Estreia esta semana nos cinemas o filme Mulher Rei, com Viola Davis, atriz vencedora do Oscar®, como atriz principal. Esse é um daqueles casos em que é muito difícil avaliar o filme somente pela obra, isso porque esse longa traz uma carga emocional, e de reflexão muito grande. Dirigido por Gina Prince-Bythewood, que entre outras obras foi responsável por “A Vida Secreta das Abelhas” (2008).

Sinopse:

A Mulher Rei é uma história memorável da Agojie, uma unidade de guerreiras composta apenas por mulheres que protegiam o reino africano de Daomé nos anos 1800, com habilidades e uma força diferentes de tudo já visto. Inspirado em eventos reais, A Mulher Rei acompanha a emocionante jornada épica da General Nanisca (a atriz vencedora do Oscar® Viola Davis) enquanto ela treina uma nova geração de recrutas e as prepara para a batalha contra um inimigo determinado a destruir o modo de vida delas. Algumas coisas valem a luta…

Primeiramente, gostaria de dizer que esse é um filme que trata de vários assuntos paralelamente, no primeiro plano temos a vida das guerreiras Agojie, toda o treinamento, toda a história, todo o lado cultural, que é real, mas também iremos ouvir falar de racismo, de escravidão, de colonização, apropriação cultural, machismo. Dito isso, o filme é inspirado em histórias reais das Agojies e do reino de Daomé. Porém, essas histórias não são conhecidas de maneira profunda. De acordo com Viola e Julius Davis, produtores do filme, eles encontraram pouco material para compor o roteiro principal. O que nos leva a entender que nem todos os pontos tocados no filme são relatos reais, mas tendem a ter a liberdade poética necessária para que a obra cumpra seu papel de entreter e ao mesmo tempo trazer uma reflexão.

Elenco é o maior patrimônio desse filme

Com um elenco majoritariamente composto por mulheres negras, Mulher Rei é violento de uma maneira artística e plástica como vemos em vários outros filmes épicos. Tem um toque de drama muito intenso da mesma forma, e trata de assuntos complexos, que apesar de serem retrato do que aconteceu aquela época, são atemporais. A submissão das mulheres, a objetificação do corpo da mulher, a falta de escolha sobre a maternidade. Então, não é possível reduzir esse filme a simplesmente um filme de ação, por mais ação que ele tenha. E tem.

O elenco principal é muito competente, e entregam tudo em tela. A grande surpresa para mim fica por conta da atriz Thuso Mbedu, que interpreta a jovem Nawi. A atuação dessa jovem atriz da África do Sul de 31 anos chama bastante atenção, pela complexidade entre os sentimentos que ela precisa expressar em tela. Por um lado, ela precisa ser a guerreira que seu grupo precisa, e por outro, ela precisa expressar quem ela realmente é. Outro grande destaque é Lashana Lynch, que é a segunda no poder da unidade Agojie, e está magnifica na tela.  Além disso, temos no elenco

Foto: Reprodução Sony

Mulher Rei também aborda de maneira crítica a escravidão, tanto a para territórios estrangeiros como a escravidão interna. O Benim, região onde ficaria o reinado de Daomé foi um dos grandes polos de envio de escravos para a coroa portuguesa e inglesa. Porém, é preciso entender que uma boa parte dos escravos eram vendidos pelos reinados e que Ouidah e Daomé estiveram envolvidos profundamente no tráfico de escravos. Essa crítica aparece no filme, mas não é o foco principal da história. Inclusive, um fato muito interessante é que algumas falas do longa são em português de Portugal, já que o destino de muitos escravos era para o Brasil.

Mulher Rei? Sim!

O nome Mulher rei, que além de ser uma excelente crítica ao machismo, se dá em função da paridade de gênero que supostamente existia no reino de Daomé, em que todas as posições mais importantes do reinado, eram ocupadas por homens e mulheres. Apesar da Mulher Rei ser uma mulher companheira do Rei, ela não era sua esposa.

Esse é um filme que apesar de tocar em feridas profundas da humanidade tem um roteiro muito consistente. Principalmente no seu objetivo, mostrar as guerreiras em ação. As cenas de lutas foram extremamente bem coreografadas e está no mais alto nível de execução que eu já vi em uma produção desse tipo. A performance das mulheres em cena é absurdamente bem executada, e direção tem um papel muito importante nisso.

Agora, falando em estética, figurino ganha a cena. E não somente, mas maquiagem também. A plástica do filme é belíssima e enche os olhos com tamanha beleza nos detalhes. Assim como a fotografia, que conseguiu reproduzir na tela o que se imagina da África daqueles tempos. Talvez a escolha em gravar na África do Sul tenha sido o maior acerto de Gina Prince-Bythewood, seria muito difícil reproduzir as locações em Hollywood.

“Contar esse tipo de história é a razão pela qual o cinema existe!” Nicole Brown, da TriStar