O mês do orgulho lgbtqia+ mal começou e já temos um lançamento no cinema que com certeza irá animar as comemorações desse mês. Com direção de Hsu Chien e com nomes importantes como Nanny People, Daniel Rocha, Letícia Lima, Zé Victor Castiel, Felipe Abib e vários outros atores importantes, Quem vai ficar com Mário é um filme inteligente e engraçado que traz a tona de uma vez os preconceitos de uma geração que ainda não está acostumada a aceitar as pessoas como elas são.
Mário Bruderlich, um rapaz de 30 anos resolve finalmente visitar sua família e contar para seu pai, um gaúcho de família tradicional, que é escritor de teatro e que mora junto com seu namorado, Fernando. Mas, uma surpresa adia os planos de Mário, que se envolve com Ana, a coach que seu irmão Vicente contratou para ajudar a modernizar a cervejaria da família.
A história desse filme, que foi livremente baseada em um clássico italiano chamado “Mine Vaganti” de Ferzan Ozpetek, é sobre aceitação e sobre a felicidade em ser feliz da maneira como se é. Mas o filme mostra que o caminho para se chegar a essa tal felicidade nem sempre é tão óbvio e ás vezes nem mesmo nossas certezas são absolutas perante as surpresas que a vida impõe. E assim como a vida o filme é cheio de surpresas, várias boas e algumas nem tão boas assim.
Falando do elenco, para um filme que fala de diversidade deixa um pouco a desejar na própria diversidade de atores, mas o próprio diretor fez questão de esclarecer que “Atores não tem gênero, não tem sexo” e que por isso a escolha de atores cisheteros para os papeis dos personagens gays em nada afeta a narrativa e nem mesmo a entrega da mensagem. Sim, de fato a mensagem é muito bem entregue, a atuação de Daniel e Felipe são dignas e bem construídas, com bastante respeito e sem criar aspectos caricatos ou estereotipados. Porém é fato que essa pauta será debatida pela comunidade Lgbtqia+, e sim, deve mesmo ser questionada. A escalação de Romulo Arantes Neto também é um ponto bem importante que deve ser questionado, o ator se envolveu em uma situação bem delicada a vários anos atrás ao ser acusado de ter ameaçado e agredido uma travesti e uma garota de programa na madrugada em 2007, fato que teve desdobramentos bem intensos a época.
A história, em grande parte comedia, consegue entregar também vários questionamentos importantes dentro da temática, com muita leveza, parecem ter levado em conta a história do dia a dia das pessoas que de fato passam pelos problemas que Mário passa durante o filme, como a descoberta, os preconceitos, os medos e as dúvidas, e muito disso se deve ao fato de Nany People ter colocado seu dedo no roteiro para tentar retirar vícios de interpretação e narrativas preconceituosas que poderiam interferir diretamente na mensagem final a ser passada do grande público. Inclusive, o grande evento que desencadeia todo o enredo não é segrego, já que está no trailer, é bem construído e é um momento bem delicado e assim como o grand finale emociona e faz refletir.
As dúvidas vividas por Mario ao longo da trama ganham contornos de drama a partir do momento em que ele se propõe a resinificar sua existência, e o grande sentido do filme é essa busca. Durante vários anos ele achou que sabia exatamente o que ele era, o que ele gostava, e nunca deu margem para as novas possibilidades que já estavam dentro dele adormecido. Talvez esse seja o grande trunfo da direção de Hsu, ter dado asas a imaginação dos atores para criar um novo final para uma história que já tinha sido contada.
Em linhas gerais o filme mais acerta do que erra, entrega entretenimento e dramaticidade dentro de um limite considerado bem justo para o público alvo, além disso é inserido ao longo da trama várias referências a cultura pop e a comunidade Lgbtqia+, mas não iremos dar spoillers. É um filme necessário, que apesar de não ter o intuito de educar presta algum serviço em mostrar que aceitar o outro como ele é faz parte da cidadania e da humanização que tanto desejamos para nossa sociedade.