Nada é por acaso é baseado em um famoso livro espírita de Zibia Gasparetto, que possui o mesmo nome. O filme acompanha a história de Marina, uma jovem advogada, que vindo de família humilde consegue ascender em sua carreira, abrir seu próprio escritório de advocacia e se tornar muito bem sucedida. Porém, tudo isso só foi possível devido à fortuna de 5 milhões de reais que ela ganha em troca de guardar um grande segredo.
Como vocês podem imaginar, este segredo é o grande trunfo do filme e como tal só se revela nas últimas cenas. Se não fosse toda a trama espírita “Nada é por acaso” poderia estar entre os diversos filmes policiais que tanto vemos nas telonas. O longa completa todo o check list para isso, uma mocinha quase indefesa, uma família muito rica com uma matrona linha dura que sempre consegue o quer, amores, traições, chantagens e claro um grande segredo interligando tudo e todos.
Logo no início do filme percebemos que a produção investiu bastante e que o longa contou com um orçamento substancial. Mas, o roteiro do filme é fraco e a narrativa se mostra mal organizada. Há diversos arcos que se iniciam e que não se desenvolvem ou que são finalizam de forma superficial e simplista.
Os diálogos foram algo que me incomodaram bastante, são pouco naturais e frequentemente subestimam o espectador. Há muitas deduções obvias que nós poderíamos facilmente entender sem necessidade de explicações.
Atuações
As atuações de Giovana Lancellotti (Marina) e Mika Guluzian são boas, as atrizes conseguem passear bem entre as cenas de drama intenso e de grande euforia, chegando em alguns momentos a emocionar o público. Porém isso é insuficiente para sustentar todo o longa.
Rafael Cardoso (Henrique) também possui um papel substancial na trama, mas sua interpretação não impressiona. Henrique é um personagem muito importante , mas pouco desenvolvido. E a meu ver, a forma como ele se constrói acaba sendo um grande desserviço para a história e para a sociedade. No longa Henrique é terapeuta, porém não possui ética suficiente para manter o sigilo necessário à profissão. Além disso, no que diz respeito ao seu relacionamento com Marina, ele mantém uma postura impulsiva, agressiva e muito desconfiada, o oposto do que se espera do personagem.
A respeito da questão espírita e doutrinária, o filme apresenta pouco aprofundamento técnico e teórico. Em alguns momentos é possível perceber claramente que o diretor opta por não citar nomes e conceitos relacionados ao espiritismo dando a impressão de que não queria se filiar a nenhuma escola de pensamento. O que ao meu ver é complicadíssimo, afinal o longa já parte de premissas muito claras em relação à isso.
De forma geral o roteiro segue uma linha muito fiel ao livro, porém a adaptação conta com falhas substanciais e que prejudicam muito a experiência do público, seja na questão técnica seja na questão doutrinária. Na tentativa de agradar a todos, espíritas e não espíritas, o longa corre o grande risco de não agradar a nenhum dos dois públicos.