O filme “Pedro e Inês”, dirigido por António Ferreira e protagonizado por Diogo Amaral e Joana de Verona, é uma coprodução  entre Portugal, Brasil e França, derivado do romance “A Trança de Inês” (Rosa Lobato de Faria), que por sua vez é inspirado na famosa lenda portuguesa que conta a trágica história do amor proibido entre o Rei D. Pedro I e sua amante Inês de Castro. 

O filme retrata a história de amor de Pedro e Inês como um romance atemporal, capaz de quebrar as barreiras do espaço e do tempo. O longa é dividido em três núcleos principais: passado, presente e futuro, onde os protagonistas se reencontram através dos tempos, em diferentes épocas, contextos e circunstâncias, mas, apesar disso, seu amor sempre é impossível e possui o mesmo trágico fim. 

Ao meu ver, um dos fatores mais impressionantes da produção é que todos os atores do elenco se mantêm os mesmos nas três linhas temporais alternativas da obra, o que demanda uma caracterização muito distinta para que a proposta funcione bem. Para isso, a equipe de produção apostou tanto em mudanças físicas, como cortes de cabelo diferentes e figurinos característicos, quanto em alterações no plano pessoal dos personagens, como suas profissões. Nesse âmbito, é possível perceber que houve um bom planejamento para que, apesar das variações, a essência dos personagens não mudasse – o que é muito importante para a história. 

A fotografia e trilha sonora do filme são coerentes, porém não impressionantes; o que não é necessariamente algo ruim, visto que a sobrecarga de emoções que o enredo carrega talvez seja tão grande por si só, que uma trilha sonora e fotografia mais simples se fazem mais adequadas para que o conjunto da obra não resulte em algo muito exagerado. Um grande destaque da produção é o trabalho fenomenal de Diogo Amaral, responsável por conduzir os acontecimentos do filme na voz de Pedro de maneira emocionante em uma narração lírica e poética. 

Em relação ao roteiro, senti falta de um desenvolvimento maior de alguns pontos que seriam interessantes para uma melhor compreensão da história. Ao longo da narrativa, além dos três universos principais, também nos deparamos com uma quarta linha temporal, onde temos acesso aos pensamentos e delírios de Pedro em um hospital psiquiátrico após a morte de Inês; onde o protagonista narra suas diferentes vidas, tratando-as como simultâneas. Contudo, não fica claro se a confusão que isso gera no telespectador é proposital, ou se é causada apenas por uma falta de explicações quanto a natureza fantasiosa desse ponto específico da obra, que destoa dos demais. Além disso, o desenvolvimento superficial de alguns personagens nos impede de entender os motivos que antecedem suas ações que se fazem extremamente importantes para o andamento e desfecho da obra.

A ideia de assistir uma mesma história se repetindo diversas vezes paralelamente em mundos distintos pode causar um certo cansaço em espectadores desatentos aos detalhes que diferenciam cada uma das narrativas e, por esse motivo, acredito que “Pedro e Inês” não é o tipo de filme que agrada a qualquer pessoa. No entanto, se você possui interesse em romances de época dramáticos, como Romeu e Julieta, esse pode ser o filme ideal para se emocionar e ainda conhecer um pouco mais uma das lendas mais gloriosas da história portuguesa.