O documentário Salão de Baile abre as portas de casa e estende o braço para a sociedade que desconhece sobre a cultura ballroom. Divertido e muito contemporâneo, o filme traz um cenário onde diversas houses se juntam para performarem e mostrarem quem são e a que vieram nesse longa escrito e dirigido por dois membros da comunidade.
Sinopse
Na cidade do Rio de Janeiro, as margens da Baía de Guanabara, diversos grupos (houses) se reúnem para dançarem muito. Mais do que um “salão de baile” o lugar é o refúgio de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+. Rejeitados por familiares e marginalizados perante a sociedade, esses dançarinos encontram paz, liberdade e acolhimento na comunidade ballroom.
Mas o que é Ballroom?
A cultura nasceu em 1967 nos salões de baile de concurso de beleza de Drag Queen nos Estados Unidos. Liderado pela drag Crystal Labeija juntamente com sua amiga criaram o evento em protesto a hegemonia dos concursos de beleza drag na época. Assim surgiu o “Primeiro Baile Anual da Casa de LaBeija”, e acabou se tornando também a primeira “house” que abrigava pessoas não brancas da comunidade LGBT rejeitados pelas famílias.
O movimento na comunidade cresceu se espalhando pelo mundo, ganhando reconhecimento por meio de artistas como Madonna no clipe “Vogue” e outros. No entanto, o movimento que cresceu através do esforço de pessoas pretas foi associado a uma mulher branca e isso não gradou muitos.
Em 2015 aconteceu a primeira cena “ball” no Brasil, reunindo diversas pessoas Queens e pessoas trans, A “Conferência das Bruxas” ou “Casa das Bruxas” foram uma das primeiras a se organizar e movimentar socialmente e através delas diversas houses surgiram pelo país, principalmente na cidade do Rio. Algumas das principais casas da cidade participam do documentário mostrando sua história e peculiaridades.
Roteiro educativo e direção consistente
Enquanto nos apresenta o ajuntamento das houses e a participação de cada uma delas, acompanhamos a história da cena ballroom no Brasil, seu início com LaBeija e como a trajetória sustenta as vidas atuais que fazem da ballroom o refúgio das hostilidades vividas no dia a dia.
Sem medo de represálias, a direção de JURU e VITÃ traz a tona toda a essência da cultura para o espectador. Entre o chocante, divertido, sensível e vulnerável, percebemos muito mais do que corpos que dançam. Essas pessoas desejam pertencimento e serem amadas por quem são, encontrando a força e resistência um nos outros para enfrentar o preconceito mascarado.
Conflitos Internos
Ao contrário do que se espera de um documentário, a direção faz questão de mostrar todas as facetas da cultura que, ao mesmo tempo, agrega e abraça, possuem seus estigmas, segregando e afastando pessoas diferentes anteriormente não pertenciam à comunidade. Juru e Vitã levantam pautas importantes dentro a comunidade sobre a participação de pessoas cis-gêneros, heterossexuais e brancas. Além do preconceito com pessoas “transgênero não-binários”, visto que toda a cultura é voltada para pessoas que se identificam com a personalidade feminina.
Essas pessoas que não se enquadram nos moldes “ballroom” são chamadas de “007”. Sim, igual ao James Bond. Pois andam como nômades em cada “ball” buscando a representatividade. Outro ponto interessante abordado no longa é a apropriação da cultura por pessoas brancas e o reconhecimento através disso. Reforçando que os tempos mudaram desde a matriarca LaBeija, mas que a luta é a mesma e só mudam a estratégia.
“Querem faturar com a minha bandeira…” – Frase dita por uma das responsáveis pela cena na cidade do Rio de Janeiro.
Vale a pena assistir Salão de Baile?
Há inúmeros elementos narrativos e representativos da comunidade e da cena Ballroom que mereciam mais destaque nessa crítica. Alguns dele é a representatividade do prêmio Grand Prize e a comercialização da bandeira LGBT. No entanto, até aqui desperto a sua curiosidade para conferir Salão de Baile que estreia no dia 05 de dezembro nos cinemas brasileiros.
Além de abrir as portas da house e guia pelos cômodos mostrando cada camada dessa cultura, Salão de Baile é um filme que a comunidade LGBTQIAPN+ pode olhar e dizer: “é nosso!”. E sim, é de vocês! Sem censura ou qualquer leviandade, essas pessoas podem conferir um filme em cinema nacional que falam claramente sobre a cultura com orgulho e muita representatividade.
Confira o trailer
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