Inspirado na obra de mesmo nome de Clarice Lispector, o longa-metragem “O Livro dos Prazeres”, dirigido por Marcela Lordy, conta com uma narrativa de uma mulher contemporânea, dentro de um cenário existencialista e que apresenta os questionamentos da própria obra literária da autora. O filme chega aos cinemas hoje, dia 22 de setembro.
Sinopse de “O livro dos Prazeres”:
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres conta a história de amor de Lóri e Ulisses. Lóri é uma moça rica de Campos, principal cidade do Norte Fluminense, que optou por morar no Rio, onde trabalha como professora primária e pode desfrutar de uma liberdade impossível em sua cidade natal. Ulisses é um professor de Filosofia, que conhece Lóri na rua e aos poucos vai conduzindo-a na aprendizagem do prazer. Loreley é personagem de uma lenda do folclore alemão, que seduz e enfeitiça os pescadores. Ulisses é o herói da epopéia grega, que vence os obstáculos usando a inteligência. As duas personagens de Clarice trazem as características de seus modelos originais.
Como em todas as obras de Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres é um ponto de vista feminino a respeito da vida. Lóri, na verdade, é a personagem central, enquanto Ulisses ocupa um papel secundário, mero referencial para os pensamentos e atitudes de Lóri. O livro conta, acima de tudo, a viagem empreendida por Lóri em busca de si própria e do prazer sem culpa. Uma viagem na qual Ulisses funciona como um farol, indicando onde estão os perigos e o caminho correto para a aprendizagem do amor e da vida.
Sobre a construção da personagem Lóri na obra “O Livro dos Prazeres”
A obra foi escrita pela autora Clarice Lispector e publicada no ano de 1969 e tem muitos aspectos para serem retratados durante o longa-metragem. A história é de Loreley, ou Lóri (interpretada por Simone Spoladore). Ela é professora do ensino fundamental e vive de um existencialismo extremo, que a faz questionar sobre o próprio lugar em que está inserida.
Com o falecimento da mãe, fica como herança um apartamento de frente para o mar para Lóri, no Rio de Janeiro, onde vive sozinha, apenas tendo encontros casuais com diferentes amantes. O filme explora o erotismo e a casualidade da mulher contemporânea.
Lóri tem uma dificuldade enorme em manter contato social e até mesmo não quer saber sobre assuntos, conversas e decisões da própria família.
No meio de tudo, existe um professor de filosofia, chamado Ulisses (vivido por Javier Drolas). Ele será a pessoa que fará Lóri se colocar ainda mais de frente consigo mesma. É quem estará presente no cotidiano dela, jogando todo o charme para tentar conquistá-la e viver aquilo que deseja ao lado dela.
Na história literária, todas as atitudes que Lóri toma, tem alguma relação com Ulisses. Na trama cinematográfica, esse aspecto existe, mas é explorado de uma forma mais contemporânea, dando à protagonista mais espaço e independência.
Portanto, a narrativa se desenrola em conflitos pessoais que Lóri precisa encarar, além de entender aquilo que sente e o porquê ela se afastou do mundo de uma forma que prefere ficar só, mas que ao mesmo tempo isso à sufoca e é nítido o quanto o existencialismo a deixa inquieta.
Impressões e sensações durante o longa:
Um ponto muito importante para se destacar logo de cara é que de fato, a obra tem a essência de muitas personagens que Clarice Lispector aborda em suas obras. Não apenas sobre a de “O Livro dos Prazeres”, mas a carga emocional e o peso do mundo que a autora costumava destacar durante os contos, em especial da solidão da mulher.
Além disso, o existencialismo da própria Clarice, para além como autora, mas como alguém que refletia sobre a posição no mundo, é algo que fica presente na protagonista Lóri.
O filme baseado no livro apresenta uma perspectiva não apenas de um personagem criado, mas também sobre possíveis reflexões e inquietações pessoais da autora, o que deixa mais profundo.
O longa-metragem é repleto de erotismo sim, pois para dar este ar de relações mais contemporâneas e da liberdade sexual de uma mulher em relações casuais, observa-se que foi preciso destacar isso para deixar mais fluido e também fácil de entrar na história. Além disso, é um retrato mais fiel da atualidade, levando em consideração o livro escrito no final da década de 1960.
A imagem da mulher diante dos quereres e sensações
Apesar de na história original o relacionamento de Lóri com Ulisses ser um elemento chave do desenrolar da narrativa, no filme esse elemento de fato transforma a história, porém, não é o ponto principal. O encontro e interesse entre os dois é importante para que ela perceba e reflita sobre a dificuldade de se socializar que ela tem, mas o mais importante é o que ela aprende e vai tentando ensinar ao telespectador, diante da obra de Clarice Lispector.
Esse papel do “ser mulher” também é impregnado em falas da narrativa, que por mais que não seja o ponto principal, deixa pontas soltas para reflexões individuais e necessárias.
Diante disso, Clarice vem como uma mãe de Lóri dando a conexão ao existencialismo entre o artista e sua obra.
Confira abaixo o trailer de “O Livro dos Prazeres”: