Ver os filmes de Jordan Peele costuma ser uma surpresa interessante. Peele consegue trazer para a tela seus pensamentos mais profundos, e o resultado são filmes que surpreendem, de um jeito ou de outro. Em “Nós” e em “Corra”, temos duas amostras do que a mente desse diretor é capaz de fazer, e nos fazer sentir.
Em “Não! Não Olhe!”, vamos acompanhar um resgate, e não, não estou falando da história em si. O resgate aqui é da maneira que Jordan encontrou para fazer seus filmes. O longa estrelado por Daniel Kaluuya, Keke Palmer e Steven Yeun, é um resgate ao cinema alternativo, que lembra muito os filmes de extraterrestres dos anos 80 e 90. Inevitável não comparar com “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, é intrigantemente parecido.
O filme conta a história de um casal de irmãos que tomam conta de um rancho, onde treinam cavalos para que possam atuar em filmes e comerciais de Hollywood. Em um determinado dia fenômenos começam a acontecer no rancho, onde testemunham uma descoberta estranha e assustadora. Os irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald (Keke Palmer), decidem então ganhar dinheiro com isso, e vão em busca da tão sonhada fama. O paralelo aqui é fácil de compreender. E ao mesmo tempo, no rancho do lado temos Jupe Park (Steven Yeun), dono de um parque temático e que guarda um segredo muito macabro de sua infância.
Entretanto, falar dos filmes de Jordan sem inclui-lo na equação final é um erro. É um daqueles casos em que a obra é intrínseca ao criador. A maneira de falar de assuntos sociais e políticos também é inerente ao seu trabalho. E surpreendentemente podemos acompanhar em Não! Não Olhe! um pouco das duas coisas. Primeiro, porque ele abraça de maneira indiscutível a diversidade e racial. Não atoa ele escolhe Daniel Kaluuya para o papel principal, um dos atores em ascensão mais interessantes do momento. E em um filme de suspense e terror com uma pitada apimentada de sci-fi. Kaluuya abraçou o papel de tal forma, que aprendeu a cavalgar para o filme, já que ele passa boa parte do tempo junto dos cavalos.
Aqui, ele ousa transformar as histórias de extraterrestres em algo mais bucólico. O rancho, representa ali um escape dentro da indústria dos filmes. Por outro lado, ele não deixa de criticar a mesma indústria, ao relacionar a própria história do cinema ao trabalho realizado com os cavalos. A partir desse ponto ele parte para transformar uma simples história de OVNI em algo realmente horripilante, cheia de sangue, mortes impactantes, em cenas repletas de referências aos clássicos de terror. Mas não se engane, é um filme cheio de personalidade própria.
Falando de fotografia temos um show de beleza e ousadia. Filmagens em plano aberto justamente para entregar em primeira mão o objeto principal do filme, a tal nave. E não, isso não é spoiler. Curiosamente, o trailer lançado pela Universal duas semanas antes do lançamento entrega muito mais que isso. Mas é aí que está a beleza de tudo, nada é o que parece nesse filme. Talvez, não por acaso, o nome do filme em inglês, NOPE! (que pode ser lido como “Nem ferrando”, em uma tradução livre), é simples e objetivo.
Por fim, o filme entrega tudo aquilo que promete, terror e suspense com plot twist no final.