Qual a versão de nós que deixamos nas pessoas que nos cercam, que nos amam? Somos seres em contínua mudança. Quando estamos com uma pessoa, ela tem a lembrança daquele momento, nós ficamos registrados naquela memória. Se nos distanciamos, forçadamente ou por obra do acaso, é aquela última versão que ficará na mente do outro. Mas será que se reencontrarmos tal pessoa, ela continuará a mesma? Será que mesmo após tantas mudanças, sua essência permanecerá intacta igual à da última vez que a vimos? Vidas Passadas está aí para nos fazer refletir sobre.
Vidas Passadas (Past Lives) foi indicado a 05 Globos de Ouro entre melhor filme, direção e roteiro. Recentemente foi indicado ao Oscar 2024 por Melhor Filme e Melhor Roteiro.
O filme é ambientado na Coreia do Sul e Estados Unidos, possuindo cenas nas duas línguas, embora a predominância seja em coreano. A produção explora temas como o amor na infância, a imigração e o impacto que ela tem na vida dos envolvidos. Além disso, aborda o significado do termo coreano “in-yun”.
A direção e o roteiro é de Celine Song, cineasta sul-coreana. Estrelam a produção Greta Lee (“The Morning Show” e “Boneca Russa”), Teo Yoo (“Love to Hate You” e “Money Game”) e John Magaro (“First Cow – A Primeira Vaca do Mundo” e “Crisis in Six Scenes”).
A produção possui 96% de aprovação da crítica especializada no Rotten Tomatoes e 84% de aprovação do público.
A história de Vidas Passadas
A produção gira em torno do romance de infância entre Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo). Eles eram colegas de classe em uma escola primária em Seul. Entretanto essa amizade termina abruptamente quando a família de Nora muda para o Canadá. Doze anos depois, Nora, virou uma estudante de dramaturgia em Nova York, e percebeu que Hae Sung está procurando por ela nas redes sociais. Dessa forma, eles se reconectam online, e começam a falar com frequência, pensando até em um reencontro. Entretanto, mais uma dúzia de anos se passaram antes que eles finalmente se encontrassem em alguns dias fatídicos durante sua visita a Nova York. Embora suas vidas tenham mudado dramaticamente, eles permanecem ligados por uma conexão melancólica.
Além disso temos a questão da imigração. A família de Nora decide sair de Seul em busca de uma vida melhor no Canadá. Eles acabam assumindo outra identidade, escolhem um novo nome, de modo a se enquadrar melhor à cultura do novo país.
O interessante é que, de fato, uma boa parte dessa história é igual à da diretora Celine Song. Ela nasceu na Coreia do Sul, e imigrou com os pais aos 12 anos para o Canadá. Um tempo depois, já adulta, mudou para os Estados Unidos, e se casou com um escritor.
Um filme com personagens normais e grande profundidade
Nora e Hae Song são personagens normais. A diretora conseguiu criar uma atmosfera que faz com que o espectador se sinta dentro do filme, consiga se comparar com os protagonistas e isso funciona tão perfeitamente, que você ri, chora, fica ansioso, confortado, tudo em um único filme e com cenas e ações dos personagens que são extremamente leves e profundas. Uma troca de olhares, um abraço, a ausência de falas, ou até mesmo o distanciamento proposital entre os personagens traz esse retrato de algo que pode acontecer com qualquer pessoa.
É impressionante a naturalidade e a delicadeza como Celine conta essa história de amor e drama. Quando ela introduz o conceito coreano de “in-yun“, que significa uma conexão pessoal que transcende vidas, certamente o espectador já espera um romance tradicional, feitos um para o outro. Ou seja, no filme é algo que iniciou na escola, na infância e que mesmo a distância não iria atrapalhar isso. Entretanto, a diretora prefere sair desse clichê para abordar o fato de que as pessoas mudam com o tempo. Como a identidade do ser é definido tanto neste momento, quanto pelo que já fomos.
A maturidade entre os envolvidos é algo muito importante também no filme. O marido de Celine é extremamente compreensível com a história do passado de Nora e como nós moldamos nosso presente de acordo com nossas escolhas. Nem tudo é sobre o amor perfeito, nem sempre essa conexão “in-yun” irá definir a vida das pessoas. A teoria do amor construído é totalmente válida na produção. Nem sempre vamos ficar com o amor da nossa vida, com a pessoa que é perfeita pra gente já de início. Às vezes precisamos de construir todo um amor com a pessoa com que estamos relacionando, com quem estamos gostando. Transformar a pessoa com quem estamos na pessoa ideal, no “amor real da sua vida”.
Atuações belíssimas e fotografia impecável
Não posso deixar de falar sobre a atuação perfeita dos três protagonistas. Eles conseguem expressar de forma sensacional o que estão sentindo em cada minuto do filme. Dá para perceber os olhares tristes, os felizes, os pequenos gestos que são muito importantes para que tudo funcione de forma perfeita.
Não existe ousadia ou cenas apelativas no filme. Ele é simples. Dessa forma, ele mostra o cotidiano de duas pessoas que se gostam, os problemas sentimentais, as questões mal resolvidas e as consequências das atitudes de cada personagem e tudo isso puxa o espectador para dentro da produção.
Tudo no filme contribui para que Vidas Passadas seja uma obra de arte. O foco das câmeras nos rostos dos personagens nos momentos especiais, utilizadas com maestria. Além disso, por se passar em mais de um país, há toda uma preocupação de mostrar e retratar bem os ambientes onde eles estão, as culturas locais, pontos turísticos, de modo a fortalecer a diferença das culturas também.
Vale a pena assistir “Vidas Passadas”?
Com toda a certeza possível, posso afirmar que Vidas Passadas é um filme para ser apreciado por todos. É aquele filme leve, que enche o seu coração de sentimentos bons, que te faz pensar sobre a sua vida, sobre a vida da personagem. É um filme que te faz refletir. Te tira da zona de conforto dos filmes românticos.
Não é à toa que houve muitas indicações para prêmios importantes e está concorrendo com grandes filmes que fizeram sucesso mundialmente. Certamente é um dos melhores filmes de romance/drama que já assisti.
Vidas Passadas estreia dia 25 de janeiro nos cinemas brasileiros.
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