Uma das coisas que eu mais gosto no trabalho do diretor Hsu Chien é a capacidade dele de pensar filmes criativos, divertidos e emocionantes. Ao assistir o novo longa dirigido por ele, “Um dia Cinco Estrelas”, me senti em uma terça-feira qualquer durante minha adolescência, sentado no sofá assistindo alguma comédia na sessão da tarde. Sabe aquele momento que você quer esquecer de tudo e simplesmente se divertir, passar um tempo gostoso? É isso que senti hoje.
Em “Um dia Cinco Estrelas” acompanhamos Pedro Paulo (Nabote), um homem de família, com sua esposa, sua filha, sua mãezinha querida … e o mozão. E no caso do mozão, estou me referindo ao seu Opala anos 70, que um dia foi de seu falecido pai. O carro que é como um filho para ele, se torna centro de um filme cheio de reviravoltas, situações engraçadas, perseguições policiais e acredite se quiser, até um parto. Tudo isso em busca de cinco estrelas de seus clientes.
Pedro Paulo precisa começar a trabalhar como motorista de aplicativo para poder pagar sua mãe, que deu o dinheiro de sua tão sonhada viagem para a Argentina para que eles pudessem arrumar o telhado. Se já não bastasse isso, ele ainda esquece do aniversário dela, e para tentar remediar o problema, se compromete a fazer uma festa com tudo que ela tem direito, churrasco argentino e uma ida ao SPA com a amiga. Claro que nada disso sai do jeito que ele imaginou. Ao mesmo tempo sua esposa luta para conseguir uma promoção no trabalho, e claro, as ações malucas de seu marido não ajudam em nada a vida dela, e tudo vira uma grande confusão.
A comédia reina, mas o drama faz o acabamento perfeito
A grande sacada desse filme é justamente ir até a beira do absurdo para extrair as mais hilárias situações. O grande motivo aqui é um só, fazer o espectador rir até não querer mais. Eu não esperava que fosse ser diferente tendo Estevam Nabote e Nanny People no elenco. Nanny é uma gênia da comédia, sabe entregar tudo quando está em cena. É uma atriz competente e iluminada em tudo que faz, e trabalha muito bem sob o olhar de Hsu Chien. Nabote por sua vez traz uma comédia atual, cheia de caricatura e aquele humor que mistura o doce com o ácido. E claro, preciso citar a presença de Danielle Winits poderosa como sempre.
Mas engana-se quem pensa que o filme é só besteirol. Existem situações profundas misturadas a comédia pastelão. A relação entre mãe e filho, que parece sempre estar a beira do colapso é um desses núcleos dramáticos. Por mais que o filho tente fazer tudo pela mãe, seus erros parecem sempre sobressair. Ali nasce um aprendizado muito interessante sobre como podemos buscar melhorar em função de quem amamos. E aceitar que as pessoas têm maneiras diferentes de amar e demonstrar isso. Pedro Paulo pode até ficar dividido entre seu carro e sua família, mas isso não significa que ele não os ama profundamente.
Alguns pontos me incomodaram, principalmente em relação as cenas externas. Fiquei com uma sensação de enclausuramento geográfico, como se o filme acontecesse sempre no mesmo lugar, dando voltas em si mesmo. Além disso, as cenas de perseguição policial deixaram a desejar, ficaram artificiais demais, sem emoção alguma.
Senti falta também de terem explorado um pouco mais a relação de Pedro Paulo com sua filha. Afinal de contas, se ele erra tanto como filho, como será a relação dele com a filha? Esses e alguns outros detalhes ficam soltos no roteiro, que em alguns momentos me pareceu uma colcha de retalhos, em que partes diferentes se juntam, e outras nem sequer aparecem. Mas são detalhes, que não minimizam em nada a obra.
Filme para toda a família!
Dessa forma, entre alguns erros e muitos acertos, esse com certeza é o tipo de filme que eu gosto de assistir com minha família. Gosto bastante de como Hsu escolhe mostrar o que ele idealizou em sua mente. Em como ele usa a câmera para nos dar intimidade com as cenas. Não é só uma questão estética, mas é uma maneira muito singular de fazer cinema, dando ao espectador a chance de se sentir parte daquilo ali. Por fim, “Um Dia Cinco Estrelas” chega aos cinemas no dia 6 de julho de 2023.
