A tão aguardada sequência de “Beetlejuice” traz de volta o caos sobrenatural, tentando resgatar o espírito anárquico e irônico do filme original, mas, ironicamente, parece que apenas seus fantasmas estão realmente aproveitando o show.
Enredo e Temas
A história gira em torno de Lydia Deetz (Winona Ryder), agora adulta, e sua filha adolescente, Astrid (Jenna Ortega), que vivem uma vida bem diferente do primeiro filme. Lydia agora é uma paranormal, que trabalha na TV explorando seus poderes sobrenaturais, vistos no primeiro filme. Sua filha, uma adolescente rebelde como a mãe, odeia essa exposição e vive em pé de guerra com ela. Porém, uma perda repentina na família vai fazer com que as duas se aproximem, nessa vida e na pós-vida.
Mas para o bem da nação, melhor não comentar nenhuma das subtramas, justamente porque são elas a força motriz desse longa, e garantem as surpresas e as boas risadas. E o que pode parecer ótimo, na verdade, é um dos maiores problemas da sequência de 1988.
O filme tenta dar espaço a cada um de seus personagens e cada uma de suas sub-tramas, mas, no final, muitos deles acabam sem um propósito claro ou um desfecho decente. Isso gera frustração, pois certos arcos começam de forma promissora, mas simplesmente se perdem ou terminam de maneira abrupta.
Personagens e Atuação
O retorno de Winona Ryder como Lydia é um dos grandes acertos do filme. Sua presença é poderosa e traz um tom de nostalgia e familiaridade que funciona perfeitamente. Catherine O’Hara também brilha em seu retorno como Delia Deetz, oferecendo o toque excêntrico que o filme precisava. Michael Keaton volta como Beetlejuice, e seu carisma inigualável ainda é capaz de roubar cenas, mas o roteiro não faz jus ao seu personagem. E curiosamente, Keaton retoma um papel seu de décadas e entrega uma atuação impecável, assim como fez em Flash. O Beetlejuice maligno e perturbador do primeiro filme aqui é suavizado, quase irrelevante, parecendo mais um coadjuvante no próprio caos que deveria liderar, o que é um pecado com o ator.
Entre os novos personagens, Jenna Ortega, apesar do grande potencial, acaba se afogando no estereótipo da adolescente rebelde, sem a profundidade que Lydia trouxe no filme original. Sua sub-trama é apressada e termina de uma forma rápida, rasa, que zomba da expectativa do público. Por outro lado, Willem Dafoe, como um policial do além, é um dos poucos novos personagens que realmente funciona, trazendo humor e carisma em suas cenas.
Mas para mim o grande e maior pecado do filme ocorre com Monica Bellucci, e sua personagem Delores, ex-esposa de Beetlejuice. Sinceramente, foi totalmente desnecessário e sem sentido a trama da sua personagem. Ela, a quem deveríamos chamar de vilã, não exerce nenhuma função para tal, a não ser o de matar e perseguir, de forma ridícula e em círculos. Essa inserção, inclusão, é uma alusão a um detalhe do primeiro filme, em relação ao dedo de Juice com um anel de noivado (baita sacada do Burtin, não é mesmo?!)
Ah, e antes que me esqueça, a revelação do filme são os Encolhidos, principalmente o Bob, que ganha nosso coração e salvam boa parte das risadas. E é bom rever alguns personagens icônicos, como o verme de areia, que traz aquela nostalgia.
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Tim Burton dita ritmo e atmosfera, mas acaba perdendo mão no roteiro
Tim Burton continua a impressionar no aspecto visual e no abuso do sombrio, e aqui ele age sem a pretensão de fazer algo grandioso. Em entrevista recente, ele disse para não esperarem uma trilogia Beetlejuice, e parece que essa decisão reflete totalmente no roteiro. Sim, todos os elementos que caracterizam sua carreira estão lá, do jeito que estamos acostumados em seus filmes, como gostamos e amamos.
Mas “Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” tenta compensar a falta de substância do roteiro com mais sangue, jumpscares e suspense barato, quase parecendo uma paródia ou um besteirol adolescente. A sensação sombria e mágica do primeiro filme foi substituída por uma estética que, embora visualmente interessante e marca registrada de seu diretor, carece de autenticidade. O uso exagerado de maquiagem e efeitos práticos, que antes encantavam, agora parece falso, como se o filme estivesse brincando consigo mesmo e com a gente.
O maior problema mesmo reside em seu ritmo desajeitado e lento. Ele gasta muito tempo introduzindo personagens irrelevantes e construindo sub-tramas que nunca são desenvolvidas de maneira satisfatória. Quando o filme começa finalmente a engrenar, ele termina abruptamente, deixando uma sensação de vazio. Essa sensação de frustração é inevitável — justo quando o filme começa a ficar interessante, ele simplesmente acaba, e acaba de uma maneira boba e cinica.
A fotografia é belíssima, e a atenção aos detalhes nas cenas do além-vida é de encher os olhos. A trilha sonora de Danny Elfman, mais uma vez, é um dos pontos altos, trazendo uma energia quase circense que complementa bem o caos na tela. Mas, mesmo com essa liberdade criativa, Burton parece mais focado no visual do que em contar uma história que faça sentido.
Vale a pena assistir?
No fim das contas, “Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” oferece boas risadas, momentos de nostalgia e um espetáculo visual, mas carece de substância. O público entra esperando o caos icônico de Beetlejuice, mas o que recebe é uma sequência fragmentada e, em muitos momentos, sem propósito. O filme parece ter medo de se levar a sério, o que pode funcionar para alguns, mas deixa um vazio emocional para quem esperava mais. Embora seja divertido em muitos aspectos, senti falta de mais alma e intensidade — e, principalmente, de mais Beetlejuice.
No fim, saí do cinema com a impressão de que, enquanto os fantasmas estavam se divertindo, nós, os vivos, fomos deixados de lado.
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