O tempo é relativo, assim dita as leis da física, mas tal frase ficou imortalizada pelo seu uso por Albert Einstein na teoria da relatividade. Através das nossas percepções o tempo pode ser mais ligeiro quando estamos felizes e passar bem devagar quando estamos enfrentando alguma dificuldade, mas no fim, o tempo corre conforme ele sempre correu. Em “Tempo”, M. Night Shyamalan nos leva a ter outra percepção do que o tal tempo é, podendo levar as pessoas ao seu pior estado ou ao seu melhor momento.

Shyamalan introduz o espectador ao paraíso logo no início, árvores, um mar azul, o céu limpo e brilhante, pessoas bonitas (e ricas) e um hotel resort de se ver em filmes e claro, uma família linda e harmoniosa é introduzida. A obra de Tempo é uma adaptação bem livre da graphic novel francesa Sandcastle mas Shyamalan conduz o filme a sua maneira, e com isso o ar de suspense e terror digno dos anos 80 e 90 ficam claros.

Guy (Gael García Bernal) e Prisca (Vicky Krieps) são pais de Trent (Nolan River) e Maddox (Alexa Swinton), é justamente nessa família que o enredo foca quase boa parte do filme. O conflito pessoal dos pais, que afeta diretamente o humor e os sentimentos dos filhos, é colocado para o público logo no primeiro ato, porém somente ao longo da história entendemos as causas que levaram a situação dos dois. O ápice sentimental do filme, inclusive, responde todas as estas perguntas de maneira bem inteligente.

A escolha do elenco tem um peso muito importante nesse longa uma vez que a troca de atores e atrizes durante toda a trama é um ponto que se destaca entre todos os outros. A medida em que os personagens vão envelhecendo por conta da praia a troca de atores acontece a todo momento, e o pessoal da escalação de elenco fez um trabalho muito bom ao achar pessoas com biótipos tão parecidos.

A fotografia do filme é incrível, praias maravilhosas ganham contornos ainda mais deslumbrantes com as tomadas perfeitas, cortes precisos e que valorizam os detalhes. Inclusive, esse é outro ponto muito interessante na obra, a direção de fotografia e a edição fizeram com que o filme se tornasse intenso nos cortes e valorizando o ambiente, independentemente dos personagens.

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Em alguns momentos porém o filme se torna muito confuso e previsível, e mesmo não sendo segredo para o espectador o real problema da praia, se perde um pouco a capacidade de esperar novas reviravoltas do segundo ato em diante, deixando todas as fichas para um final que era totalmente previsível. Nem mesmo a motivação que justifica a carnificina que ocorre na praia consegue sustentar gran finale, deixando muitas perguntas sem respostas. O filme acerta em enredo e roteiro mas consegue se perder totalmente na execução da ideia, deixando a cargo do espectador montar sozinho seu clímax baseado no que julga mais importante.

Apesar de pertencer a história original e ao roteiro, é impossível não deixar de mencionar que várias ocorrências no filme são bizarras, como a sexualização das crianças em vários momentos. Outro ponto é que é nítido porém velado a inserção do tema racismo na obra, e mesmo com o Shyamalan dizendo que tentou ser o mais plural possível na escolha do elenco, durante a obra isso não se concretiza.

Um terror interessante, forte, reflexivo, intenso e até certo ponto sensível, é assim que definimos o filme Tempo. Se pudesse escolher uma palavra para definir este filme seria “Surpreendente”, e não subestime a obra pelos pontos negativos apontados aqui, no clímax do cinema é quase impossível levar isso em consideração.