Perrengue Fashion”, comédia dirigida por Flávia Lacerda, traz Ingrid Guimarães e Rafa Chalub em sintonia e uma trama que mistura moda, Amazônia e boas risadas

Perrengue Fashion“, dirigido por Flávia Lacerda, também responsável por “Auto da Compadecida 2“, chega aos cinemas em 9 de outubro com a promessa de ser mais do que uma simples comédia. E, em grande parte, cumpre.

É engraçado no ponto certo, provoca risadas genuínas, emociona em alguns momentos e ainda arrisca discussões importantes sobre consumo, natureza e sustentabilidade.

Perrengue Fashio estreia em 9 de outubro
O filme estreia 9 de outubro nos cinemas | Crédito: Paris Filmes/Divulgação

A força da dupla principal

O maior destaque é, sem dúvida, a química entre Ingrid Guimarães (Minha Irmã e Eu) e Rafa Chalub. A dupla sabe transitar entre roteiro e improviso, sem perder o ritmo ou a graça.

Seja em trocas rápidas de ironia, seja em diálogos mais alongados, eles conseguem manter o público interessado e arrancar boas risadas. Essa sintonia é o coração do filme: mesmo quando o enredo se aproxima do previsível, os dois sustentam a trama com carisma e talento.

Rafa, em particular, mostra um frescor que contrasta com a experiência de Ingrid. O choque entre os personagens, vindos de mundos diferentes, dá dinamismo à narrativa e cria uma relação que nunca perde a naturalidade.

Ingrid, por sua vez, reafirma sua posição como uma das maiores comediantes do cinema brasileiro, com timing preciso e domínio absoluto do gênero.

Outro ponto alto é Cadu, vivido por Filipe Bragança (Cinderela Pop). O ator consegue entregar um personagem com nuances: alguém que, no fundo, carrega muito da mãe, mas segue por caminhos opostos.

Os dois são cabeças duras à sua maneira, e isso adiciona uma camada dramática que impede o filme de ser apenas uma comédia leve. Bragança sustenta bem essa complexidade, tornando Cadu uma figura indispensável no equilíbrio da narrativa.

Cena de Perrengue Fashion
Cena de “Perrengue Fashion” | Crédito: Paris Filmes/Divulgação

Natureza como personagem

A Amazônia, retratada em belas imagens, chega a funcionar como um personagem silencioso, nem sempre tão silencioso assim. A fotografia é um destaque: rios, montanhas, florestas e vilarejos compõem cenários de tirar o fôlego.

Além disso, o filme faz questão de mostrar que essas paisagens grandiosas estão no Brasil, reforçando o tom de orgulho e pertencimento.

Os figurinos também merecem elogio. Como se trata de uma história que lida com moda, o cuidado com roupas extravagantes e referências bem colocadas se torna essencial, e aqui o acerto é completo. É um filme que brilha tanto nos trajes urbanos quanto nos elementos inspirados pela natureza.

O romance entre a personagem de Ingrid e Lorenzo (Michel Noher) segue os moldes de comédias românticas. Beijos, uma cena de sexo e um plot divertido no desfecho. Não há nada de inovador, mas o caminho escolhido não compromete: pelo contrário, diverte justamente porque sabe rir de si mesmo.

Há também momentos que beiram ao clichê, com a presença do “amigo gay”, mas o tom parece consciente e, possivelmente, proposital. A leveza do filme permite esse jogo com estereótipos sem gerar incômodo.

Perrengue Fashion mistura moda e Amazônia
Rafa Chalub e Ingrid Guimarães em “Perrengue Fashion” | Crédito: Paris Filmes/Divulgação

Um contraponto essencial

Michel Noher e Késia Estácio (Luciana) completam o núcleo central ao trazer o lado mais ambiental da trama. Seus personagens são fundamentais para contrapor a visão da cidade, representada por Ingrid e Rafa.

Essa troca de mundos: moda, consumo e aparência de um lado, preservação e simplicidade do outro, dá ao filme uma espinha dorsal temática que o diferencia de comédias genéricas.

A trilha sonora reforça essa dualidade: nas cenas da floresta, ouvimos sons leves e brasileiros. Já nas sequências urbanas, a música ganha densidade, com batidas mais fortes. Essa alternância ajuda o público a mergulhar nos dois mundos e reforça o contraste central da história.

Jonas Bloch interpreta o pai da personagem de Ingrid, trazendo um importante peso emocional para a trama. Sua atuação ao lado da filha é consistente e sensível, embora pudesse ter sido mais explorada.

Vale a pena assistir “Perrengue Fashion”?

No fim das contas, “Perrengue Fashion” é mais do que uma comédia simpática: é um filme que diverte, encanta e faz pensar, ainda que em pequenas doses.

Ingrid Guimarães e Rafa Chalub entregam uma parceria cativante, Filipe Bragança dá profundidade ao elenco e a Amazônia brilha como uma estrela silenciosa, lembrando ao público que o Brasil guarda riquezas naturais dignas de cinema.

Não é um filme que revoluciona o gênero, mas é um que entrega exatamente o que promete: risadas, boas atuações, cenários impressionantes e uma mensagem importante sobre sustentabilidade.

Para quem busca uma comédia leve, bem feita e com pitadas de reflexão, a resposta é clara: sim, vale a pena assistir “Perrengue Fashion“.

Imagem de capa: Paris Filmes/Divulgação