Estrelado por Thalita Carauta e dirigido por Clara Linhart, “Os Sapos” chega aos cinemas em fevereiro, trazendo um roteiro original de Renata Mizrahi. O longa, inspirado em uma história real e na peça teatral homônima de sucesso, mergulha nas complexidades das relações humanas, abordando as dinâmicas marcadas por dependências emocionais.

Sobre o filme

A trama acompanha Paula (Thalita Carauta), que viaja para um reencontro com seus antigos colegas de escola, duas décadas depois da formatura. No entanto, ao chegar ao local, descobre que a confraternização foi cancelada. Sem conseguir ir embora, ela acaba permanecendo na casa isolada ao lado de Marcelo, um desses amigos da escola, sua namorada não assumida, Luciana, e um casal de vizinhos. O que deveria ser um encontro nostálgico se transforma em um dia repleto de reflexões, revelações e tensões, especialmente entre as mulheres e suas relações amorosas.

A história se destaca por sua abordagem sutil, porém incisiva, das relações de dependência entre as pessoas. Embora a narrativa foque na perspectiva feminina, deixando evidente como cada personagem lida com suas próprias carências emocionais, a obra sugere que essas dinâmicas podem surgir em qualquer tipo de relacionamento. Paula se torna o eixo central da história, observando as relações ao seu redor e funcionando como uma mediadora silenciosa dos conflitos, enquanto vivencia silenciosamente o seu próprio drama. 

A relação indefinida entre Marcelo e Luciana, por exemplo, revela uma busca frustrada por afeto por parte dela, enquanto ele permanece emocionalmente inacessível. Já os vizinhos, Cláudio e Fabiana, vivem uma relação marcada pela toxicidade e pelo desgaste emocional. O filme não se esquiva dessas questões e toca na ferida, expondo a linha tênue entre amor e posse.

Os Sapos, filme de Clara Linhart com Thalita Carauta
Livres Filmes & Artes 

Um filme bélissimo que comtempla a beleza das nossas paisagens

A fotografia, assinada por Andrea Capella, se torna um elemento narrativo crucial. A casa simples, situada em uma paisagem deslumbrante no interior do Rio de Janeiro, contrasta com o peso emocional dos personagens. Durante o dia, a luz natural sugere uma atmosfera acolhedora, mas, à noite, a mesma casa se torna sufocante e aprisionadora, refletindo as tensões latentes. A direção de arte de Beatriz Moysés é igualmente impecável, criando um ambiente que intensifica a sensação de isolamento e introspecção. Um detalhe interessante, a casa do filme é a mesma casa que da história original que inspirou o longa, o que mostra o cuidado com que esse filme foi pensado.

Um elenco de peso e uma atuação impecável de Thalita Carauta

O elenco entrega performances envolventes. Além de Thalita Carauta, que brilha no papel de Paula, o filme conta com Karina Ramil, Verônica Reis, Pierre Santos e Paulo Hamilton, formando um conjunto que transita com naturalidade entre os momentos de leveza e os de maior carga dramática. Curiosamente, tanto Thalita quanto Karina são conhecidas por seus trabalhos na comédia, mas aqui demonstram uma impressionante profundidade dramática. Thalita, em especial, se destaca pela autenticidade com que conduz sua personagem, equilibrando delicadeza e força ao longo da narrativa, o que parece ser um dom natural da atriz. 

A direção de Clara Linhart valoriza a essência teatral da obra original. A estrutura do filme se assemelha a uma peça, com atos bem definidos, mudanças de foco precisas e uma construção narrativa que remete ao teatro. Esse cuidado contribui para a intensidade dos diálogos e para a proximidade emocional com os personagens. Nós, como expectadores, somos convidados a participar dessa história, seja pela reflexão, seja pela possibilidade de afinidade com alguma história.

No entanto, o ritmo do filme pode não agradar a todos. Trata-se de uma obra contemplativa, com um andamento mais lento e algumas transições abruptas entre cenas. Além disso, há um uso recorrente de imagens da paisagem, que, em alguns momentos, parecem preencher espaço que poderia ser melhor aproveitado no desenvolvimento dos personagens. Senti falta de saber um pouco mais da história da Paula, por exemplo. 

Vale a pena assistir?

Ainda assim, “Os Sapos” se firma como uma experiência cinematográfica rica e necessária. Sua abordagem sobre a dependência emocional, sob a ótica das mulheres, é sensível e relevante, sem cair na armadilha de discursos panfletários. O filme não apenas convida à reflexão, mas também sugere um olhar mais atento para as relações que construímos e os padrões que, muitas vezes, perpetuamos sem perceber. Mais do que um drama, é um convite à introspecção, valendo a pena ser assistido tanto por mulheres quanto por homens, pois trata de um tema universal e atemporal.