Uma das coisas que mais me fascina em ser crítico de cinema é poder assistir filmes que provavelmente eu não teria oportunidade de assistir na TV, e esse é o caso de “Teoria dos Vidros Quebrados”. O filme é uma coprodução entre Uruguai, Brasil e Argentina, e foi o escolhido do Uruguai para representar o país no Oscar®.
O filme conta a história de Cláudio, um funcionário de uma companhia de seguros, que recebe uma promoção e é designado perito em uma cidadezinha do interior. O que seria motivo para comemorar se transforma em pesadelo quando, ao chegar no local, ele presencia a pior onda de incêndios de carros na história do país. Encurralado pelos clientes, moradores um tanto peculiares da região, Cláudio se vê pressionado a cobrir os seguros num ambiente hostil e ao tentar esclarecer os crimes descobrirá que muitas coisas não são o que aparentam.
Escrito por Diego Parker Fernández e Rodolfo Santullo, o filme é inspirado por uma teoria, a mesma que dá nome ao filme. “Teoria dos Vidros Quebrados”. Uma teoria que diz que uma vez iniciada uma ação de violência, como quebrar um vidro de um carro, um processo interno nos indivíduos daquele local é desencadeada, algo que os leva a vandalizarem este objeto até a sua destruição, independente de nível social ou econômico onde este objeto foi deixado.
O filme e suas sutilezas
Dadas as explicações é hora de falar do filme. A leveza com que tudo acontece nesse filme explica por que ele é tão interessante. Filmado em nas cidades uruguaias de Montevidéu e Aiguá, é como se estivesse assistindo a um filme brasileiro. A semelhança é tamanha que quase parece com qualquer cidade do interior de Minas Gerais. E por que isso é importante? O cinema latino tem essa característica de nos fazer sentir em casa.
É bem curioso como que esse filme pode ser ao mesmo tempo simples e intenso. Simples pela forma escolhida para se contar a história, e intenso porque a história vai crescendo conforme se passa o tempo. A busca em descobrir quem está causando os incêndios, a crescente onda de violência, as investigações, os personagens caricatos. Dessa forma tudo isso vai embolando o meio de campo, como costumam dizer. A riqueza nos detalhes é algo que impressiona também, mostrar sutilezas como a poeira das estradas de chão, as roupas e as cores. Mérito de Diego “Parker” Fernández, que consegue trazer para dentro da tela um filme divertido, interessante e com atuações bem distintas.
Atuações
No elenco temos os brasileiros Roberto Birindelli (“Nos tempos do Imperador” e “Polícia Federal: A Lei é para todos”) e Lourdes Kauffmann. O protagonista é o argentino, Martín Slipak (“A Noiva do Deserto”) e, completam o time, os uruguaios César Troncoso (“Benzinho”) e Verónica Perrota (“Mulher do pai”).
Martín, que interpreta Claudio, consegue entregar uma atuação bem consistente. Achei bem divertida a maneira com que ele muda de feições durante o filme, passando de um empregado orgulhoso para um injustiçado amedrontado, e por fim, um detetive impressionante. A história paralela entre ele e sua esposa, também é algo que dá robustez ao filme. Dessa forma a intenção é justamente fazer-nos sentir familiarizados com algumas situações.
O filme tem momentos bem engraçados, principalmente nos momentos em que Claudio se pega pensando nos problemas e os fundos musicais o atrapalham, é hilário. A comédia aparece em vários momentos, por exemplo, em cenas em que no primeiro plano temos Claudio procurando pistas, e as mesmas acontecem no segundo plano, bem no estilo comédia pastelão.
Por fim, gostaria de deixar um recado ao diretor: A música da candidatura do deputado não sai mais da cabeça.