Desde cedo ouvimos que existe amor à primeira vista, mas Ramona, filme de Andrea Bagney, leva esse assunto a outro nível. É um dos clichês mais usados no cinema, e tão antigo quanto o próprio cinema. 

Desde as comédias românticas clássicas até os dramas contemporâneos, a paixão à primeira vista tem sido retratada de inúmeras formas, desde o encontro casual em um baile de máscaras até a conexão virtual em um mundo digital. Mas e quando ela acontece em um bar, em meio a um despretensioso café? Essa é a premissa do filme que encanta pelo tema e pela fotografia peculiar.

A história

Logo no começo do filme somos apresentados a Ona, uma moça em busca do sonho de ser atriz e ter uma vida mais confortável, longe das mazelas que a sua vida simplória a obriga viver. E seu caminho cruza com um desconhecido, pelo menos até aquele momento. Bruno, um homem maduro, tomando seu café, com uma despretensão no olhar, que causa inveja. E é nesse momento que, como mágica, uma paixão avassaladora surge… pelo menos do lado dele. Já ela, não acredita em amor à primeira vista, ela acredita no amor prático, casamento, filhos, etc.

O que Ona não contava é que seus caminhos iriam cruzar novamente, já que Bruno é o diretor do filme que ela vai fazer o teste, e isso bagunça completamente sua cabeça. Já nesse ponto podemos ver claramente que a intenção do roteiro é gerar dilemas, quase o tempo todo Ona está em meio a dilemas. E isso é gradualmente, assim como a paixão de Bruno aumenta, as incertezas na vida de Ona também vão aumentando. Seja pelo fato dela ter um marido, seja pelo fato dela querer mais, muito mais pra vida dela.

E não posso deixar de falar sobre a fotografia desse filme, que é maravilhosamente pensada. Subvertendo o senso comum, Andrea Bagney escolheu fazer um filme que mescla Preto e Branco com o colorido. Mas diferentemente do que você possa imaginar, ela usa o Preto e Branco na “vida real”, e o colorido somente quando Ona está atuando frente as câmeras. Essa subversão é maravilhosa, porque embaralha nossa cabeça. Ao mesmo tempo, é um sinal claro sobre como funciona a mente de nossos personagens, que veem a realidade como simples e chatas às vezes, mas acham maravilhoso a arte. 

"Ramona - Uma História de Amor à Primeira Vista", uma comédia romântica dirigida e roteirizada por Andrea Bagney.
Divulgação – Fênix Filmes

O amor à primeira vista não encanta mais

Ramona, vivida pela cantora Lourdes Hernández, é também o nome da personagem de Ona. Sim, é uma homenagem aos Ramones, e os pais fizeram uma homenagem para a banda, colocando um fragmento como seu nome. Inclusive, esse é um dos temas presentes no filme também. A todo momento o roteiro toca no assunto da parentalidade, sobre casamento, filhos, tragédia familiar. Ona perdeu seus pais muito cedo, e isso é uma dor que a jovem carrega consigo em todos os momentos. Inclusive, essa dor da perda se manifesta em vários momentos em que ela tenta compreender o que é amor de verdade, já que sendo orfã, não experimentou o amor fraternal.

Por outro lado, Bruno, vivido por Bruno Lastra, parece ser um ser que não se preocupa com nada além do que acredita. Fato consolidado ao longo do filme, onde todas suas escolhas são pautadas pela paixão. Não pela paixão eros, mas pela paixão Ludus, onde tudo parece fazer parte de uma peça shakespeariana. 

A meu ver, o filme tenta nos convencer de que esse amor é real, mesmo que atualmente isso esteja tão fora de foco. E para o filme pouco importa essa noção de realidade, de que as coisas não acontecem assim. O mundo de hoje talvez não acredite mais em amor à primeira vista, inclusive, achando meio estranho essa abordagem. Mas no filme isso funciona, porque não temos essa necessidade de julgamento, sobre realidade e ficção. É uma abstração do senso comum, que funciona muito bem na tela.

"Ramona - Uma História de Amor à Primeira Vista", uma comédia romântica dirigida e roteirizada por Andrea Bagney.
Divulgação – Fênix Filmes

Vale a pena assistir?

Ramona é um filme leve, sem grandes demandas, sem grandes pensamentos. É um romance que nos ilude com suas cenas em preto e branco, mas que é moderno. Essa dicotomia visual, é essencial para que o filme penetre em nossas mentes da maneira que quiser, quase como uma paixão avassaladora. E apesar de ser um filme simplória, com falhas e furos de roteiro que não se explicam, prefiro acreditar que isso é proposital. Que no fim, o que vale é a doce ilusão do amor, aquela, que como uma paixão à primeira vista, soa como absurda, mas que no fim, todos queriam experimentar. Sendo assim, experimente, é um filme que com certeza vai agradar.