O filme foi anunciado em 2021, pouco depois do lançamento de Monster Hunter, também dirigido por Paul W.S. Anderson. A proposta chamou atenção especialmente por adaptar um dos 34 contos presentes no livro Dreamsongs, publicado em 2003 por George R.R. Martin. Fãs do autor ficaram empolgados ao saber que essa história ganharia uma versão para o cinema — ainda mais com um elenco liderado por Milla Jovovich, a eterna Alice da franquia Resident Evil, e Dave Bautista, conhecido por interpretar Drax em Guardiões da Galáxia.

Logo no início, somos apresentados aos protagonistas com cenas que ressaltam suas habilidades e nos dão uma ideia do que esperar da narrativa. Confesso que a introdução tem uma pegada bem anos 2000 — só faltou o nome dos personagens aparecendo na tela. Gray Alys, a bruxa, é a primeira a surgir, enfrentando a opressora Igreja em uma sequência de ação visualmente interessante, que já revela parte de seu poder. Em seguida, Boyce, o caçador, entra em cena sem hesitar em mostrar sua natureza impiedosa. A construção desses personagens é eficiente no começo, mas infelizmente não vai muito, além disso.

O design de produção, aliás, é um dos pontos que mais chamam a atenção. O visual da cidade remete diretamente ao universo de Mad Max, tanto pela estética apocalíptica quanto pelo estilo de filmagem. Ruínas, figurinos desgastados, maquiagem pesada… tudo contribui para criar um ambiente brutal e desolador. Nesse cenário, a Igreja detém o controle absoluto sobre a população, ditando regras, impondo punições severas e decidindo quem vive ou morre. A rainha, por sua vez, governa provisoriamente enquanto o rei adoece em silêncio.

Quando a trama avança para as Terras Perdidas, o clima apocalíptico se intensifica. A rainha contrata os serviços da bruxa, que se une ao caçador para explorar regiões além dos muros da cidade, agora dominadas por criaturas monstruosas. O potencial para uma aventura épica está ali, mas pouco se concretiza. A atmosfera é construída com competência, mas falta substância para sustentar o enredo.

Não li o conto original, então minha experiência é baseada unicamente no que o filme entrega. E, infelizmente, ele entrega pouco. O foco recai quase exclusivamente sobre Gray Alys, enquanto os demais personagens são tratados com superficialidade. Não sabemos o que de fato aconteceu com a cidade, nem as origens da rainha ou do caçador — informações que poderiam enriquecer a narrativa.

Adaptação de conto de George R.R. Martin, Nas Terras Perdidas traz visuais impactantes, mas falha em narrativa e desenvolvimento.

As cenas de ação são, sim, empolgantes, ainda que mais pelo estilo do que pela intensidade. A direção de Anderson mantém seu estilo característico, mas a falta de profundidade no roteiro compromete o envolvimento emocional. A trilha sonora, quase ausente de impacto, também não ajuda a elevar os momentos-chave da história.

Gosto do trabalho de Anderson e do elenco envolvido, e acredito que todos tenham se esforçado. No entanto, o resultado é decepcionante. O filme tem uma boa premissa, visuais chamativos e nomes de peso, mas tropeça em elementos básicos como desenvolvimento de personagens e coesão narrativa. E, para quem esperava uma adaptação à altura do universo de George R.R. Martin, a frustração é quase inevitável.