O que você faria se começasse a desconfiar que o seu novo vizinho é ninguém menos que Adolf Hitler? Pode parecer loucura, mas é exatamente isso que acontece em “Meu Vizinho Adolf” (My Neighbor Adolf – no título original).
Escrito e dirigido por Leon Prudovsky, conhecido pelos seus trabalhos em “Welcome and our Condolences” (2012) e “Troyka” (2010), o filme se passa em 1960, na América do Sul. Nele, acompanhamos Marek Polsky (David Hayman) um senhor solitário e mal-humorado que sobreveu ao Holocausto. Ele vive uma vida pacata longe de seu país natal, até que um homem (Udo Kier) se muda para a casa ao lado. Após um breve encontro, Polsky tem certeza que o vizinho é ninguém menos que o temido Adolf Hitler – o qual teria se suicidado anos antes.
Com sede de vingança por tudo o que perdeu, Polsky vai até as autoridades e denuncia o vizinho. No entanto, ninguém o leva a sério por acreditarem fielmente que o tirano está morto. A partir daí, o protagonista passa a investigar seu vizinho, que declara ser Hermann Göring, sozinho.
Contudo, nem tudo é tão fácil quanto parece, e Polsky se vê forçado a se aproximar do inimigo a fim de conseguir provas irrefutáveis. Assim, ele começa uma relação complicada com aquele que deveria odiar.
“Canhoto, pintor amador, olhos azuis penetrantes”
“Meu Vizinho Adolf” é uma comédia dramática sensível, com diversas camadas. Sem apelar a piadas fáceis, com o filme, conhecemos “o homem além do monstro”. Assim, apesar da história dura, ela nos mostra que o mundo não é dual. No fim, não há o bem ou mal, o certo ou errado, o bonito ou feio, mas sim a mistura de tudo isso.
O filme brinca com teorias da conspiração, utilizada em outras obras, mas também mostra o efeito do Holocausto na vida dos sobreviventes. Afinal de contas, apesar do tempo amenizar todas as dores, há cicatrizes que nem mesmo ele pode curar.
Atores
Apesar da carga dramática inerente à história, por vezes, você se verá rindo devido a dinâmica entre os protagonistas. Muito desse humor vem do talento dos atores, que conseguiram trazer intimidade a personagens tão contrários. Além disso, David Hayman, que dá vida a Marek, já participou de grandes produções como “Música a Bordo” (2019) e “O Menino do Pijama Listrado” (2008), que também aborda o holocausto.
Quanto se trata de talento, Udo Kier não fica para trás. O ator já participou da série “Hunters” (2020), com Logan Lerman, e do filme brasileiro “Bacurau” (2019). O elenco também conta com Danharry Colorado (Champeta, O Ritmo da Terra), Jaime Correa (Os 33), Kineret Peled (Ron), Olivia Silhavy (A Rose in Winter) e Jan Szugajew (Amor em Tempos de Polarização).
Cenário e Fotografia
Não é um filme rápido como estamos acostumados, mas isso não o deixa monótono. Muito pelo contrário, com referências a “Janela Indiscreta” (1954), de Alfred Hitchcock, o filme utiliza diversos ângulos de câmera para que possamos investigar juntamente com Polsky. As cores sombrias ajudam a trazer dramaticidade às cenas, assim como nos auxilia na localização do tempo. Além disso, o figurino dos protagonistas enfatiza as diferenças entre ambos.
Enfim, “Meu Vizinho Adolf” é um filme simples com uma história profunda. Ele traz diversas questões como solidão, mágoas, conflitos internos e traumas. Todos nós temos cicatrizes, algumas mais evidentes do que as outras. No longa, somos apresentados às cicatrizes desses homens tão diferentes, mas também iguais.
O filme estreia nesta quinta-feira (25), nos cinemas brasileiros, com distribuição da A2 Filmes.