Prisão nos Andes, uma coprodução entre Brasil e Chile, o filme estreia nos cinemas nacionais no dia 19 de setembro. A trama, baseada em uma história real, acompanha cinco torturadores que trabalharam para a ditadura de Augusto Pinochet. Eles cumprem suas penas em uma prisão localizada aos pés da Cordilheira dos Andes. No entanto, o local mais parece um hotel cinco estrelas, repleto de mordomias, fazendo com que seus crimes pareçam ter valido a pena.
Assim como o Brasil, o Chile também enfrentou uma ditadura militar. Em 1973, o general Augusto Pinochet liderou um golpe de estado, financiado pelos Estados Unidos. Durante 17 anos, a ditadura cometeu graves violações contra a democracia, incluindo perseguições e assassinatos de opositores. Prisão nos Andes, dirigido por Felipe Carmona, se passa 40 anos após o fim desse regime. No filme, cinco dos mais cruéis oficiais do exército de Pinochet estão na prisão, condenados por crimes contra a humanidade. Mesmo assim, o foco do filme não é apenas a história, mas também a ironia presente na narrativa. Carmona destaca como o fascismo, tanto no Chile quanto no mundo, ainda sobrevive nas sombras.
O filme nos mostra logo no início que esses criminosos vivem em uma luxuosa “prisão” aos pés das Cordilheiras dos Andes. Esse contraste absurdo define o tom sarcástico do diretor. Os ex-militares estão presos, mas são tratados como hóspedes de um spa de luxo. Guardas penitenciários cuidam de todas as suas necessidades, desde lavar suas roupas até penteá-los.
A trama ganha força quando um dos golpistas concede uma entrevista a um canal de televisão. Ele acaba revelando, sem intenção, os privilégios que ele e seus colegas desfrutam: uma mansão cercada por jardins, piscina, e refeições de alta qualidade. Aos poucos, conhecemos mais sobre a personalidade desses homens, enquanto a tensão cresce à medida que a opinião pública se revolta contra esse tipo de encarceramento.
Nenhum dos torturadores demonstra remorso por suas ações. Pelo contrário, eles exaltam o militarismo e a ditadura. Felipe Carmona opta por não aprofundar o contexto histórico dos personagens. O interesse do diretor está em explorar a construção peculiar de cada indivíduo, destacando o ridículo de suas ações e reclamações sobre a suposta falta de liberdade.
No início, os personagens são retratados de forma quase mítica, com iluminação dourada que os faz parecer divindades. É assim que eles se veem, pois ainda não abandonaram sua postura de poder. No entanto, essa imagem vai se desfazendo à medida que a trama avança, expondo a farsa do sistema e a falsa punição imposta a esses opressores.
A grande força do filme está no humor cada vez mais sombrio, que acompanha a decadência dos personagens. Cenas surrealistas remetem ao nonsense dos sonhos e pesadelos, refletindo a loucura da realidade. Entretanto, esses momentos também trazem uma reflexão sobre a violência sem sentido que continua a se espalhar, mesmo após o fim da ditadura. O filme sugere que o fascismo ainda existe porque é sustentado por mentes fracas.
Por fim, Prisão nos Andes evita uma abordagem puramente histórica, mas ainda assim discute temas relevantes. O filme reflete sobre a ascensão do conservadorismo na América do Sul e as ameaças à democracia. As atuações caricatas e a decadência retratada por Carmona evidenciam o absurdo político. Além disso, os cinco torturadores, supostamente punidos por seus crimes, servem como um lembrete de que o sistema ainda flerta com o fascismo.
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