O que significa ser humano? Como definir a humanidade em um ser? Como podemos caracterizar nossa espécie? Essas são algumas das questões mais antigas e complexas da filosofia, que tenta definir a essência, a identidade e a moralidade da nossa espécie. Essa questão também é explorada pelo cinema, que usa a arte para representar e questionar a condição humana. Um exemplo recente e brilhante dessa exploração é o filme “Pobres Criaturas”, dirigido por Yorgos Lanthimos e estrelado por Emma Stone.

O Filme

“Pobres Criaturas” é um filme que desafia as expectativas e surpreende o espectador com sua mistura de humor, horror e emoção. Dirigido por Yorgos Lanthimos, o filme conta a história de Bella Baxter (Emma Stone), uma mulher que é ressuscitada com o cérebro de um bebê pelo cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe). Bella é uma criatura fascinante, que aprende sobre o mundo ao seu redor enquanto vive na casa de Baxter, cheia de outras experiências bizarras. Ela se apaixona por Max McCandless (Ramy Youssef), um estudante de medicina que ajuda Baxter a documentar o progresso de Bella. Em meio a todas essas descobertas, um personagem, um advogado mal caráter, Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), desperta os desejos mais primitivos da jovem, e a leva para uma viagem ao redor do mundo, onde Bella irá descobrir a resposta para nossa pergunta inicial.

Roteiro abre o universo para novas perspectivas

O roteiro do filme explora muito mais do que o óbvio, alterando a obra original para se encaixar no mundo atual. Ele consegue dosar bem o tom entre comédia, drama e terror, trazendo reflexões importantes. A principal crítica, que logo de cara é perceptível, é à sociedade patriarcal e capitalista, que oprime e explora as mulheres, tratando-as como objetos. Além disso, ele também traz à luz questões filosóficas sobre os temas de feminilidade e auto-descoberta.

Inclusive, esse é um ponto do filme que convergem todos os elementos da cinematografia. A sexualidade e o erotismo não servem somente como adereços ao filme, mas atuam como uma personalidade de Bella. Afinal de contas, ela está descobrindo quem é, o que sente, como sente, e não somente fisicamente ou psicologicamente, mas também socialmente. Emma e Mark atuaram lindamente nas cenas de nu e sexo, como uma dança na tela (mesmo em momentos de pura selvageria na cama).

Pobres Criaturas
Foto por Searchlight Pictures

Direção que acompanha o brilho de suas estrelas (ou o contrário?)

A direção de Lanthimos é impecável, ele criou um universo visualmente deslumbrante e estranho, que parece familiar e ao mesmo tempo distorcido. Quase me lembrou os filmes de Tim Burton. O uso de cores, lentes e ângulos cria uma atmosfera de sonho e pesadelo, que reflete o estado de espírito de Bella. A trilha sonora de Jerskin Fendrix também contribui para o clima do filme, com músicas que variam do belo ao perturbador. Em vários momentos, a perspectiva da cena muda, ora pelo olhar de cima, ora pelo olhar debaixo. Essa mudança nos dá a dimensão dos sentimentos dos personagens.

O elenco do filme é espetacular, com todos os atores entregando performances memoráveis. Emma Stone é o destaque, dando uma de suas melhores atuações como Bella, uma personagem complexa e cativante, que passa por uma transformação incrível ao longo do filme. Stone consegue expressar as emoções, os desejos e os conflitos de Bella com maestria, fazendo o público se identificar e torcer por ela. Seu parceiro de cena na maior parte do filme, Mark Ruffalo, também merece destaque. Não somente pela sua atuação, mas pela capacidade de acompanhar Emma em uma atuação iluminada. Willem Dafoe, Ramy Youssef, Jerrod Carmichael, Christopher Abbott e Margaret Qualley também estão ótimos em seus papéis, dando vida aos personagens excêntricos e ambíguos do filme.

William Defoe em Pobres Criaturas - Foto por Searchlight Pictures
William Defoe em Pobres Criaturas – Foto por Searchlight Pictures

Vale a pena assistir?

 “Pobres Criaturas” é um filme que nos faz refletir sobre o que significa ser humano, e como podemos nos reinventar e nos libertar das amarras impostas pela sociedade. O filme nos mostra que a humanidade não é algo fixo e imutável, mas sim algo dinâmico e mutável, que depende das nossas experiências, escolhas e relações. Ele nos convida a questionar os valores e as normas que regem o nosso mundo, e a buscar a nossa própria felicidade e autenticidade. É um filme que vale a pena ser assistido, pois é uma obra-prima do cinema, que combina originalidade, criatividade e sensibilidade.