Baseado no livro “Aristóteles e Dantes Descobrem os Segredos do Universo”, escrito por Benjamin Alire Sáenz, o filme “Segredos do Universo” nos transporta para uma narrativa jovem LGBT, que fala sobre um assunto sempre muito discutido: o que é ou não destino e quais os caminhos são tomados quando fazemos escolhas, especialmente quando citamos a palavra universo? A obra cinematográfica, dirigida por Aitch Alberto, estreia dia 30 de novembro e convida os amantes de romance e drama a conhecer os segredos do universo.

Sinopse:

Em um verão inesquecível, os jovens Aristóteles e Dante são unidos pelo acaso e, embora sejam completamente diferentes um do outro, iniciam uma amizade especial, daquelas que duram uma vida inteira. Dante é tudo o que Aristóteles deseja ser: expressivo, inteligente e autoconfiante. Juntos, eles embarcam em uma emocionante jornada pela adolescência e começam a questionar todos os segredos do universo.

Reprodução: Imagem de divulgação do filme "Segredos do Universo por Aristóteles e Dante" / Imagem Filmes
Reprodução: Imagem de divulgação do filme “Segredos do Universo por Aristóteles e Dante” / Imagem Filmes

Sobre a narrativa de “Os Segredos do Universo”

O filme explora a contextualização dos fatos através da narrativa falada, com o personagem que fala sobre os sentimentos, como uma voz interior, o que é praticamente um elemento marcado em histórias que exploram o que é contado em primeira pessoa: a narração com fundo enquanto as cenas se desenrolam, muito presente em obras baseadas na literatura. Esse elemento nos possibilita uma versão audiovisual de como um leitor se sente ao estar lendo um livro.

Com isso, criamos no primeiro momento um conhecimento sobre quem é Ari, que conta brevemente sobre a própria vida e fala das origens mexicanas, além de falar sobre como se sente solitário no local onde mora, destacando a infelicidade que vê diante dos próprios dias. A trilha sonora inicial é de Bronski Beat, com Smalltown Boy, o que caracteriza e reforça o que o protagonista introduz e sinaliza que o filme se passa nos anos 1980.

Aristóteles descobre o universo em alguém

Entre os momentos solitários de Aristóteles, um dia, em um de seus passeios ao clube com piscina, enquanto observa as pessoas, decide entrar na água. Ari, que não sabe nadar e se mantém em um lugar seguro para não se afogar e é assim que conhece o jovem Dante, que no primeiro momento lhe diz: “Você não sabe nadar, não é mesmo?”. Ele, por sua vez, é um excelente nadador e começa a ensinar à Ari sobre como se movimentar na água. A partir desse momento, a vida de ambos têm uma transformação.

Nesse primeiro encontro, a própria história nos induz ao pensamento de que “qual a probabilidade de dois jovens, com nomes tão simbólicos e, de certa forma, tão conectados, se encontrarem em um dia qualquer como que por obra do destino?”.

A partir daí, os dois se tornarão grandes amigos, mesmo com a personalidade descontraída de descolada de Dante e o jeito quieto e sem expressão de Ari. Os dois compartilham vivências e, de princípio, o filme nos propõe sentir o clima e o sentimento de ambos, mas sem deixar isso tão evidente. Mas ainda ficamos com certa dúvida sobre o que virá de tudo isso e se de fato eles gostam um do outro mais do que amigos. Algo revelado no decorrer da obra.

Reprodução: Imagem de divulgação do filme "Os Segredos do Universo" / Imagem Filmes
Reprodução: Imagem de divulgação do filme “Os Segredos do Universo” / Imagem Filmes

O que o “destino” simboliza em “Os Segredos do Universo”

Um fator que conduz a narrativa já vem no título em si. Levando em consideração os aspectos de aquilo que nos é contado no filme vem sendo assunto em pauta, especialmente nas redes sociais, falando sobre a simbologia do universo e tudo o que ele representa.

O filme tem cenas que reforçam essa ideia de olhar para o céu e apreciar a infinidade das possibilidades. Mas, certamente, o que sabemos é que a principal transformação do destino de Aristóteles e Dante é o fato de se conhecerem em um momento essencial da vida de Ari, que ainda não entende sobre aquilo que sente e muito menos sabe como expressar tudo isso. Como se ele realmente precisasse vivenciar a sequência de fatos.

Dante também passa por momentos de entendimentos e mudanças, especialmente quando começa a trocar cartas com Ari, pois ele precisa passar um período fora e, assim, eles mantêm contato através das cartas. A diferença é que Dante parece ser uma pessoa com mais personalidade, seguro de si e decidido sobre o que deseja, enquanto Ari ainda é imaturo para lidar com as emoções.

O protagonista não é cativante

E a proposta é exatamente essa. Aristóteles é o tipo de protagonista que a gente não vai morrer de amores. Pelo menos pra mim, ficou muito evidente que a ideia foi mostrar o quanto ele não sabe expressar absolutamente nada e chega a ter atitudes até mesmo babacas por conta do comportamento e personalidade (ou a falta dela) fria.

Em muitos momentos Ari parece até não estar sentindo nada, mas, de um segundo a outro, ele explode. Tem comportamentos imaturos que destacam a fase que se encontra: a adolescência.

Claro, os fatores familiares e também sociais em relação a ser um estrangeiro também influenciam muito em como ele é. Porém, não posso deixar de dizer que essa falta de emoção nos afasta um pouco de realmente gostar do protagonista. O que, na minha opinião, vem sendo uma proposta literária e cinematográfica bastante explorada: o protagonista não precisa ser sempre o bom moço e isso é o que vai deixar cada vez mais as narrativas explorarem os personagens, sendo diferentes e mais humanos.

Reprodução: Imagem de divulgação do filme "Os Segredos do Universo" / Imagem Filmes
Reprodução: Imagem de divulgação do filme “Os Segredos do Universo” / Imagem Filmes

CERTA NOITE DE VERÃO, CAÍ NO SONO DESEJANDO que o mundo fosse diferente quando eu acordasse. Quando abri os olhos de manhã, estava tudo igual. Afastei os lençóis e permaneci deitado, enquanto o calor entrava pela janela aberta.

(…)

Eu tinha quinze anos.
Estava entediado.
Estava infeliz.
Por mim, o sol poderia ter derretido todo o azul do céu. Aí o céu seria tão infeliz quanto eu.

Do livro “Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo”

Vale a pena assistir?

Antes de tudo, a obra é bastante adolescente e traz questões que muitos jovens já tiveram na vida. Algumas passagens não são muito aprofundadas e senti um pouco de falta da presença de Dante, que no final das contas é quem mais cativa por sua personalidade marcante. O que também me fez questionar como pessoas tão diferentes conseguiram “se entender” tão rápido e construir uma amizade tão sólida ao ponto de Ari até arriscar a própria vida para salvar o amigo (nem é spoiler, tudo bem?).

Pra quem gosta de um romance/drama, com uma história breve e personagens que ainda buscam encontrar a essência de si, vale a pena.

Há também algumas passagens que nos fazem recordar sobre se tratar de um verão de 1987, como a própria trilha sonora traz, as cartas enviadas e o rádio também. Além disso, nos deparamos sobre a violência contra as pessoas LGBT, bastante característico para a década tratada.

Assim, enquanto não assiste ao filme, confira abaixo o trailer do e veja se você também é capaz de descobrir os segredos do universo.