Dirigido por Brady Corbet, O Brutalista se tornou um dos filmes mais indicados, premiados e comentados dessa temporada de premiações. Na trama, Adrien Brody interpreta László Tóth, um arquiteto húngaro judeu sobrevivente do holocausto que se muda para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor, deixando para trás sua esposa e sobrinha, na esperança de que um dia elas conseguiriam se juntar a ele.
Com 3 horas e 35 minutos, o longa é dividido em dois atos – contando até mesmo com uma pausa de 15 minutos em sua exibição nos cinemas. Apesar de sua duração extensa, confesso que não senti o tempo passar de forma tão arrastada quanto imaginava. Claro, o filme conta com momentos mais lentos, mas, no geral, se sustenta na escolha por uma minutagem mais longa que o convencional.
O Brutalista é construído em um formato muito similar ao das biopics e pode facilmente levar o espectador a acreditar que o filme é baseado em uma história real. Porém, o roteiro se trata de uma narrativa original criada por Corbet e sua co-roteirista Mona Fastvold que funciona quase como uma “cinebiografia imaginária” de um homem que não existiu, mas que representa uma história que não é fictícia – pelo menos não por inteiro – para milhares de imigrantes que tinham uma carreira de sucesso em seu país de origem, mas precisam recomeçar do zero em outro país após a guerra.
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Após muitos momentos de dificuldade retratados em uma primeira hora fantástica e angustiante do filme, Tóth recebe a oportunidade de reviver a sua carreira com o patrocínio de Harrison Van Buren, um excêntrico homem rico com delírios de grandeza interpretado magistralmente por Guy Pearce. Ao descobrir sobre o passado profissional de László na Europa, o magnata se encanta pelo seu estilo arquitetônico brutalista, que consiste em edificações minimalistas, gigantes e cruas em concreto, e o convida para construir um centro comunitário em homenagem a sua falecida mãe em sua propriedade.
O temperamento de Tóth, seu perfeccionismo e vício em drogas tornam o projeto uma provação. É na figura dos Van Buren que o filme também encontra uma certa dose de humor, especialmente através dos diálogos entre László e a família aristocrata, que alimentam uma relação bizarra e desconfortável desde o seu início – o famoso “bom demais para ser verdade” que se traduz em uma cena grotesca na segunda metade do longa.
Adrien Brody realmente impressiona em sua performance que oscila entre frenética, atormentada e, sobretudo, crua. No segundo ato, a chegada de Felicity Jones como Erzsébet Tóth adiciona outra camada ao filme, em uma interpretação contida e calculada que demonstra as dificuldades de ser a esposa de um homem angustiado e obcecado com o trabalho de forma doentia.
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Do ponto de vista técnico, o filme é extremamente bem executado. Uma curiosidade importante para o resultado final é que Brady Corbet optou por filmar em VistaVision, um formato que permite captar imagens mais amplas e com maior resolução, o que foi essencial para transmitir a grandiosidade das obras arquitetônicas e do longa como um todo.
O Brutalista convida o espectador a questionar se o “brutalismo” do título pode se referir a algo além da arquitetura. É uma história sobre a violência que cerca a experiência dos imigrantes rumo ao falso “sonho americano” e a promessas capitalistas frustradas, sobre dinâmicas de poder e manipulação e, principalmente, sobre o desprezo com o qual essa população é tratada, mesmo sendo parte integral da construção de uma nação.
O epílogo é questionável, com interpretações mistas e uma mensagem final que divide opiniões. Em linhas gerais, é um projeto tecnicamente impecável, com grandes atuações e alguns deslizes – especialmente no segundo ato. É o tipo de filme denso que não costuma ser assistido mais de uma vez, mas que agrada os entusiastas do cinema e dificilmente será apreciado como entretenimento casual – não que haja algo de errado com esse tipo de produção também. Há quem diga que o filme não precisava dessa duração mas, no fim, gostando ou não, você sairá do cinema com algumas reflexões e uma experiência cinematográfica impressionante.
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