O reboot da série de filmes “O Corvo” (The Crow) finalmente chegou aos cinemas brasileiros. O longa protagonizado por Bill Skarsgård e FKA Twigs, com a direção de Rupert Sanders, tinha a difícil missão de não ser igual aos seus antecessores. Mas, será que ele conseguiu?
Vamos a um breve contextualização, “O Corvo” (The Crow) é uma série de histórias em quadrinhos criada por James O’Barr. A obra nasceu após uma tragédia pessoal do autor. Em 1978, a namorada de James foi atropelada por um motorista bêbado, o que o deixou devastado.
Para lidar com a dor, James se alistou no exército e foi enviado para servir na Alemanha. Durante seu tempo livre, em 1981, ele escreveu e desenhou as primeiras quarenta páginas de O Corvo. A tristeza e a revolta que sentia pela perda da namorada influenciaram o tom melancólico e violento do personagem.
Sendo assim, com o sucesso do quadrinho não demoraria muito para ganhar uma adaptação. Assim, em 1993 começou a produção e gravação do primeiro filme “O Corvo“. O filme acabou ficando marcado pela trágica morte de Brandon Lee, que interpretava Eric Draven/O Corvo, devido ao uso de uma arma carregada com munição real.
Por conta desse acontecimento, o lançamento do filme ficou congelado e a pós-produção pausada. Mas, em maio de 1994 o filme ganhou seu lançamento e com o sucesso rendeu outras adaptações ao longo dos anos. Com esse breve contexto, vamos a nossa crítica de “O Corvo“.
Um novo Corvo, quase a mesma história
O novo filme do “O Corvo” faz parte dessa nova onda de remake de filmes antigos, que vem chegando cada vez mais nos cinemas. Apesar disso, os filmes dessas franquia sofrem com uma certa “maldição“, onde nenhum consegue replicar parte do sucesso que o primeiro filme teve.
Pode ser que isso se deve ao fato de ser um filme póstumo e em homenagem a Brandon Lee? Pode. Porém, mesmo se não comparar os filmes, pode enxergar os diversos problemas que os filmes tem e como eles destoam da mitologia criada no primeiro.
Assim, Rupert Sanders tinha difícil missão de entregar um filme melhor, que os já apresentados, ou um filme que fosse tão marcante quanto o de 1994. E falando em Sanders, o diretor é conhecido por entregar filmes que são considerado de mediano a ruim pela crítica especializada.
Então, o universo, realmente, estava conspirando contra essa nova abordagem do personagem. E mesmo com um bom elenco, tudo o que restava fazer era aceitar que o filme seria ruim. Porém, ao decorrer dos primeiros minutos, deu para ver que esse filme era diferente. E que ele poderia entregar algo que os fãs estavam esperando a bastante tempo.
É uma história de vingança, mas também de amor
Nesse remake acompanhamos uma versão de Eric Draven (Bill Skarsgård) e sua jornada vingança, para salvar a alma de sua amada, Shelly (FKA Twigs). Diferente da versão de 1994, aqui Eric não é um músico e nem possui uma banda, aqui ele é um jovem que tem diversos problemas com drogas e que está internado numa ala psiquiátrica. Já Shelly é uma jovem com um passado obscuro e que acabou se envolvendo com o perigoso Vincent Roeg, um chefe do crime demoníaco. E que em determinado momento do filme, ela acaba parando no mesmo centro psiquiátrico que Eric está internado.
Então, é partir deste momento que o filme começa a criar e moldar a história de amor entre Eric e Shelly. A química entre os dois é algo muito bem trabalhado, o filme dá tempo necessário para que nos interessemos pela relação entre os dois. E assim, o início do longa serve para estabelecer o amor entre os personagens, mesmo com o cerco se fechando entre eles. Apesar disso, o roteiro toma algumas decisões questionáveis, sobre o direcionamento dos personagens na história, porém, é compreensível o porque de tomar caminhos, mas pode ser que alguns sintam que isso atrapalha.
Assim, chegamos no momento final da relação de Eric e Shelly, onde os capangas de Roeg encontram eles e os matam. Aqui vemos uma das diferenças do quadrinho e do primeiro filme, onde Eric morre após ser baleado, mas no remake, eles mudam para sufocamento. Isso se deve por causa das restrições que Sanders colocou nos set de filmagens. E assim, vemos o primeiro encontro de Eric com Kronos e o início da sua jornada de vingança para salvar a alma de Shelly. A partir desse momento o filme gira completamente e passa a ser uma sequência de violência brutal e selvageria.
O contrário de amor não é o ódio, e sim a dúvida
Após os eventos de morte e ressureição de Eric, o filme segue em suas investigações e vingança contra aqueles que o mataram. O filme não dá muitas explicações de como funciona os poderes do Corvo, mas de acordo com Kronos, o amor de Eric por Shelly é a fonte. Então, se o seu amor for puro ele vai conseguir usar os poderes normalmente, porém, se ele perder essa pureza, os poderes cessam.
Igualmente ao longa de 1994, o remake não possui uma história muito complexa, possui um ponto de partida e de encerramento claros. Aonde não tenta inventar tanto para entregar algo que é simples e prático. Uma jornada de vingança, para salvar sua amada, apesar das dificuldades que surgem no caminho, o Corvo consegue concluir sua jornada.
Um dos pontos interessantes do remake é a figura do animal corvo, aonde nos filmes anteriores o animal parece ser algo real para os outros personagens. Mas, na versão de 2024, parece que apenas Eric consegue o enxergar, mas, o corvo ainda serve como um guia do personagem, porém, não parece dar os mesmos poderes que as outras versões tinham. A escolha faz sentido, já que apesar de manter a mitologia, os poderes funcionam de forma diferente.
Além disso, o filme usa e abusa de uma violência gráfica, que até então não existiam na franquia. As cenas de luta estão bem coreografadas e encenadas, algo estranho vindo do diretor de “A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell“, que tem diversas cenas de lutas confusas. Porém, em “O Corvo“, Sanders consegue acertar nesses momentos e tirando uma satisfação surreal dos espectadores, quando o herói consegue matar os vilões.
Vale a pena?
Bom, se você é um fã dos quadrinhos ou até mesmo das adaptações, recomendo muito a assistir esse novo filme. Os personagens, a história, a estética, a ambientação, o clima e as cenas de lutas, são quase tão boas ou melhores que o filme de 1994. Apesar das dúvidas criadas em torno do longa e do que ele poderia ter sido, o saldo final é positivo. Não é uma obra-prima, porém, é facilmente uma das melhores adaptações da obra.
Apesar de alguns pontos ruins no roteiro e direção, o filme consegue entreter e criar uma nova versão desse personagem tão complexo e melancólico. Se o remake abriu as portas para novas adaptações, só o futuro responderá. Mas, se Sanders conseguiu entregar um filme melhor que os anteriores, a resposta é sim. Mesmo com as dúvidas e receios, “O Corvo” é um bom filme e entrega tudo aquilo que se propôs. E ao mesmo tempo que consegue homenagear e referenciar o quadrinho e as outras adaptações, também consegue ser original e único a sua maneira.
Por fim, se você nunca assistiu nenhum filme do “O Corvo“, talvez o remake seja a porta de entrada nesse universo. E assim, possa atiçar a curiosidade de ir atrás das outras adaptações do personagem. Os filmes trabalham com o tema de quão forte é o amor e sobre o tempo que temos com aqueles que amamos, mesmo que esteja escondido em meio a toda a jornada de vingança que o herói atravessa.
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