O filme “O Diabo Branco”, dirigido pelo argentino Ignacio Rogers e protagonizado pelos atores Violeta Urtizberea, Julián Tello e Martina Juncadella, chegará aos cinemas do Brasil no dia 05 de agosto como uma grande aposta para um gênero não muito explorado na indústria cinematográfica sul-americana. Confira a seguir a crítica sem spoilers do longa:

Sinopse: Em uma viagem de carro pelo interior da Argentina, um grupo de quatro amigos têm um estranho encontro com um misterioso homem quando chegam para pernoitar em uma pousada local. As férias ideais dos amigos são arruinadas quando eles acabam se tornando reféns de uma antiga lenda maligna que assombra a cidade.

A premissa da narrativa não foge muito de temáticas geralmente apresentadas por outros filmes de terror mas, apesar da influência internacional de grandes clássicos e sucessos contemporâneos do gênero, “O Diabo Branco” é um filme latino-americano, dirigido, produzido e protagonizado por latinos, que se passa na América do Sul. Isso pode não parecer relevante para a história a princípio, mas é inegável que atualmente a grande maioria dos filmes de terror que recebem destaque na mídia não possui essas características, então é um tópico que merece atenção. No entanto, isso infelizmente também reflete em alguns aspectos da produção, imagino que por questões de orçamento e afins, então, antes de mais nada, acho importante começar a crítica ressaltando que isso foi levado em consideração na minha análise pois, na minha percepção, a comparação a níveis técnicos com grandes filmes europeus e norte-americanos – que recebem investimentos exponencialmente maiores – seria injusta e incoerente. Essas e outras questões foram comentadas durante uma entrevista realizada com o diretor do longa, que estará disponível em breve no nosso portal.

Já entrando no mérito da direção e roteiro do filme, a abordagem adotada por Ignacio Rogers foi ambiciosa, visto que o enredo busca mesclar elementos e características do terror clássico e contemporâneo simultaneamente. Apesar da dinâmica moderna e despretensiosa presente principalmente nas cenas iniciais e nos diálogos descontraídos entre o grupo de amigos, em determinados momentos os tão conhecidos clichês de filmes de terror prevalecem, como por exemplo quando os protagonistas se mostram completamente alheios a tudo que os cerca e continuam insistindo em desafiar o perigo constante e deliberadamente, apesar de todos os acontecimentos. Isso não é necessariamente algo ruim, até porque a narrativa não teria continuidade se essa ignorância dos personagens não se fizesse presente, mas confesso que é quase inevitável não se irritar em alguns momentos de ‘burrice’ dos mesmos. 

Divulgação: Pandora Filmes

Senti um pouco a falta de um desenvolvimento mais profundo do grande antagonista da história. Sabemos que se trata de uma entidade maligna vinda de uma antiga lenda do povoado, mas não temos muitas explicações além disso. Em muitos filmes de terror isso acontece (o vilão tem a única função de ser o vilão, sem muitas explicações), mas eu particularmente gostaria de saber mais e acredito que isso beneficiaria a história em alguns sentidos.

A fotografia e trilha sonora do filme são adequadas, porém não surpreendentes – mais uma vez, acredito que por limitações no orçamento. Achei interessante observar os pontos-chave onde a produção optou por utilizar recursos como o CGI e inclusive entendi como propositais os momentos onde esses recursos confundem um pouco a percepção dos telespectadores. Já a trilha sonora é exatamente o que se espera de uma produção do gênero: músicas de suspense, seguidas por momentos de silêncio para alimentar a construção do clímax.  

Como um todo, “O Diabo Branco” é um filme de terror não muito assustador por assim dizer, então se você por vezes fica com o pé atrás na hora de assistir um filme desse gênero, pode ficar despreocupado – desde que não se importe em tomar alguns sustos e ver um pouco de sangue ao longo da história, claro. A narrativa pode parecer lenta e até um pouco arrastada em alguns momentos, mas nada que atrapalhe a experiência que, no geral, é interessante especialmente para os telespectadores que, assim como eu, não possuem o hábito de assistir filmes de terror sul-americanos.