Trazendo uma história envolvente e focando em 3 personagens, Quando Eu Me Encontrar é a nova produção da Marevolto Filmes e chega aos cinemas nesta quinta-feira (19), pela Embaúba Filmes. Com muita sutileza, o filme brasileiro trabalha com as diferentes camadas do emocional humano diante da despedida de alguém querido, ao mesmo tempo, em que traz o poder musical em representar e expressar o cotidiano em diferentes perspectivas.

Quando Eu Me Encontrar traz uma história dramática e que beira o musical. Nela, o público acompanha como a partida da jovem Dayane transforma a vida da sua família. Sua mãe, Marluce (Luciana Souza), tenta de tudo para não demonstrar o choque que a despedida da filha lhe causou. A irmã mais nova, Mariana (Pipa), enfrenta alguns problemas na nova escola onde está estudando. Antônio (David Santos), noivo de Dayane, se vê num vazio e busca obsessivamente por respostas através da melhor amiga de Dayane, a cantora Cecília (Di Ferreira).

Contando com Amanda Pontes e Michelline Helena estreando na direção, Quando Eu Me Encontrar já conseguiu levar para casa prêmios consagrados de festivais. Dentre eles, por exemplo, o longa levou os prêmios de Melhor Filme e Melhor Roteiro no Festival Internacional de Curitiba, em 2023. O sucesso do longa eleva as expectativas de seu público, o qual poderá se questionar: será que Quando Eu Me Encontrar é bom mesmo?

O cuidado da história em abordar, com sensibilidade, a despedida em várias perspectivas

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Imagem: Divulgação

A trama de Quando Eu Me Encontrar é profunda, com uma construção linear e um desenvolvimento simples, mas que instiga. Aliás, o seu desenvolvimento, mesmo que dividido em três núcleos (da mãe, irmã e noivo), estes se completam, mas de maneira sutil. E essa sutileza reflete muito bem uma sensibilidade em tratar algumas temáticas humanas.

Talvez uma boa palavra que possa representar, em partes, o longa é sensibilidade. Há um cuidado do roteiro em tratar cada perspectiva do acontecimento de maneira singular. Logo, podemos afirmar que há uma representação do luto na despedida de uma figura omissa. Dessa forma, tratar um luto, mas sem haver a morte, cria o choque, ou conflito, emocional, em que cada personagem precisa enfrentar a ausência de uma personagem marcante em suas vidas.

Além disso, um ponto interessante, e um grande acerto do filme, é a própria interrogação que sua trama alimenta. Isso é, ao longo da história o público compartilha da aflição e da dúvida dos protagonistas: afinal, onde está Dayane? Ela está bem? Ela irá voltar?

Assim, esses questionamentos são feitos e compartilhados com o telespectador, até o momento em que a resposta vem a tela. Porém, até então, a escolha do roteiro e a visão das diretoras estreantes, juntamente da atuação do núcleo principal, garantem uma experiência que transcende as telas e a ficção, alcançando a realidade e refletindo o cotidiano de muitas famílias brasileiras.

Quando a música reflete a vida e o pensamento

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Imagem: Divulgação

Dentre os mais diversos cenários, a música pode ser um reflexo da vida em si. A realidade e opiniões de seu compositor ganham vida em meio a suas rimas e estrofes.

Em Quando Eu Me Encontrar, a música conquista um espaço que vai muito além daquele de trilha sonora, tornando-se assim uma narradora do enredo, ou uma voz guardada dos personagens. Em outras palavras, a música no longa funciona como um mecanismo de expor acontecimentos e sentimentos que alimentam o contexto de cada personagem. Assim, através da música, sentimentos reprimidos ganham voz, e o público também se contextualiza sobre situações do passado, sem precisar recorrer a flashbacks.

Portanto, a trilha sonora de Quando Eu Me Encontrar é um fator diferencial, servindo como narrador e voz para os sentimentos e pensamentos enrustidos dos personagens. Muitas vezes, não são eles que cantam as músicas, mas as letras ecoam profundamente em suas personas. Sendo assim, um ponto alto do longa.

Afinal, Quando Eu Me Encontrar é bom mesmo?

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Imagem: Divulgação

Com 87min de duração, Quando Eu Me Encontrar traz uma trama singular por colocar o telespectador no meio de sua própria história. Dessa forma, o público acaba compartilhando da aflição dos personagens, podendo até mesmo questionar “o que aconteceu com Dayane?” ou “onde está essa menina?“, como se fosse alguma conhecida. Assim, a narrativa criada pela direção e o roteiro é um grande acerto do filme.

Aliás, podemos dizer também que o fato da trama ser mais realista, ela caba se aproximando do cotidiano do brasileiro. Isso é, diante de toda a situação e das perspectivas e reações dos personagens, o enredo reflete diversas formas de reações emocionais e humanas diante a despedida de uma pessoa querida. Assim, a ausência do outro e a falta de notícias sobre Dayane permite explorar camadas humanas que beiram ao luto e a saudade, e o leque de possíveis emoções.

Entretanto, quando os personagens não conseguem expressar suas angústias, pensamentos e dúvidas, a música dá voz a este lado reprimido. Sim, o longa não é um musical, mas mesmo assim, sabe como usar a música como um elemento narrativo. Ou melhor, a música em Quando Eu Me Encontrar é um narrador ativo, que alimenta o drama, as perspectivas e sentimentalismo humano. Sendo assim, a trilha sonora é outro grande acerto do longa.

Portanto, diante a tantos acertos, seja pela história em si, ou pela direção e roteiro, ou então pela trilha sonora, Quando Eu Me Encontrar é uma trama delicada, sutil, cuidadosa e que reflete aspectos da vida em si. Sendo assim, uma excelente experiência, a qual vale muito a pena ser assistida, sim!

Por fim, vale lembrar que Quando Eu Me Encontrar chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 19 de setembro.