Pedágio é um daqueles filmes que você vive junto com os personagens, sente como eles, e no final, você torce por eles. Claro, que aqui, fica fácil entender porque e porque torcer. Pedágio poderia muito bem colocar como slogan “inspirado em fatos reais”, mesmo sendo uma ficção, porque é um claro retrato da vida de muita gente.
O cinema nacional ainda tem muitas boas histórias para contar, e novamente eu trago a máxima de que apesar de ser uma ficção, essa história é a de muitas pessoas. Uma mãe solo cuidando de seu filho, tendo um subemprego e um relacionamento tóxico.
Roteiro aborda o surrealismo da realidade
A história de de Suellen, mãe solo, que segue sem aceitar a orientação sexual do filho Antônio, e se vê presa em meio a um mundo conservador, preconceituoso e opressor. Na tentativa de curar sua “doença”, Suellen entra para o mundo do crime para pagar um tratamento dele.
Essa história tem tantas nuanças, o que demonstra o poder e a abrangência desse roteiro. Um ponto interessante é que a trama é pelo ponto de vista dela, mãe, e não do filho. Ela não aceita, ela não defende, ela não entende, e no fim, é ela quem está precisando de ajuda.
Por outro lado, Tiquinho, vive sua vida como ele quer, experimentando sua sexualidade, seus desejos, seus sonhos, seus medos. Mas ao seu redor, ele sofre as violências mais absurdas, desde a repressão desnecessária de sua mãe até perder oportunidades de emprego.
O tom do roteiro é muito acertivo, não há aqui somente um drama, ou somente uma comédia, é uma mistura, que te faz rir de vergonha, por perceber que o absurdo mostrado na tela, infelizmente, não é tão absurdo assim.
Fotografia e Trilha Sonora são a cereja do bolo
Luis Armando Arteaga, que assina a fotografia, explora de maneira brilhante o cenário de Cubatão, São Paulo. Com um ar poluido, para mim, se torna uma grande metafora da poluição social que vivemos. O foco sempre nos olhares também diz muito, diz sobre o sofrimento de Tiquinho, sobre o desespero de Suellen, sobre a hipocrisia de sua melhor amiga, sobre o charlatão que promete curar o que não é doença.
E aqui pra mim mora o grande ponto dessa trama toda, como que o diferente incomoda, mas o errado não. Ora, tratam o homossexual como doença, como algo a ser tratado, mas o crime, a traição, o charlatanismo, tudo isso é “normal” e aceitável.
Por fim, preciso dizer que esse é um dos meus filmes favoritos de 2023, pela estética absurdamente linda e bem produzida e pela coragem de falar de temas tão importantes.