A série Round 6, lançada pela Netflix no dia 17 de setembro, tem ganhado grande repercussão nas redes sociais do mundo todo, chegando a marca de Top 1 mais assistidos da plataforma de streaming em mais de 83 países. A primeira temporada conta com nove episódios de aproximadamente 50 minutos cada. Cheia de suspense e cenas chocantes, a série foi muito aclamada pelos telespectadores.
Sinopse: Um grupo de pessoas recebe a proposta de passar por uma série de jogos com a possibilidade de ganhar dinheiro no final. Todos do grupo estão sem grana, repletos de dívidas e sem perspectivas de melhora em suas vidas financeiras. Sem muitas informações sobre o jogo, eles aceitam o desafio. Mas as competições guardam algo peculiar: quem perde, morre.
A produção gira em torno do personagem Seong Gi-Hun (Lee Jung-jae) que é um homem de meia idade, endividado, com uma mãe doente e uma filha pequena. Gi-Hun vive com diversas dívidas com agiotas e bancos, e sua mãe têm que sustenta-lo pois ele não tem nenhum trabalho ou ocupação a não ser apostar em jogos de azar. Após ser desafiado no metrô por um homem misterioso a ganhar um bom dinheiro, Gi-Hun vai para uma ilha onde jogará partidas de jogos desafiadores com mais 455 pessoas para concorrer a um prêmio milionário. A única coisa que ele não sabe é que se perder nos jogos, também perderá a vida.
Todos os jogadores são pessoas como Seong que não tem nenhuma perspectiva de vida, que se encontram cheio de dividas e sem dinheiro para pagá-las. Todos estão perseguindo a quantia surreal de dinheiro que poderia fazer com que cada um de seus problemas desaparecesse, mas a que custo?
A produção apresenta uma similaridade a série de filmes Jogos Mortais, em que a construção da história se baseia em jogos de sobrevivência. Na primeira “brincadeira” os jogadores ficam atrás de uma boneca gigante que cantarola uma música e, ao virar, deve encontrar os jogadores imóveis, caso o contrário, aquele que se mexer é eliminado, literalmente.
Uma das críticas expostas na série é que essas pessoas escolherem participar da competição pela esperança de saírem de uma vida cheia de misérias. A reflexão expõe o questionamento: a que ponto a sociedade chegou para que uma pessoa escolha correr o risco de morrer a ter que voltar pra sua realidade?
O roteiro explora a realidade dos personagens de forma sutil, e utiliza de suas histórias para construir o cenário dos jogos. O amigo de infância de Gi-Hun por exemplo, Cho Sang-woo (Park Hae-soo) é um caso de um antagonista que é acusado de roubar dinheiro de seus clientes e ser extremamente calculista em suas ações. Outro exemplo é a desertora norte-coreana Kang Sae-byeok (Jung Ho-yeon) que no primeiro episódio encontra com o protagonista e rouba seu único dinheiro, mantendo a postura forte porém frágil internamente. Além do paquistanês Abdul Ali (Tripathi Anupam) e do senhor Oh Young-Soo (Oh il-nam) que completam a série com o sentimento de humanidade. Suas histórias, apesar de não serem expostas diretamente, são comentadas e fazem parte de uma construção de ambiente de união e sobrevivência, para mostrar que além de jogadores eles eram pessoas comuns como quaisquer outras.
Com a desenvoltura da série, é possível analisar a atuação de cada ator e como suas emoções são expostas a cada situação. Vale a pena destacar a do ator principal Lee Jung-jae, que apresenta um ar cômico e ao decorrer da série, pela carga emocional da história, sua personalidade é moldada completamente. Além da performance de Jung Ho-yeon, que apresenta uma personagem firme e rígida por fora, mas que por dentro possui medos e inseguranças como qualquer outra pessoa.
A fotografia é bem pensada e colorida, fugindo completamente do estereótipo de suspense no escuro, e a maior parte das cenas são gravadas de dia. Round 6 apresenta uma nova visão de contraste de cores e construção de cenários com o sangue e as cenas de execução apresentadas. Toda a identidade visual da série é combinada com a atmosfera infantil e colorida, fator que combina com a história, pois tudo aquilo não passa de um jogo.
A trilha sonora, no entanto, não é um ponto forte da série. Não é mostrado um foco específico para a construção de uma atmosfera típica de um suspense, sendo a trilha apenas uma ferramenta de composição.
Round 6 merece todo o sucesso que ganhou, pela sua representatividade e inovação de gênero. A história é envolvente e nem um pouco cansativa. Os personagens são identificáveis e humanizados com erros e acertos. Claro que existem fatores que podem agradar ou desagradar os espectadores, como a extrema violência. Entretanto, Round 6 não se apoia como uma série de matança, mas sim como uma crítica à sociedade de consumo e exageros.