver, o filme acertou muito nessa escolha narrativa e, apesar de todas as liberdades poéticas, o filme me parece passar exatamente o que se espera dele. A honestidade e a abertura de Mallandro ao se colocar em frente às câmeras geram um retrato íntimo e comovente de sua trajetória.

“Mallandro, o errado que deu certo”, filme que marca o retorno de Sérgio Mallandro aos cinemas
Foto: FÁBIO BOUZAS, abc

Nem tudo dá certo em “Mallandro – O Errado que Deu Certo”

Esse com certeza será um filme que irá dividir opiniões, principalmente por abordar a figura de Sérgio Mallandro, ícone da infância de muitos. Ao analisarmos a obra de forma crítica e imparcial, porém, algumas falhas se tornam evidentes.

O humor do filme, apesar de nostálgico para alguns, oscila entre momentos hilários e piadas rasas e clichês, o que pode desagradar espectadores que não entendem bem o humor do artista, principalmente os jovens que nunca o conheceram. A estrutura narrativa também é questionável, com a falta de uma cronologia clara que torna a história um pouco confusa e fragmentada.

E para mim, o pior está na montagem do filme, com cortes abruptos que prejudicam o desenvolvimento da história e a fluidez da narrativa. As participações especiais, apesar de terem sentido e contexto dentro do roteiro, são tão numerosas que, em alguns momentos, dão a impressão de que o filme se assemelha mais a um conjunto de esquetes de humor do que a um longa-metragem coeso.

Vale a pena assistir?

“Mallandro: O Errado Que Deu Certo” é mais do que uma simples cinebiografia; é um filme muito engraçado. Independente de suas expectativas, ele pode te fazer rir, refletir e se emocionar no final. Apesar dos pontos fracos, eu gostei e muito!