Tivemos a oportunidade de assistir ao The Bay of Silence (Título em português: O Lago do Silêncio), filme da diretora holandesa Paula van der Oest. Mesma diretora da comédia romântica Zus & Zo, a qual foi indicada, na época, ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Por fim, ela continuou nas duas décadas seguintes a construir uma carreira respeitável com thrillers bem recebidos, filmes românticos e dramas. 

O título do filme é baseado  em uma praia italiana, Baia del Silenzio, lugar paradisíaco na Itália, em que a história começa. Um conto hipnotizante e intrigante de segredos, mentiras e amor. O filme, baseado no livro de  Lisa St. Aubin De Teran, entrega um enredo lento, mas conciso,  graças ao trabalho da roteirista Caroline Goodall. Segue a sinopse:

Will acredita que sua esposa Rosalind é inocente da suspeita de assassinato de seu filho, apenas para descobrir a verdade devastadora por trás do passado dela, que a liga a outro crime não resolvido.

IMPORTANTE: abaixo há spoiler do filme, e qual apresenta gatilhos ao abordar temas sobre violência sexual e saúde mental. Caso não se sinta confortável com os assuntos, podemos recomendar outras críticas.

Sobre The Bay of Silence

No fundo, The Bay of Silence. é uma história de amor. Uma história de amor entre Will (Claes Bang) e sua nova esposa, Rosalind (Olga Kurylenko), que percebe sua vida idílica começar a se desfazer após o nascimento de seu filho.

Após o início na Itália, Will carrega Rosalind até a porta de sua nova casa emLondres. Ela está grávida e enquanto ele brinca no quintal com suas filhas gêmeas de 8 anos, de um relacionamento anterior (Lilibet e Litiana Biutanaseva) de Rosalind, ela cai de uma varanda quebrada e é levada às pressas para o hospital.

O bebê, um menino chamado Amadeo, é salvo, mas Rosalind fica profundamente abalada, convencida de que teve gêmeos novamente e que a morte de um deles está sendo escondida dela. 

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Imagem: Divulgação/Vertical Entertainment

O início do caos

Através de uma caixa entregue por correio, Will encontra pistas perturbadoras que o levam a uma casa na costa da Normandia, onde uma tragédia revela a extensão alarmante da fragilidade de Rosalind. Ele também descobre o quão pouco sabia sobre o passado de sua esposa, já que sua mãe, Vivian (Alice Krige), cautelosamente revela detalhes, enquanto seu ex-padrasto, Milton (Brian Cox), um galerista sofisticado que também cuida do trabalho de Rosalind,  se mostra bastante evasivo. 

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Imagem: Divulgação/Vertical Entertainment

Suspense psicológico

Conforme dito, após o incidente com Rosalind e com um estado mental obviamente em declínio, ela desaparece com seu filho pequeno e suas duas filhas, logo após receber a caixa pelos correios.

Certeiramente, esse momento leva Will a tentar descobrir não apenas para onde todos foram, mas o motivo pelo qual Rosalind está tão torturada, tão quebrada.

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Imagem: Divulgação/Vertical Entertainment

Investigando o passado da esposa, Will começa a descobrir segredos que alguém fez de tudo para manter escondidos, mas o que ele descobre inicialmente não é suficiente para evitar a morte de seu filho, uma morte da qual Rosalind é a principal suspeita. 

Inabalável em seu amor, Will não irá parar até chegar à raiz dos problemas de Rosalind, mesmo que isso signifique encontrar a chave e abrir a caixa de Pandora do passado para libertá-la.

Avaliação

Particularmente, os flashbacks são eficazes como ferramentas para contar histórias. Algo que funciona bem em The Bay of Silence.  Os trechos constroem uma visão climática em preto e branco no terceiro ato, que são mostrados de forma vibrante.

Ao optar por esta vibração, van der Oest traz tacitamente o frescor cortante de cada elemento da história, como se tivesse acontecido ontem; a dor ou a memória não desapareceram nem um pouco.

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Imagem: Reprodução/The Bay of Silence

Por parte do elenco, Claes Bang é incrível como pai e homem de família. Já Olga Kurylenko, surge com uma aparência natural, trazendo uma Rosalind fresca, jovem e livre – aspectos que vão se deteriorando à medida que a saúde mental da personagem vai se agravando. 

A história de amor do casal, que antes do nascimento do filho Amadeo, parecia um conto de fadas desmorona.

Além do conto de fadas

Entretanto, sabe-se que, os melhores contos de fadas – como os dos Irmãos Grimm – são na verdade bastante sombrios, e este conto de fadas de Will e Rosalind certamente não foge do esperado. O que ela sofre é obviamente muito mais do que depressão pós-parto. 

Como citado anteriormente, começamos a vê-la mudar conforme ela passa de um rosto fresco de porcelana para um rosto pálido e encovado. A personagem adquire olheiras escuras e um vazio profundo ao redor dos olhos; uma aparência esquelética quase deteriorado que combina com sua decadência mental. E temos Will, amoroso e solidário, mas confuso.

Assistir Rosalind em um surto psicótico completo é impressionante. Acreditável, assustador e comovente. E isso leva você quase ao ponto da obsessão a saber mais, a saber o que a levou a isso.

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Imagem: Reprodução/The Bay of Silence

Construção do thriller

Goodall planta pequenas migalhas de pão suficientes para que, se alguém for astuto, notar que a trilha para o passado começa a se manifestar desde o início. Vemos Rosalind tomando algum tipo de pílula, escondendo isso de Will. Ouvimos seu padrasto Milton se gabar constantemente de seus dias no serviço de inteligência. Entretanto, quase como uma ameaça velada graças às nuances vocais que só Brian Cox pode trazer à tona.

Justamente, são as cenas com Brian Cox, como Milton, que levam The Bay of Silence para o próximo nível. Já absortos no thriller noir e na composição de mistérios, não apenas apreciamos as maquinações maníacas de Milton, graças ao desempenho de Cox, mas elas impulsionam a história e a causa e efeito reveladores dentro dela. 

Particularmente, a cena climática com Cox e Bang, mostra plenamente os talentos do designer de produção, Harry Ammerlaan. O design de um cômodo da casa de Milton fala por si, definindo personagens, fundindo o passado e o presente.

Pedaços de vidro e espelho, todos amarrados como sinos ao vento, são a perfeição, servindo metaforicamente como pedaços fraturados de personalidades. Pedaços de vida fraturadas. O reflexo enquanto eles se movem graças a uma brisa suave que entra por uma janela com a luz refletida em cada peça é lindo. 

Vale a pena assistir The Bay of Silence?

Um verdadeiro filme para aqueles que gostam de um trama lenta, que aos poucos desvenda um mistério com migalhas intrigantes. Olga Kurylenko surpreende você como uma mulher que cai na “loucura“. Claes Bang voa alto. Brian Cox é delicioso, estupendo de se assistir, mesmo quando, mais uma vez, atua como um personagem desprezível, assim como Logan Roy de Sucession.

A diretora traz um profissionalismo polido ao suspense lançado em 2020, mesmo que lhe falte o comando Hitchcockiano, que poderia ter dado à história outro olhar sobre o poder maligno do trauma enterrado. Um toque mais cheio de suspense. Ainda assim, é um prazer assistir aos atores e as locações europeias que acrescentam muito na atmosfera, criando um entretenimento adulto sólido o suficiente que funciona perfeitamente na tela.

O filme encontra-se disponível para encomenda na Apple TV;