“Maníaco do Parque”, nova produção da Prime Video de suspense e drama se inspira em eventos reais, misturando a história do Maníaco do Parque com uma subtrama fictícia. Embora seja vendido como um “true crime“ a produção foca mais em uma reparação em relação à imagem inferior da mulher em uma sociedade machista.
O gênero “true crime“ busca retratar a história de crimes reais e geralmente busca mostrar com maior detalhes os assassinatos, sequestros e a vida dos criminosos. Casos como o da Praia dos Ossos, Elize Matsunaga, Suzane von Richthofen e Eliza Samudio já foram retratados em filmes e séries brasileiras. No exterior temos exemplos de séries como “Dahmer” e “Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais”.
Maurício Eça, conhecido por “A Menina Que Matou Os Pais“, dirigiu o longa-metragem, enquanto L.G. Bayão escreveu o roteiro. Giovanna Grigio e Silvero Pereira estrelam a produção. O elenco também conta com os atores Marco Pigossi, Xamã, Augusto Madeira, Christian Malheiros e Bruna Mascarenhas.
A história de “Maníaco do Parque”
O filme fala sobre a história de um dos serial killers mais famosos do Brasil: Francisco de Assis Pereira. Na década de 1990, o motoboy foi acusado de agredir 21 mulheres, assassinando dez delas.
A jornalista Elena Pellegrino, personagem fictícia, interpretada por Giovanna Grigio, é a grande responsável por investigar os crimes de Francisco de Assis Pereira interpretado por Silvero Pereira. Elena é uma jornalista que sofre com o machismo da sociedade, sendo vista como inferior aos outros jornalistas homens, por simplesmente ser mulher.
A vida de Elena muda a partir do momento em que ela intercepta uma mensagem enviada para um colega de trabalho assediador, com informações sobre corpos de mulheres encontrados em um parque municipal. A partir disso, ela publica a matéria, dando o nome de “Maníaco do Parque” para o assassino, dando grande repercussão ao caso e contribuindo com o crescimento do jornal.
Enquanto ela vai se debruçando em cima da investigação, ela continua sofrendo diversas repressões dentro do local de trabalho e até mesmo dentro da polícia onde tenta buscar mais informações sobre o maníaco, pelo simples fato de ser uma mulher.
Além disso, temos um desenvolvimento leve da história de Francisco, mostrando sua rotina de trabalho, sua vida “normal”, e a forma como ele agia para atrair sua vítimas.
A produção questiona também o fato das testemunhas e vítimas serem vistas pela sociedade machista como as verdadeiras culpadas pelo ocorridos, por simples fato de serem mulheres. Como se elas tivessem feito algo para receberem tal “punição”.
Nesse ínterim de investigação ,conhecemos a irmã de Elena, a psicóloga Martha, também fictícia, interpretada por Mel Lisboa. As duas passam por um momento de perda pela morte de seu pai e a questão não resolvida com seu pai, por seu uma pessoa ausente em sua vida.
Não humanização do serial killer e um foco nas mulheres
O filme não busca romantizar a figura de Francisco, o que é um ponto bastante positivo. Entretanto ele é basicamente um personagem secundário na produção. O filme foca muito mais na personagem de Elena e seus problemas tanto profissionais quanto familiares, sendo este último desnecessários para a trama.
Por não querer humanizar a figura do “Maníaco do Parque”, a trama deixa de entrar dentro do psicológico do serial killer. A produção não fala quase nada sobre o passado de Francisco e os possíveis traumas sofridos quando mais novo. Não é explicado como ele escolhia as vítimas, o porque de um perfil específico e muito menos quais suas motivações. Ele está no filme somente para fazer o que passou nas televisões. Ele tem sua vida normal de rotina de “pessoa boa” que tem um hábito de praticar esportes, disfarçando seu um lado obscuro e assassino.
Além disso, o filme evita mostrar cenas com muita violência, deixando subentendida toda a violência realizada pelo maníaco.
Dessa forma, o filme busca mostrar um respeito maior com as vítimas, além de trazer uma abordagem sobre a imagem das mulheres na sociedade, de forma crítica. É totalmente compreensível a inclusão de uma personagem mulher investigando a situação. Certamente, seria complicado fazer um filme sem a inclusão de um pouco de ficção para desenvolver melhor a história e vender o produto.
Um filme que prende a atenção, mas com ressalvas
A produção tem seus pontos positivos e consegue atrair a atenção do espectador. Entretanto, em alguns momentos falha com o exagero em retratar alguns momentos relacionados á época em que o filme ocorreu. E isso é claro nas recriações de cenas em programas de TV de forma bem caricatas. Compreendo que a recriação dessas cenas podem ser uma forma de mostrar o hiper sensacionalismo das televisões na década de 1990, mas ficaram apenas como “easter eggs” ridicularizados de personalidades brasileiras.
Outro ponto negativo do filme é que em todo o momento, em todas as cenas recriadas, mostrava o Francisco interpretado por Silvero, que conseguiu entregar uma ótima atuação. Entretanto, na cena da prisão que mostra na televisão, aparece a notícia real que passou no jornal Nacional na época. Talvez inserir cenas reais fossem mais interessantes no momento dos créditos do filme, e não dentro da produção em si. Mostrar o rosto real de Francisco gera certa estranheza.
A trama da personagem de Giovana Grigio é interessante, entretanto, a parte relacionada com o seu pai poderia ter um melhor desenvolvimento, como explicar quem era ele, com o que trabalhava, etc. O filme dá sugestões de que era um jornalista de sucesso, mas ficou sendo só mais uma mensagem solta na produção. Compreendo a questão de desenvolver mais a personagem para termos uma simpatia com ela, entretanto, se retirasse a parte do relacionamento dela com o seu pai, daria na mesma.
Elenco e fotografia
Em relação ao elenco, todos entregaram boas interpretações, tendo destaque Silvero Pereira que conseguiu entregar um personagem complexo, com o seu olhar assassino. A dualidade entre trabalhador esforçado e esportista com a sua personalidade assassina é sensacional.
Giovana Grigio também entrega uma personagem interessante, forte e que não concorda com as injustiças sofridas pelas mulheres. Ao mesmo tempo que se mostra uma mulher sensível, frágil e com seus problemas pessoais, ela entrega uma mulher empoderada que corre atrás de seus objetivos e luta pelos seus direitos. Sua fome pela necessidade de solucionar o caso é tão grande que ela chega a atingir um estado quase maníaco, com comportamentos exagerados, alteração de humor, pensamentos acelerados, terminando com a destruição de todo o material de suas investigações.
Outro destaque é a participação do cantor Xamã no filme, ele faz Nivaldo, chefe de Francisco, sendo facilmente seduzido pela “bondade” do serial killer, em quem confiava plenamente.
A fotografia do filme bem como a trilha sonora também é muito boa. Destaque para a versão de “Where Did You Sleep Last Night” que ficou famosa com a banda de Rock “Nirvana” que ficou maravilhosa na voz do Xamã com trechos de trap.
Vale a pena assistir “Maníaco do Parque”?
“Maníaco do Parque” entra mais na ficção inspirada em um história real ao invés de aprofundar no crime e no serial killer em si. O foco da produção é muito maior em denunciar as injustiças e violências que as mulheres sofrem. É um filme comercial, e como todo filme comercial, precisa de seguir certas fórmulas para agradar uma maioria dos espectadores.
O filme não possui um caráter de documentário, e muito menos aprofunda no perfil psicológico do assassino Francisco de Assis Pereira. De toda forma, a produção consegue entregar um produto final que vai atender ás expectativas em geral. Embora sua divulgação seja como “true crime”, ele apenas se aproveita desse gênero para atrair os espectadores.
Por fim, “Maníaco do Parque” está disponível na Prime Video.
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