Passagem Secreta é um filme de 2021 dirigido por Rodrigo Grota e que já participou de vários festivais no Brasil. O filme é uma aventura infanto-juvenil que conta a história de Alice, uma adolescente que precisa mudar de cidade e ir morar com seu tio em uma cidade pequena, onde faz novos amigos e tem um recomeço de sua história. Mas tudo muda quando eles decidem invadir um parque e é ali que ela e seus amigos descobre um segredo que irá mudar a forma dela mesma ver sua vida.
Ambientado em uma época passada, que não fica bem clara quando, o filme tem todas as características de um filme nostálgico. Os elementos de cena, os objetos, as roupas, os carros. Essa sensação é interessante quando combinada a história que o diretor Rodrigo Grota quer passar. Claro, não se compara a outros filmes ou novelas de época, mas agrada no começo.
O primeiro ato serve para introduzir os personagens e suas histórias, principalmente de Alice. Mas peca muito ao fazer isso, jogando meio abruptamente quem é a menina e porque ela é como é. Faltou talvez um pouco mais de aprofundamento, já que o final do filme quer mostrar uma outra face da vida da menina, logo, ao que o publico irá comparar? Um dos pontos positivos que o filme traz é a inclusão de um surdo na trama, apesar de bem caricata esse tipo de inserção é sem bem vinda. Também aborda temas complexos, como violência domestica e abusos, mesmo sem aprofundar ou dar uma resposta coerente, ele deixa o recado de que isso não é mais suportável nos dias de hoje.
Falando de elenco, a única atuação que tem um pouco mais de intensidade vem do bom ator Fernando Alves Pinto, que interpreta o tio Heitor. De fato, Luiza Quinteiro até tenta entregar uma boa atuação, e em certa medida consegue, mas o roteiro desperdiça o talento da menina ao embarcar em clichês desnecessários e falas duras e sem intensidade. O elenco infantil que acompanha Alice por outro lado decepciona do começo ao fim. Mas é bom fazer justiça, a culpa não é necessariamente dos atores. Aparentemente essa atuação dura e sem jeito parece ser forçada pela direção, mas que infelizmente não funciona e estraga a experiência.
Agora, é preciso falar que o roteiro de Roberta Takamatsu estraga tudo. É duro dizer as coisas assim, na lata, mas não existe outra forma de analisar um filme sem se ater ao que ele é. Confuso, sem proposito, sem personalidade. O filme que quer se firmar como uma aventura adolescente embarca em vários momentos em um dramalhão adulto profundo com a abordagem mais rasa possível. Assim sendo, não é nem um nem outro. Com um roteiro confuso, que não decide para onde quer ir, a sensação de um looping infinito de falas repetidas e sem proposito, faz de Passagem Secreta um longa que não responde a nenhum das perguntas que ele próprio abriu. O filme se perde em sua identidade, não se firma nem como filme nostálgico nem como filme de época nem como filme de terror.
O último ato, entretanto, é o pior de todos. A transformação da história em um terror noventista, não faz o menor sentido. O tio bonzinho, se torna algo que não é possível explicar. A trama toma outros nortes, e a mistura de gêneros faz de Passagem Secreta uma miscelânea de mal gosto e péssimas ideias.