E se você descobrisse que um parente seu deixou um misterioso anel para você, com um bilhete cheio de mistérios: você ainda ficaria com presente? Em O Anel de Eva, o público é arrastado para uma cidade do interior brasileiro, no qual a busca pela suas origens leva a protagonista a confrontar segredos do passado e nazistas. A premissa do longa consegue ir ainda mais além quando o filme de ficção apresenta um contexto bem faroeste brasileiro.

Antes de tudo, O Anel de Eva é o primeiro longa-metragem do diretor Duflair Barradas e traz um elenco com nomes de peso. Dentre eles, Suzana Pires, Odilon Wagner e Regina Sampaio. Confira o trailer abaixo:

Sobre a história de O Anel de Eva

O novo longa da Elo Studios traz Suzana Pires vivendo o papel da protagonista Eva, filha adotiva de um dono de terras do interior brasileiro. No entanto, seu pai acabou de falecer, deixando um pacote em segredo com o breve bilhete a ela: “abra-o somente se achar necessário”.

Ao abri-lo, Eva se depara uma caixa, na qual encontra objetos e fotos misteriosas. Dentre eles, um anel com insígnia nazista e escrito “Eva, 1945” além de fotos que sugerem ser de sua mãe biológica. Agora, a busca por suas raízes a levará a uma rede de mistérios ainda mais enterrados em suas terras. Assim, tornando teorias conspiratórias e lendas urbanas em realidade.

Em meio a tais descobertas, o enredo leva a protagonista a transitar entre temáticas polêmicas e ainda presentes na sociedade, como o racismo, problemas familiares e a homofobia. Ao mesmo tempo, o roteiro também apresenta desenvolvimento de personagens, o combate ao preconceito, fraternidade e parentalidade, bem como sobre autoaceitação.

Inclusive, é até interessante de ver como algumas cenas se constroem, principalmente, para demonstrar a união das minorias contra o preconceito em si – aqui representado por um nazista. Essas montagens de cenas é um acerto da direção, mas falaremos sobre elas mais a frente.

Dan Brown e o Faroeste brasileiro

o anel de eva cena
Imagem: Reprodução

Apesar do título acima, o autor Dan Brown não tem absolutamente nada a ver com o filme de ficção. Entretanto, o autor de Código da Vinci e Anjos e Demônios (entre outros grandes best-sellers) ficou mundialmente conhecido por evocar teorias conspiratórias e fatos históricos em seus livros.

Dessa forma, O Anel de Eva consegue construir uma história que tangencia a mesma premissa. Ou seja, um fato histórico encontra-se com tal lenda urbana e ambas colidem com a vida da protagonista. Assim como nos livros de Brown, longa aqui consegue apresentar muito bem este contexto e adaptá-lo para uma história envolvente e curiosa.

Aliás, todo o contexto e cenário alimentam ainda mais na experiência da trama em si, dando vida a um enredo diferente, inesperado e empolgante.

Pérola aos porcos

Um elemento bastante comum no filme são os porcos selvagens e como eles são uma espécie de ameaça para as fazendas, trazendo algumas reflexões sobre algumas temáticas. Dessa forma, é importante salientar que a proposta do longa é curiosa e um acerto, porém, sua prática não é das melhores. A execução do filme peca em diversas camadas diferentes.

Dentre elas, uma das falhas mais marcantes está em sua narrativa e construção. Isso é, se uma boa história tem começo, meio e fim, em O Anel de Eva há um bom começo e acertos até o meio de sua trama. Porém, da metade em diante, há vários problemas no desenvolvimento da história: são erros de continuidade, furos de roteiro e até mesmo eventos sem conclusão na cena.

Pecados da narrativa

anel de eva Odilon Wagner
Imagem: Reprodução

Por exemplo, em meio a uma discussão importante, há um corte seco de cena, sem ter nenhuma finalização da situação presente. Dessa forma, o público só vai saber sobre a resolução do conflito em cenas mais tardes, mas como se ainda fosse uma continuação direta. Ou seja, há uma quebra de eventos que não condizem com a ordem das cenas. Em outras palavras, há um nítido erro de construção e montagem entre as cenas em si.

Tal problema volta a acontecer muitas outras vezes, principalmente em cenas anteriores ao clímax, criando confusão e dúvidas sobre o que está acontecendo com a história. Talvez, parte deste erro se deve a uma direção ainda inexperiente ou que se perdeu entre as suas ideias.

Portanto, é inegável que a construção do começo a metade do filme é interessante e curiosa: há apresentação dos personagens, do contexto, de toda a situação e como esta consegue alcançar uma maior profundidade de mistérios. Contudo, toda a pérola criada até então é dada aos porcos, e o longa se perde na construção e em seus cortes. Assim, o que a direção acertou no começo, logo se perde numa ansiosa busca em chegar precocemente ao clímax.

Sobre a trilha sonora e a fotografia

Um ponto alto de O Anel de Eva é referente ao cuidado da produção quanto a trilha sonora. Nota-se que são camadas de sons que possuem a sua devida importância e como eles são editados e trabalhados com cuidado. Ou seja, até o barulho do lado de fora da casa tem um tratamento especial, que o torna em um elemento importante na construção do clima e da atmosfera da cena em si.

Enfim, além de ser um elemento técnico, a trilha sonora no longa se torna um elemento de grande importância para o longa em si.

No entanto, a fotografia não recebe o mesmo cuidado, porém, nota-se um esforço. Isso é, o maior problema está na dificuldade quanto as cenas a noite ou em ambientes com pouquíssima iluminação, dificultando na compreensão da cena em si. Outro problema está na maneira como o foco das cenas fica disperso – às vezes focando elementos que não condizem com a cena em si, como o foco na parte de trás do joelho, por exemplo.

Essas situações dão um ar de amadorismo na gravação e na captura das imagens. Contudo, como já dito, a fotografia tem seu esforço e seus momentos de glória também. Assim, a montagem de algumas cenas, o uso de planos e enquadramentos, o foco sendo bem medido para conseguir capturar o conjunto de elementos de modo que estes se conversam na filmagem demonstram um ponto alto do filme.

Por exemplo, usar de contrastes ou cenas mais escuras para elevar o mistério, ou então enquadrar um conjunto de elementos para demonstrar um significado ainda maios, como minorias enfrentando a opressão. Portanto, apesar de uns deslizes na fotografia, a direção consegue acertar também em muitos pontos, trazendo elementos mais subjetivos e implícitos as cenas.

Afinal, vale a pena assistir O Anel de Eva

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Imagem: Reprodução

O novo longa da Elo Studios promete muitos mistérios em um cenário a la faroeste brasileiro. A premissa que é tão bem construída até metade do filme e se perde em sua reta final com um clímax precoce. Em outras palavras, a ansiedade em alcançar o clímax é tão grande, que o longa começa a atropelar da metade em diante, quebrando com possibilidades para uma melhor desenvoltura e assim chegar a uma resolução satisfatória.

Além disso, é diante dessa narrativa ansiosa que a história comete os maiores erros numa narrativa, como erro de continuidade, furos na história, cortes secos no meio das cenas. Enfim, são erros que não são passíveis de se deixar de lado e estragam, sim, a experiência do telespectador. Portanto, quanto a aspectos de roteiro e direção, a primeira metade de O Anel de Eva é ótima, porém, o desenrolar do filme prejudica muito na experiência como um todo.

Contudo, no aspecto técnico, o destaque fica com a trilha sonora, a qual fica nítido que recebeu um grande cuidado ao longo de sua captura e edição.

Portanto, O Anel de Eva pode não ser a melhor indicação para algum público, principalmente devido aos erros do roteiro e direção. Contudo, a premissa intrigante é um grande acerto, o qual pode se tornar interessante para alguns telespectadores. O longa estreia dia 13 de junho nos cinemas.