‘O Pacto’, ou ‘Pagten’ – título original – é um filme dinamarquês de 2021, que estreia exclusivamente nos cinemas no dia 07 de abril.

Na trama, Karen Blixen desistiu da aventura na África há 17 anos e voltou à Dinamarca para uma vida em ruínas. Com a saúde frágil pela sífilis e arrasada por perder sua fazenda e o amor de sua vida, ela se reinventa como uma estrela. Agora, aos 63 anos, Karen é mundialmente famosa, mas também vive uma vida em isolamento. Isso, até conhecer o poeta Thorkild Bjørnvig, de 30 anos. Empenhado em conseguir uma carreira através de sua escrita, Thorkild aceita a ajuda de Karen. Então, eles fazem um pacto: ela promete fazer dele um grande artista, em troca, ele deve obedecê-la incondicionalmente — independentemente do preço.

‘O Pacto’ consegue transmitir a confusão de sentimentos, como se fosse um thriller psicológico. Ele não falha em transmitir esses sentimentos dos personagens, mas esse aspecto acaba sendo uma faca de dois gumes. A mente humana é por vezes oscilante e a narrativa se apoia justamente nas emoções dos personagens, tornando o filme igualmente instável e inconstante.

Outro ponto negativo é a duração, 1 hora e 50 de filme. A trama que já é cheia de conflitos emocionais, unida com o tempo de filme, causa ao telespectador uma ansiedade pelo final — que nunca chega. Além disso, em muitos momentos cenas prolongadas que nada dizem, consomem muito tempo de tela.

Até a segunda metade do filme tudo parece arrastado, é exaustivo acompanhar o protagonista em todas suas decisões — egoístas — e mudanças. Nesse aspecto a narrativa merece elogios ao mostrar essas mudanças, escolhas e arrependimentos; o filme consegue transmitir essa instabilidade humana pela busca constante do crescimento próprio; o que pode destruir o pouco que tem.

Imagem: Reprodução

Elenco e personagens de O Pacto

A atuação do elenco impressiona quando até mesmo em sem diálogos os olhos conseguem transmitir o que se passa com o personagem. Simon Bennebjerg consegue transparecer a confusão de seu personagem sem dizer muito; Thorkild é um homem confuso, enquanto demonstra amar sua esposa, se mostra interessado por outra mulher, e submisso a baronesa. 

Birthe Neumann é magistral ao interpretar Karen Blixen; a atriz consegue transmitir a fragilidade de uma mulher doente e abalada, mas que a todo custo expressa a imagem de força e poder.

Nanna Skaarup Voss, reflete com excelência a sensibilidade que Grete sente, as emoções que permanece por muito tempo apenas nas expressões e no olhar. Conforme seus sentimentos que permaneciam apenas em seu rosto são finalmente colocados para fora, ela consegue fazer com que a dor que a personagem sente ultrapassar a tela. Assim, Nanna consegue fazer umas das cenas mais impactantes do filme.

Fotografia e direção

A direção de Bille August — que já recebeu um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1989, pelo filme ‘Pelle, o Conquistador’ (1987) — e roteiro de Christian Torpe acertam e erram juntos. Durante o início e o final do filme não há erros a apontar, tudo flui com naturalidade. Já no meio da obra, parece tudo mais cansativo e inconscientemente, menos interessante. 

Com uma fotografia impecável, o filme consegue passar todas as sensações que deseja. A paleta de cores consegue passar perfeitamente os sentimentos de cada ambiente; tons frios nos momentos de solidão dos personagens e tons quentes nos momentos com bons sentimentos. Como os tons quentes da casa da família, onde é quente e aconchegante, já a residência da baronesa é fria e solitária, com uma coloração fria.

A produção acerta em fazer comparações apenas com o uso de bons enquadramentos. Com a borboleta que voa em volta da lampada, como uma armadilha brilhante que o faz voar até seu fim iminente, faz referência a Thorkild. Ou ao número de armas na parede do escritório da baronesa e como é simbólico considerando a personalidade, os traumas e medos de Karen Blixen.

Baseados em fatos 

O filme de 2021 é inspirado em um romance chamado ‘Pagten’ do poeta Thorkild Bjornvig, publicado em 1974. O livro narra desde seu primeiro encontro, à sua relação com a famosa escritora, Karen Blixen, em 1948. Eles se conheceram quando Blixen, com seus 63 anos, aproveitava da fama vinda de sua publicação ‘Den afrikanske Farm’ (Out of Africa) de 1937. 

Ambos selaram um verdadeiro ‘pacto com o diabo’. O que a princípio seria para libertar a mente criativa do poeta, passou a ser um decreto de prisão, onde ele não poderia sair da posse da baronesa. Pois, era essa a relação ‘diabólica’ entre os dois de dominação e submissão.

Ela o manteve praticamente confinado por dois anos na casa de Rungstedlund, ao norte de Copenhague, onde Blixen vivia. A relação deles acabou sendo uma relação de dependência tão tóxica quanto perigosa, onde a culpa se misturava com a manipulação e sedução. Era uma amizade convulsiva, cheia de admiração, mas também de ressentimentos.

Imagem: Thorkild Bjornvig e Karen Blixen

O Pacto

Por fim, ‘O Pacto’ é um bom filme na maior parte do tempo, a obra é aberta para diferentes interpretações dependendo do ponto de vista de cada um. Nada é definitivamente correto, não existe vilão ou vítima, muito depende do olhar que é atribuído para cada personagem. 

O filme também abre espaço para diferentes discussões; sobre a busca pela fama e até que ponto cada um se permite ir para tal, além do questionamento sobre relacionamentos abusivos, traição e perdão.

A produção é recomendável para quem está disposto a se permitir admirar uma obra com uma boa fotografia e uma trama interessante. Mas que esteja ciente do incômodo do que passa perto de thriller psicológico, e longa duração do filme.

Lembrando que o filme estreia no Brasil exclusivamente nos cinemas no dia 07 de abril, com distribuição da A2 Filmes.