Rua Guaicurus é nome de uma das ruas mais conhecidas de Belo Horizonte. E é o nome do filme de João Borges que chega aos cinemas brasileiros essa semana. Para quem não é de Belo Horizonte, a Rua Guaicurus é um dos pontos boêmios mais conhecidos e tradicionais da cidade. Em uma combinação entre documental e encenação, o longa consegue retratar muito bem como é a vida e o universo da prostituição no local.
A realização desse filme pode ser considerada uma afronta à moralidade, porém, a própria existência da rua Guaicurus é uma afronta à moralidade. Uma área da capital mineira que vive abandonada, esquecida pelo poder público. Dessa forma, quase sem investimentos ela sobrevive, como se fosse um microambiente que respira sozinha e no seu próprio ritmo. Vive com suas próprias regras, e que é constantemente julgada pelo pensamento alheio.
Um dos pontos mais importantes da direção de João Borges é a visão simples e objetiva da história que ele quer contar. Com tomadas bem fechadas, ele traz intimidade para cada cena. Talvez até pelo tamanho do espaço em que ele pode gravar dentro dos hotéis, considerados ambientes extremamente sigilosos e de acesso quase irrestrito, o olhar do diretor consegue trazer para tela a sinceridade das atrizes e dos atores.
Elenco de “Rua Guaicurus”
Precisamos falar do elenco, que é composto em sua maioria por garotas de programa que trabalharam na região e por atores profissionais. João Borges não conseguiu autorização dos frequentadores dos espaços para que os filmasse. Por isso precisou contratar atores para interpretar os frequentadores dos hotéis. Isso até poderia ser um problema, mas acabou se tornando um ponto forte, já que o profissionalismo desses atores deu muito mais realidade para as atuações. Essas, que são baseadas em histórias que o diretor coletou em pesquisas no local em 2016. No elenco também está uma atriz para fazer no papel de uma prostituta que estava iniciando na carreira, e que tem em sua história reflexos da vida da maioria das garotas que trabalham na Rua Guaicurus.
Uma das atrizes que atuou no filme, Elizabeth Miguel, de fato trabalhou como garota de programa por lá anos atrás. A atriz conseguiu entregar uma atuação muito convincente, principalmente nas cenas mais dramáticas e de diálogos intensos.
Esse filme tem uma importância muito grande para dar luz e voz àquelas pessoas que ganham a vida no comércio de seus próprios corpos. E o filme consegue fazer isso, porque mostra os seres humanos que estão por trás dos fetiches, do abandono social, do preconceito da sociedade, e que muitas das vezes não encontram outra opção para estar ou fazer outra coisa de sua vida. É importante dizer que o filme é insuficiente em alguns aspectos, o roteiro não tem grande coerência com si próprio, e não há um aprofundamento na história principal, que é da garota que decidiu entrar para esta vida pela primeira vez, mas é claro que isso não desmerece a obra, já que um dos aspectos Percebidos é de que talvez essa improvisação tenha sido proposital.