Sem medo e com ousadia, O Último Animal é um filme que usa do drama, para denunciar a corrupção do sistema brasileiro em relação ao Jogo do Bicho. Com a direção de Leonel Vieira, o elenco ainda conta com Junior Vieira, Joaquim de Almeida, Duran Fulton Brown, Gabriela Loran, Marcello Gonçalves e Larissa Rodrigues. O longa estreia dia 07 de março nos cinemas brasileiros.
A história
No filme O Último Animal, o público se depara com a batalha diária de Didi (Junior Vieira), um jovem recém-formado e em busca de seu lugar no mundo, numa tentativa de sair da favela. A busca do jovem o faz enfrentar os preconceitos diários por ter crescido em uma comunidade carioca.
Agora, em contra partida, também temos o Alex (Duran Fulton Brown), um gringo que acaba tendo oportunidades que garantem-no uma vida com mais riquezas. Contudo, tais riquezas vem a um custo caro: Alex acaba se envolvendo na ilegalidade do Jogo do Bicho, além de atuar em outras áreas do crime organizado.
Dessa forma, a trama do filme abre espaço para discussões sobre a desigualdade social e os diferentes tipos de discriminação, como o próprio racismo em si. E ainda, denuncia as atividades de milícias e organizações criminosas que são protegidas e sustentadas pelo próprio governo corrupto brasileiro. Vale lembrar que o filme também é baseado em fatos reais.
O outro lado da história
Resumindo a premissa do filme: O Último Animal é uma história sem medo, que denúncia como o crime organizado respinga em comunidades mais pobres, ao mesmo tempo em que expõem como os seus moradores precisam sobreviver quando são rejeitados pelo restante da sociedade.
Podemos até afirmar que é a outro lado da moeda de Tropa de Elite, de José Padilha. Enquanto no filme com Wagner Moura temos a denúncia de um sistema corrupto, envolvendo até a própria polícia, já em O Último Animal, temos o outro lado desse cenário. Ou seja, aqui, o público se depara com a vida nas comunidades, e como elas são reféns deste sistema. Um sistema em que se beneficia da fragilidade e do preconceito.
O único problema com a ousada crítica social é a forma ora confusa ora rasa de apresentar como funciona tal corrupção do sistema em si. O longa tenta explicar a lavagem de dinheiro e a operação, por exemplo, , porém, ao tentar trazer isso para a narrativa, o longa acaba se complicando, gerando algo confuso e raso.
Narrativa e desenvolvimento
Um ponto positivo do filme está na forma em que o longa segue uma narrativa e também faz suas críticas. Aliás, o desenvolvimento da história se dá através da presença de um narrador-personagem – o Didi (Junior Vieira).
Dessa forma, com um linguajar mais informal, como se fosse uma conversa mesmo, o personagem traz o público para a história em si, alimentando mais a empatia e carisma do espectador com sua situação. E mais: podendo assim ganhar aval do público para suas atitudes. Se pararmos para analisar, é o mesmo que Capitão Nascimento (Wagner Moura) faz em Tropa de Elite: ele narra a história para o público ficar mais próximo de sua perspectiva, e assim apoiá-lo em suas atitudes (mesmo quando cruéis).
Contudo, a narrativa ganha ainda mais pontos quando vai além, e se constrói de forma criativa, usando do criticado Jogo do Bicho para se desenvolver. Então, se usa da simbologia e crença popular para introduzir certos acontecimentos. Por exemplo, cobra significa traição, e assim abre as portas para uma traição ou quebra de confiança na trama.
Portanto, sem dúvidas, a narrativa é um elemento chave de O Último Animal, sendo inteligente e carismática, te deixando atento para cada acontecimento do filme.
Elenco e personagens
Quando se tem um roteiro tão forte, o filme precisa de atores que segurem a responsabilidade e entreguem algo de mesmo nível. Assim, podemos falar do elenco. As atuações chegam ao nível esperado para a história, porém, há performances mais naturais que outras.
Isso é, se temos atores que conseguem trabalhar com seus personagens de forma tranquila, também temos outros que precisam se esforçar ainda mais para chegar no nível esperado. Melhor dizendo, o elenco entrega atuações, porém, há atores que se sentem mais a vontade com seus personagens, enquanto outros precisam se esforçar mais. Ao final, o esforço é válido, e não atrapalha a experiência.
Outro ponto importante a se falar se refere a maneira como os personagens se desenvolvem no decorrer do filme. Cada personagem tem o seu próprio andar e seu crescimento. Alguns são mais profundos, trabalhados em camadas bem organizadas, com grandes viradas em seu desempenho com a história. No entanto, infelizmente, outros se desenvolvem de forma bem rasa.
Vale a pena assistir O Último Animal?
Com ousadia e coragem, a narrativa de O Último Animal é o ponto chave do filme, apresentando um desenvolvimento criativo ao mesmo passo que conquista a empatia de seu público, diante personagens e cenários reais e profundos.
A trama também se constrói buscando uma reflexão sobre questões sociais, e as mais diversas desigualdades do país. Em situações frágeis, as pessoas são arrastadas pela onda social do preconceito, do qual suas consequências reafirmam o próprio preconceito em si. Dessa forma, o longa mostra o outro lado da moeda da sociedade, expondo quem é o verdadeiro vilão por trás deste “mal social“.
Leia também: Polêmica: as grandes injustiças do Oscar
Logo, O Último Animal é um filme que vale muito a pena ser assistido. sim. O longa estreia dia 07 de março nos cinemas brasileiros.