O gênero terror tem tentado nos últimos anos trazer para a tela novas histórias, novas abordagens, novas escolhas. Bons diretores podem de fato fazer diferença nessas mudanças, principalmente quando eles têm conhecimento e experiência. Mas é claro que nem tudo precisa ser novo, ou moderno, ou inusitado. Velhas fórmulas e velhos conhecidos do público podem e devem ser usados a favor de um bom filme. Esse é mais um longa assinado pela Blumhouse, produtora focada em filmes de terror e que tem conquistado cada vez mais espaço entregando boas produções.
Telefone Preto é o novo filme de terror do diretor Scott Derrickson, que entre outros trabalhos dirigiu “O Exorcismo de Emily Rose” e “A Entidade 2” e “Livrai-nos Do Mal” e que se aventurou em Doutor Estranho, da Marvel. O filme é uma adaptação do conto de Joe Hill, e se preocupa bastante em criar a atmosfera perfeita para que a história seja bem contada.
A história
O filme conta a história de uma onde de sequestros em séries estão acontecendo na cidade de Denver na década de 70. Várias crianças são sequestradas, até que Finney Shaw, um garoto de 13 anos também é raptado. Ao acordar em um porão vazio, escuro e sujo, a única coisa visível para ele é um telefone preto antigo pendurado na parede. Um telefone incomum, que o conecta as vozes das demais vítimas de “Grabbler”, o assassino vivido por Ethan Hawke. Ao mesmo tempo em que Finney luta para sobreviver, sua irmã mais nova Gwen, tem sonhos mediúnicos que revelam ser pistas para encontrar seu irmão e salvá-lo da eminente morte.
Com um roteiro muito firme e justo, a aposta da direção aqui não é nos tradicionais jumpscares soltos a qualquer momento. Na verdade, o que mais impressiona nesse filme é justamente o roteiro inteligente, intrigante, instigante, intenso. Desde o primeiro momento até a última cena, nada é aleatório. Tudo se conecta como uma teia de ideias, e que coloca o espectador como testemunha ocular de tudo que acontece. Esse sentimento de sentir que faz parte do filme é uma característica impressionante que poucos filmes conseguem fazer. A atmosfera de suspense supera a de terror, e cria na mente do espectador uma aflição do que irá acontecer, já que tudo parece ser muito objetivo.
Roteiro é bem adaptado mas revela erros simples de corrigir
Como dito antes, a trama é bem simples, porém, muito bem-produzida. O roteiro foca onde precisa focar, não desperdiça tempo de tela com arcos inúteis. A construção dos personagens é feita sem pressa, e gasta o tempo necessário para apresentar os medos, traumas, e personalidade deles. Dessa forma, a medida em que os fatos vão acontecendo, essas informações vão fazendo sentido. Focado nos traumas dessas crianças, e na relação entre elas, essa aposta é certeira, e ajuda na construção do terror psicológico que vislumbramos na tela.
Mesmo com um roteiro preocupado, dois erros são cometidos e que apesar de não fazerem tanta falta, poderiam deixar a história muito melhor. A motivação principal do vilão não é explicada em nenhum ponto, pelo menos não de maneira objetiva. Claro, um assassino em série pode ter dezenas de motivos para matar, mas seria interessante se pelo menos nos fosse dado uma razão.
Outro ponto que poderia ter sido melhor explorado é a mediunidade de Gwen, que apesar do filme nos dizer que é uma espécie de herança de sua mãe, não é aprofundado ou usado com mais intensidade. Na verdade, em certos momentos parece até inútil ela poder sonhar com o que acontece ou pode acontecer. Somente no final isso se mostra de fato uma ferramenta útil.
As atuações são o grande trunfo
A atuação de Hawke consegue ser monstruosa, com o perdão do trocadilho. Ele é frio, calculista, intimidador, e não deixa em nenhum momento dúvidas a respeito da sua capacidade de matar. Inclusive, o diretor brinca com essa característica ao dar ao jovem Finney as armas para lutar de igual para igual. O ator que interpreta ele, Mason Thames, também dá um show na atuação, apesar da pouca experiência. Mason nunca atuou em grandes produções, tendo feito pequenos papeis. Por outro lado, Madeleine McGraw, a atriz que interpreta Gwen, tem um currículo bem interessante, ela atuou em A Maldição da Chorona, Homem-Formiga e a Vespa, Círculo de Fogo e Criminal Minds. Muito divertida, intensa, e dominando as cenas que faz, a pequena Madeleine supera as expectativas considerando que é uma coadjuvante.
Vale a pena assistir Telefone Preto no Cinema?
Considerando que o longa dirigido por Scott Derrickson é um terror psicológico, que se limita a entregar um roteiro simples, objetivo e muito bem estruturado, a resposta é sim. Porém, já advirto logo de começo, se você procura um filme de terror, cheio de sangue, espíritos malignos, sustos a cada 5 minutos, esse não é o filme pra você. Scott Derrickson se preocupou em fazer um filme de suspense com pitadas de terror. Ele foca no vilão inteligente, audacioso, cínico, musculoso e mascarado.
A maneira como Finney tem que lutar pela sua sobrevivência é bem legal de se ver, principalmente se considerarmos que são nesses momentos que acontecem a maior parte das “assombrações”. Um ponto bem curioso da história, é que o roteiro nos apresenta Gwen como sendo a vidente, porém, é Finney quem de fato acaba tendo os contatos mediúnicos. Por fim, eu deixo uma pergunta em aberto. Será que o Telefone Preto no porão existia mesmo, ou era uma ilusão criada pelas entidades espirituais para que ele pudesse sobreviver? Será que era criado pelo sentimento de vingança latente entre todas as outras vítimas? Dessa forma, fica aqui o questionamento.