O filme O Melhor Está Por Vir retrata Giovanni, diretor de cinema, e Paola, sua produtora e esposa. Giovanni está filmando um filme ambientado em 1956, enquanto escreve uma adaptação de The Swimmer, de John Cheever, e imagina um filme cheio de canções em italiano. O filme tem estreia prevista em 04 de janeiro de 2024 nos cinemas brasileiros e já foi ovacionado no Festival de Cannes.
Alerta: Spoiler!
O maior espetáculo do mundo: cinema
Giovanni faz um filme a cada cinco anos, com sua esposa Paola apoiando-o como produtora. Agora, ele se vê imerso em uma história que se passa em Roma na década de 1950, onde o Partido Comunista Italiano tenta demonstrar sua desconexão com a União Soviética. A oportunidade de fazê-lo surge quando um circo húngaro chega a um bairro, e logo depois acontece em Budapeste a revolução de 1956.
Entretanto, as filmagens coincidem com as visitas de Paola a um psicoterapeuta, pois ela não sabe como contar ao marido sobre o desejo de separação.
O filme é uma carta de amor ao cinema de um cineasta prestes a completar 70 anos. Nanni Moretti aborda uma trama claramente autorreferencial. O protagonista, seu alter ego interpretado por ele mesmo, está filmando uma história sobre ideais comunistas e marxistas, com as consequentes decepções, uma carreira cinematográfica com alguma satisfação, mas inconformista e exigente.
Ademais, há terreno para o resultado do amor conjugal que não foi adequadamente nutrido, foi dado como certo, e com uma família onde as surpresas são possíveis.
Há espaço para o pessimismo e o desencanto, para o pensamento de que o amor parece passar. Entretanto, também há espaço para os ideais de justiça social, e para a saudade de uma felicidade que ficou perdida.
O melhor está por vir
Às vezes, o filme tem um ar do antigo Federico Fellini, embora haja muitas citações de cineastas, principalmente de Max Ophüls. Todo o elenco é muito bom, seja Moretti, Margherita Buy, Barbora Bobulova e Silvio Orlando com uma história de amor que aparece dentro e fora do filme.
E, há momentos engraçados, autocríticos, sobre os novos caminhos das produções cinematográficas. Não faltam espetadas ao novo e grandioso cinema de ação, a maneira como a Netflix faz as coisas com seu streaming, “presente em mais de 190 países”, como é trazido no filme, ou a carnificina financeira da indústria.
Moretti demonstra grande domínio nas mudanças de tom, do dramático ao humor leve, passando pelo ar irreal do ambiente circense. E, principalmente, para conseguir uma simbiose ou jogo único de bonecas russas, do filme dentro do filme.
Talvez, a maior conquista do filme é mostrar a imperfeição. Porque a perfeição, honestamente, é totalmente chata. A perfeição é aquela fórmula científica comprovada em 190 países que a Netflix quer vender para você, aquele ponto de virada exatamente no minuto que as estatísticas dizem ser correto.
A perfeição é algo para as ciências, não para as artes, não para as humanidades. Porque a verdadeira qualidade humana é aceitar-nos com os defeitos que temos, reconhecê-los, apontá-los e aprender a aceitá-los. Somente sabendo quais são os nossos defeitos podemos descobrir como compensá-los.