Sorry, Baby de Eva Victor é um drama que retrata o impacto do abuso sexual na vida de uma mulher dentro de um sociedade negligente
AVISO DE GATILHO: A CRÍTICA ABAIXO PODE TER DESCRIÇÃO DE CONTEÚDOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL
O drama Sorry, Baby de Eva Victor marca a estreia da atriz como roteirista e diretora independente. O longa vem colecionando indicações em grandes premiações desde o seu lançamento no Sundance Film Festival no começo de 2025. Este fato é consequência do trabalho sensível e bastante criterioso de sua diretora. O filme estreia no Brasil em 11 de dezembro com distribuição da Mares Filmes.
Na produção acompanhamos Agnes, uma mulher jovem que vive sozinha em uma casa afastada da cidade. Ao longo da narrativa, vemos um pouco do dia a dia da protagonista, recebendo uma amiga em casa e encontrando com colegas de faculdade. Até que em um dado momento, um comentário indelicado desperta um gatilho adormecido.
No capítulo seguinte, o roteiro volta alguns anos antes para explicar “a coisa ruim” que acontece com Agnes. Enquanto a jovem ainda era uma universitária, ela sofre um abuso sexual vindo de uma figura superior. A partir desse momento, uma série de outras violências sistemáticas ocorrem com a estudante, como o descaso no atendimento de saúde, a omissão da universidade e a falta de sensibilidade dos colegas.
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‘Sorry, Baby’ é um pedido de desculpas para si mesma

A única pessoa em quem a protagonista confia é sua melhor amiga, Lydie. A jovem foi a única que a acolheu imediatamente e a apoiou a maior parte do tempo. Entretanto, quando a faculdade chega ao fim, Agnes se vê sozinha após a partida de sua colega de quarto para Nova Iorque.
Agora adulta, Agnes se tornou professora na mesma universidade onde se graduou. Apesar do ótimo emprego, sua vida não parece exatamente como ela gostaria que fosse. Mais de três anos após “a coisa ruim” acontecer, ela continua morando na mesma cidade, na mesma casa e não tem nenhuma atividade favorita de lazer. Assim, ela conta os dias até a próxima visita de Lydie, com quem se sente feliz e segura sempre.
‘Sorry, Baby’ não foca na violência em si, mas no impacto dela na vida da vítima. Podemos observar isso no isolamento da personagem e na dificuldade de manter suas amizades. Ela tenta se manter o mais discreta o possível, através de suas roupas grande e largas, e não se comprometer com ninguém. A direção sensível de Eva Victor torna o tema mais palatável e menos duro, principalmente para nós, mulheres. A atriz e diretora tem quase que um jeito poético de retratar um assunto tão sério e dolorido.
Ao final do filme, a protagonista amarra o enredo quando tem uma conversa, quase como um monólogo, onde diz para outra pessoa tudo aquilo que ela queria ter ouvido enquanto buscava ajuda. Ali, Agnes tenta fazer as pazes com a sua criança interior.
Vale a pena assistir ‘Sorry, Baby’?

Sem sombra de dúvidas, ‘Sorry, Baby’ é um filme que não pode deixar de ser visto. Diferente de outras obras desta geração, o longa de Eva Victor não é explícito, ele se desenvolve nos detalhes, para quem tem ouvidos e olhares atentos. É como se ela tivesse escrito para outras mulheres. Conforme dito antes, apesar do tema sensível, me chamou muita atenção o cuidado em não retratar a violência de forma direta.
Se essa obra pode ter algum pecado, acho que senti falta de uma trilha sonora. Talvez isso tenha sido uma escolha proposital da diretora para representar o estado de espírito de sua personagem. Porém, toda a fotografia é tão simbólica que ela dá conta de carregar e entregar o filme com maestria.
A sensação que eu tenho é que Eva escutou Carla Camurati durante a coletiva de imprensa do relançamento de ‘Carlota Joaquina, Princesa do Brazil’. Durante o encontro, a diretora brasileira refletia sobre como o cinema atual é conservador, ou “careta”, em suas palavras. Camurati afirmou que hoje as produções estão cada vez mais explicitamente violentas, mas o público perdeu a sensibilidade para o tema. Ainda segundo ela, hoje uma cena de sexo incomoda mais do que uma morte.
Nesse sentido, a diretora franco-americana poupa seu público de presenciar algo tão macabro, mas mantém as cenas de romance onde podemos enxergar outro lado dos personagens. Dessa forma, a jornada de Agnes não é fácil, a todo momento tive vontade de abraçá-la e tirá-la daquela cidade tão cinza quanto seu olhar. Contudo, ao final, ela ainda nos ensina uma lição sobre perseverança, fazendo da sua tragédia uma fortaleza. Ela sabe que não voltará a ser como era antes, mas ela aprendeu a conviver com isso.
Sorry, Baby chega aos cinemas brasileiros em 11 de dezembro de 2025.
Imagem de capa: Divulgação / Mares Filmes
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